Memória da falência da UDN
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/12/09
BERLIM - O leitor é incapaz de imaginar o alívio de não ser mais obrigado a me indignar neste espaço seis dias por semana. Agora são só dois. O pior era ler que as críticas à corrupção no Brasil eram "udenismo". Não duvido que haja "udenismo" por aí, mas, no meu caso, é indignação mesmo -e tenho a leve sensação de que esteja super-híper-blaster justificada.
Por falar em "udenismo", meu colega de página Marcos Nobre, excelente analista por sinal, afirmou na sua coluna de terça que a política brasileira se "peemedebizou".
Não acho não, caro Marcos. A corrupção política no Brasil antecede de muito o PMDB e até o MDB, a versão supostamente mais autêntica que o precedeu.
"Udenismo" é um elogio ou acusação, dependendo de quem o usa, derivado do ataque frontal da União Democrática Nacional ao governo Getúlio Vargas a partir de 1950. "Mar de lama" era a expressão que mais se usava. Nem importa se a expressão correspondia aos fatos ou não. A percepção era tão forte que o presidente se suicidou.
Pouco depois, veio o golpe de 1964, que usou como pretexto não apenas o combate "à subversão" mas também à corrupção -sinal óbvio de que a percepção de corrupção era suficientemente forte para ser usada como uma espécie de habeas corpus para o golpe.
A ditadura pareceu ter sido menos afetada pela corrupção apenas porque a censura bania boa parte do noticiário a respeito. Volta a democracia e o PT, o partido que posava de vestal, uma espécie de UDN supostamente de esquerda, "fez o que todo mundo faz", segundo seu presidente de honra, um certo Luiz Inácio Lula da Silva.
Fez "caixa dois", coisa de bandido, como ensinou o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Tudo somado, cabe à perfeição o grito "se gritar pega ladrão, não sobra um, meu irmão". Nem as UDNs de hoje ou de ontem. Que país.
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