sábado, outubro 03, 2009

CLÓVIS ROSSI

De armas e curiosidades

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/09

ESTOCOLMO - É curioso, muito curioso, como difere a percepção de uma mesma disputa conforme o país de que estamos falando.
Pelo relato da coluna de Nelson de Sá de ontem, o site norte-americano Politico previa problemas para Barack Obama não se Chicago perdesse a indicação, como perdeu, mas se ganhasse.
Dizia: "Um resultado positivo em Copenhague pode armar seus opositores com munição para mais de seis anos" devido à explosão de custos, controvérsias e atrasos que marcaram os Jogos no passado.
Já no Brasil, e particularmente no Rio de Janeiro, há até feriado, como se explosão de custos, controvérsias e atrasos fossem características exclusivas dos Estados Unidos e nunca ocorressem no Brasil.
Por falar em explosão de custos, o "Financial Times" de ontem informa que os gastos do Rio com as obras para a Olimpíada de 2016 serão dez vezes superiores aos orçados para a derrotada Chicago.
Para tocar no outro ponto que Janio de Freitas analisou ontem impecavelmente, o SFO, escritório britânico de investigação de grandes fraudes, está de olho na BAE Systems, fabricante de equipamentos militares, por suspeita de ter pago propinas a meia dúzia de países.
Entre eles, a Arábia Saudita, que gastou 43 bilhões (quase R$ 130 bilhões) em compras de aviões militares Tornado, além de outros equipamentos.
Não, o Brasil não está na lista dos países que foram às compras na BAE, mas o Chile de Pinochet esteve. O general teria recebido uma propina de 1 milhão.
De novo, como no caso da Olimpíada, tem-se que acreditar que o Brasil é um caso à parte nesse obscuro universo dos negócios com armas, em que tudo se faz limpamente e de forma transparente.
Será que a Dassault, a que venderá os Rafale ao Brasil, é feita de material diferente da BAE?

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