As lágrimas de Lula, Serginho e Dudu
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/09
Lula acha que foi ele, claro, mas não é o único. Temos também Serginho, o governador, e Dudu, o prefeito, todos achando que foi a emoção -olha ela aí de novo-, o coração e a garra dos brasileiros (depois das deles, claro) que contribuíram para o resultado em Copenhague. E por falar nisso, será que o prefeito e o governador não poderiam ter comprado duas passagens para não fazer o vexame de pedir o avião de um empresário emprestado? Em Brasília, se uma autoridade pega uma carona num jatinho, já dá CPI.
A comemoração pode e vai durar todo o fim de semana, claro; mas, a partir de segunda- -feira, nossos governantes têm que pensar em outra coisa além da Olimpíada. Não é porque ganhamos que vamos nos esquecer dos problemas que continuam atormentando os cariocas, como bem disseram os espanhóis, apesar de não deverem. E não são os sorrisos de felicidade dos comentaristas de televisão que vão nos fazer esquecer de nossas mazelas.
Pensem bem: a que vão se dedicar nosso governador e nosso prefeito quando chegarem ao Rio, além da Olimpíada? À reeleição, é claro, para estarem nos lugares de honra em 2016 e serem admirados pelo mundo.
Mas é um perigo o excesso de ufanismo, o excesso de nacionalismo; nenhum país foi mais nacionalista do que a Alemanha, nos anos 30.
Vamos amar nosso país, se possível até aprender a letra inteira do Hino Nacional, mas convenhamos: dizer, ao saber do resultado em Copenhague, que poderia morrer naquela hora, de tanta felicidade, foi um certo exagero. Um enorme exagero, eu diria.
E, como logo que nossas autoridades voltarem começarão os preparativos para 2016 -serão vários bilhões de investimento- e o Rio vai virar um canteiro de obras, uma séria e permanente fiscalização será fundamental para que não se repita o que aconteceu com as obras do Pan e da Cidade da Música, isto é: o orçamento triplicar. O prefeito Eduardo Paes, que é cria de Cesar Maia, deve se lembrar disso.
O Rio ganhou, estamos todos felizes, tendo um novo Carnaval em outubro, ano que vem tem Copa do Mundo, eleições, o país não poderia estar mais animado; mas chega de tanta emoção -está aí a emoção de novo- e de tantas lágrimas. É muito bom ganhar, mas é bom lembrar que se trata apenas de uma Olimpíada.
E lembrar que, depois da Olimpíada, a vida continua.
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