Um ato de corrupção na administração pública, como suborno, só raramente não tem conexões comparsas COMO CONVÉM a um país sério, a regra se impõe. Outro bando de políticos e dirigentes é denunciado, exposto e moralmente condenado na sua venalidade, como convém. Mas, do outro lado, o dos subornadores, só aparecem de raspão três empresas de nomes, existência e fins comerciais obscuros. Como convém? Por certo, ou não seria assim. Mas por que ou a quê convém? Em toda a vasta corrupção, as beneficiárias formais são empresas. O benefício real, porém, é dos diretores e acionistas. Empresas jamais negociam, autorizam e pagam subornos, que são atos de pessoas. Já está admitido que o recém-descoberto mecanismo de corrupção no governo e na Câmara Distrital, em Brasília, atravessou os últimos cinco anos. Além do admitido, pode-se acrescentar até uns três anos, ainda que então faltassem vídeos, se faltaram. Nesses e em quaisquer anos, todo pagamento de suborno foi feito por motivo tão sórdido quanto o próprio suborno. Nenhum pagamento, porém, se fez com dinheiro legítimo da empresa subornadora, como ato benevolente. Há sempre alguma correspondência entre o que recebeu sem direito e o que paga como suborno. A corrupção é um crime em que nunca faltam duas faces. Se de apenas um pagador (Codeplan), segundo a denúncia do intermediário e seu ex-secretário Durval Barbosa, só o governador José Roberto Arruda recebeu mais de R$ 56 milhões, de que altos negócios veio essa quantia ou que altos negócios cobriram o buraco feito pela saída, para o suborno, do dinheiro empresarial? A relegada utilidade de questões assim não se limita à sua indagação imediata. Um ato de corrupção na administração pública, por suborno ou outra das variadas modalidades, só raramente não tem conexões comparsas. No atual caso, a diversidade ocupacional dos envolvidos demonstra bem as ramificações que se viabilizam e se protegem. Por que o dinheiro que vai parar nas meias de um deputado distrital ou no ventre de um dono jornal é idêntico, na procedência, ao posto no bolso de um ou mais secretários de governo, senão da sacola preferida pelo próprio governador? A identificação dos negócios originários da corrupção é de importância maior, porque o dinheiro que materializa as transações corruptas nos poderes públicos sai dos cofres públicos. É dinheiro recolhido da população. É dinheiro da nação, cuja finalidade legal é única: o interesse público.
Quando? Com tanto passado e presente para ser cético, não imagino que seja para o meu tempo, mas uma cena me parece possível em algum futuro. Simples e clara: quando um ministro duvidoso como esse Juca dito da Cultura vocifera para repórteres honestos -"Vocês são pagos para dizer mentira"-, receba ao menos uma das tantas reações apropriadas, imediatas ou não.
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