quarta-feira, setembro 09, 2009

RUY CASTRO

Babette vai à guerra

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/09/09

RIO DE JANEIRO - Em 1959, os franceses fizeram um filme, "Babette Vai à Guerra", em que Brigitte Bardot vive uma jovem camareira de bordel, contratada pelos Aliados para se fazer passar pela ex-amante de um general alemão na França ocupada. Um agente da Gestapo descobre sua identidade, mas não a impede de continuar espionando o general, que eles suspeitam integrar um complô contra Hitler.
A graça do filme estava em que, pela primeira vez, Brigitte não ficava pelada em cena, e só restava à plateia imaginar o que se escondia sob aquelas fardas de soldado e paraquedista. Havia também o fato de Brigitte, que até então ninguém acusara de atriz, estar representando um papel "sério".
Os franceses devem ter se lembrado de "Babette" ao fechar a venda para o Brasil de 36 aviões de combate, a fabricação de 50 helicópteros de transporte e a parceria na construção de uma base naval, um estaleiro e cinco submarinos, um deles nuclear, pelo módico preço de R$ 31 bilhões. Para realçar seu papel "sério" na parceria, o Brasil não precisará ficar pelado em cena. De tanga, talvez.
Lula justificou a transação, que já se discutia havia 11 anos, como necessária para proteger as reservas de petróleo na camada do pré-sal, descobertas apenas outro dia, e as riquezas da Amazônia. Pelo visto, logo teremos enxames de caças e submarinos varejando o Rio e a bacia amazônica. Era bonitinho também ver Brigitte descendo de paraquedas em meio aos coturnos e capacetes alemães.
A parceria inclui transferência de tecnologia francesa para o Brasil. Espera-se que, no pacote, venham instruções para aperfeiçoar o funcionamento da churrasqueira do Alvorada, cujo fiasco privou o presidente Nicolas Sarkozy de saborear as alcatras, picanhas e maminhas em que, aí, sim, somos craques.

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