SAÚDE MASCULINA
Polêmica na prevenção do câncer de próstata
Novos estudos divulgados na última semana reacenderam a polêmica sobre a prevenção e o diagnóstico de câncer de próstata, mostra reportagem de Antônio Marinho no GLOBO deste domingo. Segundo as pesquisas, duas delas publicadas na revista "British Medical Journal" (BMJ), não existem provas convincentes de que o rastreamento com dosagem de PSA no sangue (o antígeno específico da próstata, um marcador da doença) reduza o índice de mortes pelo câncer. Outro artigo, na revista "Arquivos de Medicina Interna", da Associação Americana de Medicina, afirma que os homens não participam das decisões a respeito desse assunto e são desinformados sobre os riscos e benefícios de exames como toque retal e PSA. Para os autores dos artigos, é preciso discutir mais com os pacientes os critérios para diagnosticar a doença.
Exames não mostraram, até o momento, sucesso em reduzir a mortalidade
Já no ano passado, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) dissera não existir base sólida científica para recomendar o toque retal e o PSA. Para o instituto, esses exames não mostraram, até o momento, sucesso em reduzir a mortalidade, ou seja, não vale a pena recomendá-los como uma política de saúde pública para homens sem sintomas. E levam a muitas cirurgias desnecessárias, com prejuízos financeiros e à qualidade de vida. É o que pensa a maioria dos países. Isso porque o toque retal só detecta tumores em fase avançada e não se tem certeza do impacto do PSA na diminuição do número de óbitos. Diante dos novos estudos, o Inca mantém sua posição, a mesma da OMS.
Nos Estados Unidos, a maioria dos homens acima de 50 anos faz PSA. Porém, especialistas afirmam que esta prática é controversa, devido às incertezas dos benefícios e aos conhecidos riscos dos tratamentos. A decisão a respeito de submeter ao screening, dizem os pesquisadores, deveria levar em conta a opinião dos pacientes, algo que nem sempre acontece.
Nos estudos na "BMJ", os autores comentam que o teste de PSA não pode, por exemplo, identificar um tumor letal. Num deles, pesquisadores suecos da Universidade de Umea usaram os resultados dos testes de PSA de 540 homens diagnosticados com câncer de próstata investigados anos antes do diagnóstico e de um grupo de 1.034 saudáveis. Eles descobriram que o teste de PSA não foi decisivo como método de triagem. No outro, cientistas americanos de diversos centros, incluindo as universidades de Harvard e Boston, chegaram à mesma conclusão, e citam o excesso de falsos positivos. Nessa edição a revista britânica publicou um editorial que não aconselha o PSA.
Nenhum país do mundo indica toque retal como método de triagem
Também um estudo, mês passado, na revista do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, confirmou que o rastreamento de rotina para câncer de próstata resultou em mais de um milhão de americanos diagnosticados com tumores que poderiam não ter evoluído. A conclusão é que é necessário investigar melhor biomarcadores para detectar a doença antes de indicá-los.
Na revisão de exames de PSA, pesquisadores americanos afirmam que os dados sobre danos e benefícios desses exames ainda são insuficientes para sustentar a triagem populacional. Acrescentam que os custos financeiros e psicológicos de resultados falso-positivos, o excesso de diagnósticos e de tratamentos de próstata devem ser avaliados com maior precisão. Todas as opções implicam algum dano, como incontinência e disfunção erétil.
O Inca segue o que recomendam os artigos indexados. O que não significa que o paciente deve deixar de discutir com o seu médico a necessidade dos testes.
- Uma coisa é a consulta com seu médico, no qual ele sugere ou não o PSA, o toque retal e biópsia. Outra é aplicar isso como política pública, como se faz com a mamografia e o exame de Papanicolau. Nenhum país do mundo indica toque retal como método de triagem populacional. Ele faz parte do exame físico - diz José Eduardo Couto Castro, coordenador geral de assistência do Inca.
No Brasil, o número de casos novos de câncer de próstata é de 49.530 (estimativa de 2008, segundo o Inca). Depois dos tumores de pele, ele é o mais comum em todas as regiões do país entre os homens.
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