segunda-feira, novembro 16, 2009

RUBEM DE FREITAS NOVAES

Perda de tempo!

O GLOBO - 16/11/09


“É comendo que se prova o pudim” (“The proof of the pudding is in the eating”) tem sido a frase síntese de toda uma metodologia positiva aplicada às ciências sociais, especialmente à economia. Em poucas e singelas palavras, exprime a ideia de que teorias, ou mesmo simples argumentações, têm de passar pela confirmação prática para ganhar respeitabilidade e se firmar no campo intelectual, não bastando estar fundadas em pressupostos logicamente estabelecidos e corretos.

No debate das ideias ao longo da História, o grande aliado do liberalismo, ao se opor ao socialismo, tem sido o confronto que se faz entre desempenhos de países passíveis de comparação entre si. O socialismo ideal, com seu eloquente apelo à solidariedade, parece vencer a disputa por mentes e corações de nossos jovens até que se esbarra na comprovação factual, onde o socialismo real se apequena. Como não admitir o melhor desempenho, em termos de liberdade e prosperidade, de Alemanha Ocidental versus Alemanha Oriental, de Coreia do Sul versus Correia do Norte, dos EUA versus URSS? Assim, cidadãos, ao avançarem na experiência de vida e no conhecimento histórico, passariam a olhar com outros olhos para as teses liberais, justificando Roberto Campos quando qualificava de canalhas os indivíduos que não tivessem manifestado simpatias pelo socialismo na juventude; e de idiotas aqueles que mantivessem o credo intacto na idade adulta.

Mas a discussão não poderia parar aí, naturalmente. Liberdade e desempenho econômico não esgotam o rol de fatores a serem considerados na argumentação dialética e a busca de maior equidade, consubstanciada na formação de uma rede de proteção social, teria de ser sopesada contra os melhores resultados do capitalismo.

É aí que surge a variante definitiva do “teste do pudim”: o “teste da fronteira”.

Para onde migram, ou fogem, os cidadãos? São os cubanos da Flórida que se dirigem a Cuba, ou são os cubanos da Ilha que se arriscam aos tubarões para chegar ao extremo Sul dos EUA? Quem tentava saltar o Muro de Berlim para o outro lado, com elevado risco de morte? Alemães ocidentais ou orientais? Das perguntas surge a resposta definitiva da preferência efetivamente revelada, para a qual não cabe contestação.

Acabamos de comemorar 20 anos da queda do Muro de Berlim num momento em que Chávez, da Venezuela, e outros governantes latinoamericanos flertam com um “socialismo bolivariano do século XXI”, procurando recriar, aqui neste pedaço de mundo, o que já deu errado alhures. O autoritarismo e a desorganização econômica já dão mostras fortes de sua presença em países vizinhos, como sói acontecer quando saímos da teoria e entramos na prática dos regimes socialistas. Não podemos perder de vista, neste momento, o significado da queda do muro e o exemplo daqueles que se sacrificaram tentando fugir da Alemanha socialista. Vamos pular fora desta vanguarda do atraso cucaracha!

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