Os locais reservados para senadores e deputados tomarem café propiciam uma das imagens mais fantasmagóricas de Brasília. As enormes vidraças do edifício permitem observar vasto gramado em frente ao Congresso. É um local quase sempre vazio, sem vida e pouco hospitaleiro. Neste ano, mais de 90 escândalos foram registrados no Congresso. Ninguém foi punido. Deputados e senadores continuaram a entrar e a sair do local sem serem admoestados, com as exceções de praxe. Nos últimos tempos, passeatas de protesto quase simétricas chamaram a atenção. Os jornalistas Filipe Coutinho e Rodrigo Haidar mataram a charada. Não havia ocorrido um súbito aumento da indignação cívica. A balbúrdia cronometrada era fruto dos novos serviços prestados por uma empresa de Brasília: manifestantes profissionais "alugados" por R$ 40 cada. Uma explicação para essa apatia nacional a respeito de como se comportam as instituições está no resultado da pesquisa do Datafolha sobre ética e corrupção, publicada ontem. Expressivos 83% dos brasileiros admitem já ter cometido algum desvio de comportamento -dos mais banais, como estacionar em fila dupla, até vender o voto durante o período eleitoral. Formou-se um círculo vicioso nefando. O exemplo completo é o da venda de voto. O brasileiro parece admitir esse desvio sob a alegação de perda de confiança nos políticos. Dentro do poder, ao mesmo tempo, praticam-se estripulias com a certeza de uma reação apenas anêmica dos eleitores. É possível argumentar a favor do Brasil citando o pouco tempo de vivência democrática. São menos de 25 anos desde o final da ditadura militar. Hoje, se as instituições não são perfeitas, é necessário admitir muitos avanços. OK. Mas o gramado vazio em frente ao Congresso não deixa de produzir uma horrorosa sensação de desolação. |
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