O partido de um só
Folha de S. Paulo - 29/12/2009 Serra está em condições de dizer quando, como e se quer ir para as ruas como candidato; o que poderá fazer o PSDB? |
José Serra está em condições de dizer ao PSDB quando, como e se quer ir para as ruas como candidato. Isso pelo mesmo motivo que lhe permitiu derrubar o compromisso partidário de escolher o candidato em convenção, como tanto repetiram os dirigentes, ou em prévia, como Aécio Neves pretendeu, com razoável concordância inicial. O candidato natural do PSDB deve ser de São Paulo, e ponto. "Para o Serra não ficou alternativa, é definir ou definir, janeiro chegou, e chegou o momento", nas palavras de Tasso Jereissati, senador de cabeça paulista em corpo cearense, à repórter Isabela Martin. E, caso Serra entenda que janeiro chegou, fevereiro vai passar e só março é o mês conveniente à sua estratégia? O que poderá fazer o PSDB, entre curvar-se a ele mais uma vez ou contrariar a índole do partido despegar-se da candidatura Serra? A primeira hipótese já teve várias respostas factuais, dispensa considerações. A segunda sugere de imediato o nome Aécio Neves. Mas, em primeiro lugar, os sorrisos e gentilezas verbais têm iludido sobre a recepção a Aécio Neves pela cúpula do PSDB. A abertura do governador mineiro para o PT e o PSB, a cordialidade mútua mantida com Lula, sua política de governo e de pré-candidato conduzidas à margem da cúpula nacional do partido, essas e outras peculiaridades de Aécio Neves opõem-lhe resistências, silenciosas mas ativas, no alto PSDB. Além dessa distância em relação a Aécio Neves, e depois de tanto e tão expostamente favorecer Serra, recorrer ao desfavorecido, à falta de alternativa, seria um vexame atestado em cima de um diploma de incompetência dirigente e de debilidade partidária. Não é decisão que fique bem em outra convenção de três ou quatro, à volta de um vinho escolhido por Fernando Henrique e pago por Tasso Jereissati. A causa Resposta de José Genoino a Malu Delgado, sobre a escolha pessoal de Lula para a candidatura de Dilma Rousseff pelo PT: "A interlocução e o diálogo em torno do nome foi transparente, consensual, e não houve imposição". É o mensalão verbal. Demonstra a amplitude do cinismo como causa da crise do Congresso: dele é que derivam o empreguismo, os gastos abusivos, a ociosidade -e a desmoralização. Facistóide "Estudos Avançados" pressupõe, como expressão ou como nome de publicação periódica de uma universidade, a marcha do conhecimento e da prática para a frente, sempre. O recente número 67 da publicação de tal nome desmente o pressuposto, apesar dos dossiês "Crise do Congresso" e "Claude Lévi-Strauss", que proporcionam várias leituras excelentes. Quando se acentuou a indignação com a censura judicial ao "Estadão", e o próprio requerente da medida, Fernando Sarney, suplantou a Justiça e providenciou a extinção do policialismo, a censura é elevada a método de edição em "Estudos Avançados" (sic). Foram censuradas partes de dois trabalhos e censurado integralmente um outro, este do presidente do PPS, Roberto Freire. Os pormenores aumentam o pasmo com a censura cultural e política em um periódico editado por universidade, e logo a USP. O patrono e executante da censura é não só professor universitário mas também membro da Academia Brasileira de Letras: o imortal, agora com mais certeza disso, Alfredo Bosi. Tão convicto de sua medida, que não suportou mais, como editor, a presença do editor executivo já de muitos anos, Marco Antônio Coelho, demitido por ponderar contra os cortes. "Estudos Avançados" pelo método retrógrado, eis uma persistência a mais. |
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