SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/10/09
Ajudando, com o Instituto Ayrton Senna, a dar mais qualidade à educação, Viviane Senna avisa: escola pública não foca o resultado
Depois da morte do irmão, Viviane Senna pensou que a Fórmula 1 nunca mais faria parte de sua vida. Estava enganada. Desde que seu filho Bruno entrou no circo da velocidade, há cinco anos, ela não só voltou a assistir corridas como passou a participar ativamente das negociações com escuderias e patrocinadores. Apesar da apreensão, sempre que o caçula entra no carro fica comovida com os olhos dele por trás da viseira - são idênticos aos de Ayrton.
Fora das pistas, Viviane comanda uma das mais bem sucedidas organizações sociais do país, o Instituto Ayrton Senna, que desde 1994 ajudou a capacitar 468.483 educadores. A irmã do piloto mais querido - e bem sucedido - do automobilismo brasileiro usa ferramentas do mundo corporativo para administrar sua ONG. Que em 15 anos movimentou R$ 183,5 milhões, investidos em 1.372 municípios de 25 Estados. E no qual descobriu que a cultura pública "não é como a empresarial, que trabalha com foco".
A psicóloga junguiana, mãe de outros dois filhos, mais uma vez homenageia o irmão e autografa, dia 13, na Livraria da Vila do Cidade Jardim, o livro Ayrton Senna-uma lenda a toda velocidade, de Christopher Hilton.
Seu marido morreu em um acidente de moto e o Ayrton, na pista. Agora seu filho, o Bruno, é piloto. Você fica apreensiva?
Ajudando, com o Instituto Ayrton Senna, a dar mais qualidade à educação, Viviane Senna avisa: escola pública não foca o resultado
Depois da morte do irmão, Viviane Senna pensou que a Fórmula 1 nunca mais faria parte de sua vida. Estava enganada. Desde que seu filho Bruno entrou no circo da velocidade, há cinco anos, ela não só voltou a assistir corridas como passou a participar ativamente das negociações com escuderias e patrocinadores. Apesar da apreensão, sempre que o caçula entra no carro fica comovida com os olhos dele por trás da viseira - são idênticos aos de Ayrton.
Fora das pistas, Viviane comanda uma das mais bem sucedidas organizações sociais do país, o Instituto Ayrton Senna, que desde 1994 ajudou a capacitar 468.483 educadores. A irmã do piloto mais querido - e bem sucedido - do automobilismo brasileiro usa ferramentas do mundo corporativo para administrar sua ONG. Que em 15 anos movimentou R$ 183,5 milhões, investidos em 1.372 municípios de 25 Estados. E no qual descobriu que a cultura pública "não é como a empresarial, que trabalha com foco".
A psicóloga junguiana, mãe de outros dois filhos, mais uma vez homenageia o irmão e autografa, dia 13, na Livraria da Vila do Cidade Jardim, o livro Ayrton Senna-uma lenda a toda velocidade, de Christopher Hilton.
Seu marido morreu em um acidente de moto e o Ayrton, na pista. Agora seu filho, o Bruno, é piloto. Você fica apreensiva?
Minha relação com o automobilismo não é amistosa. Quando o Bruno decidiu que seria piloto, tentei enrolá-lo por dois anos. Achei que podia ser fogo de palha, mas não era. Ele começou a correr há cinco anos, foi tudo muito rápido. Tinha 18 quando falou comigo pela primeira vez. Disse que o sonho da vida dele era correr.
Foi uma surpresa?
Sem dúvida. Bruno não falava sobre isso desde o acidente do Ayrton, quando ele tinha 10 anos. Quando me contou que queria ser piloto, achei que isso poderia passar. Não passou. Não adiantou eu insistir para ser jornalista, engenheiro, chefe de equipe... (risos).
Como foi essa trajetória?
Em quatro anos o Bruno chegou onde outros precisam de 15 para chegar. Começou no kart, mas como é alto e magro vivia quebrando a costela e cada vez ficava dois meses parado. Chegou a quebrar seis costelas em um ano. Aí o (Gerhard) Berger disse que o Bruno não podia andar de kart porque não desenvolveu musculatura. No dia seguinte ele arrumou um teste na BMW.
E a Fórmula 1?
Estávamos com um contrato da Honda na mão, de três anos. Aí veio a crise mundial e eles saíram da Fórmula 1. Se tivessem ficado, o Bruno estaria correndo.
Vai ser feito um filme sobre Ayrton?
Demorou três anos para aprovarmos, mas agora ele vai sair, pela produtora americana Working Title. Um documentário, com estreia em 2010. A Warner ia fazer, com o Banderas no papel dele. Ele queria muito o papel. Veio aqui, no escritório, convencer a gente.
Por quê não deu certo?
A Warner queria 100% da decisão final. Não quisemos dar essa liberdade total e ficar sem o menor controle do que vai sair. Ficamos dois anos negociando. O Banderas ficou superfrustrado. Outro dia ele ligou e disse que agora está muito velho para fazer o Ayrton (risos).
Depois do acidente com o Felipe Massa, falou-se muito de como a morte do Ayrton levou a uma mudança de paradigma na segurança da F-1...
Mudou sim. A própria pista mudou. A cabeça não fica mais para fora, antes ficava. O Bruno diz que não vê a ponta do carro. Ele mesmo já teve um acidente feio, na F-3.
Como você faz para administrar tanta gente e tanto dinheiro no instituto?
A gente funciona como uma empresa. A diferença é que produzimos gente de qualidade.
O que faz o instituto?
Trabalhamos muito com escolas públicas, ajudamos governadores e prefeitos a melhorar a qualidade da educação. Fazemos diagnóstico e combinamos as intervenções necessárias. Fazemos capacitação de equipes usando uma linha de gestão.
Que tipo de problema existe na área?
O problema é a gestão. A escola pública é pouco eficiente porque não tem foco no resultado. A cultura pública não é como a empresarial, que trabalha com foco e meta. Queremos trazer a cultura empresarial para dentro da área pública. O setor público precisa da lógica do setor privado. Uma escola é uma fábrica de crianças.
O poder público está perdendo a guerra da educação?
De cada dez crianças que entram na primeira série, só cinco saem no final da oitava. E só três no final do ensino médio. Entre a 1º e o 3°ano do ensino médio, perdemos 70% das crianças.
Você é a favor da aprovação automática?
Ela não consegue, sozinha, resolver o problema da repetência. A qualidade da escola é muito ruim. A taxa de sobrevivência escolar é de 30%. Perguntei para médicos se existe alguma doença com índice de letalidade como esse. Não existe. É como se só 30% dos pacientes de um hospital sobrevivessem. Um indice absurdo.
Já pensou em fazer política?
Me ofereceram vários cargos; de deputada até ministra. Nunca quis. Não confundo o público com o governamental. E, pelo estatuto, não posso ter vínculo com partidos.
Foi uma surpresa?
Sem dúvida. Bruno não falava sobre isso desde o acidente do Ayrton, quando ele tinha 10 anos. Quando me contou que queria ser piloto, achei que isso poderia passar. Não passou. Não adiantou eu insistir para ser jornalista, engenheiro, chefe de equipe... (risos).
Como foi essa trajetória?
Em quatro anos o Bruno chegou onde outros precisam de 15 para chegar. Começou no kart, mas como é alto e magro vivia quebrando a costela e cada vez ficava dois meses parado. Chegou a quebrar seis costelas em um ano. Aí o (Gerhard) Berger disse que o Bruno não podia andar de kart porque não desenvolveu musculatura. No dia seguinte ele arrumou um teste na BMW.
E a Fórmula 1?
Estávamos com um contrato da Honda na mão, de três anos. Aí veio a crise mundial e eles saíram da Fórmula 1. Se tivessem ficado, o Bruno estaria correndo.
Vai ser feito um filme sobre Ayrton?
Demorou três anos para aprovarmos, mas agora ele vai sair, pela produtora americana Working Title. Um documentário, com estreia em 2010. A Warner ia fazer, com o Banderas no papel dele. Ele queria muito o papel. Veio aqui, no escritório, convencer a gente.
Por quê não deu certo?
A Warner queria 100% da decisão final. Não quisemos dar essa liberdade total e ficar sem o menor controle do que vai sair. Ficamos dois anos negociando. O Banderas ficou superfrustrado. Outro dia ele ligou e disse que agora está muito velho para fazer o Ayrton (risos).
Depois do acidente com o Felipe Massa, falou-se muito de como a morte do Ayrton levou a uma mudança de paradigma na segurança da F-1...
Mudou sim. A própria pista mudou. A cabeça não fica mais para fora, antes ficava. O Bruno diz que não vê a ponta do carro. Ele mesmo já teve um acidente feio, na F-3.
Como você faz para administrar tanta gente e tanto dinheiro no instituto?
A gente funciona como uma empresa. A diferença é que produzimos gente de qualidade.
O que faz o instituto?
Trabalhamos muito com escolas públicas, ajudamos governadores e prefeitos a melhorar a qualidade da educação. Fazemos diagnóstico e combinamos as intervenções necessárias. Fazemos capacitação de equipes usando uma linha de gestão.
Que tipo de problema existe na área?
O problema é a gestão. A escola pública é pouco eficiente porque não tem foco no resultado. A cultura pública não é como a empresarial, que trabalha com foco e meta. Queremos trazer a cultura empresarial para dentro da área pública. O setor público precisa da lógica do setor privado. Uma escola é uma fábrica de crianças.
O poder público está perdendo a guerra da educação?
De cada dez crianças que entram na primeira série, só cinco saem no final da oitava. E só três no final do ensino médio. Entre a 1º e o 3°ano do ensino médio, perdemos 70% das crianças.
Você é a favor da aprovação automática?
Ela não consegue, sozinha, resolver o problema da repetência. A qualidade da escola é muito ruim. A taxa de sobrevivência escolar é de 30%. Perguntei para médicos se existe alguma doença com índice de letalidade como esse. Não existe. É como se só 30% dos pacientes de um hospital sobrevivessem. Um indice absurdo.
Já pensou em fazer política?
Me ofereceram vários cargos; de deputada até ministra. Nunca quis. Não confundo o público com o governamental. E, pelo estatuto, não posso ter vínculo com partidos.
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