Além de ter óbvio apelo ecológico, a candidatura presidencial de Marina Silva parece contar com uma espécie de combustível ético, como se viesse galvanizar uma insatisfação difusa de setores da sociedade diante das extravagâncias patrocinadas pela turma de Lula em nome do pragmatismo. Marina seria uma representante da energia limpa contra a fuligem produzida pela política petista, da farra do mensalão à defesa de Sarney e sua camarilha. É sobre o desmatamento moral promovido pelo lulismo que o mantra do desenvolvimento sustentável encontra terreno propício para vicejar. Fernando Gabeira resumiu isso numa frase: a senadora poderá ser a depositária do "voto do sonho". Há em torno dela, de fato, certa aura de rousseaunismo, o mito do bom selvagem que se ergue contra a marcha cega do progresso e seu cortejo de injustiças. Lula, a seu modo, ocupou esse lugar simbólico um dia. Bastaria evocar essa memória para manter reservas em relação à nova utopia ecoética que nasce de mais uma costela do PT. Além do mais, e sem trocadilhos, o PV não é nenhuma flor que se cheire. Seu comportamento, muitas vezes, é mais próprio das legendas nanicas de aluguel do que daquelas minorias aguerridas que defendem a unhas a sua trincheira ideológica. Não parece ser nem entre os povos da floresta nem na massa de espoliados a quem Lula dá de comer que Marina tende a colher seus frutos. A reparação histórica que ela vocaliza é música que toca nos bares da Vila Madalena ou no Baixo Gávea, seduzindo parte da classe média progressista e sensível. Que a candidata dessa esquerda órfã de ideais seja também uma evangélica com restrições ao aborto e à pesquisa com células-tronco soa como um sintoma gritante de uma época confusa, em que progresso e regressão social andam misturados. Não é à toa que Marina procure se manter equidistante de PT e PSDB, esses inimigos que são dela e entre si tão diferentes, mas tão iguais. |
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