domingo, setembro 13, 2009

FERNANDO CALAZANS

Desamores

O GLOBO - 13/09/09

Há reclamações de leitores e torcedores (mais torcedores, é claro, do que leitores) contra aquilo que seria, digamos, uma certa implicância de críticos do Rio com o futebol do Rio. Há torcedores, mais extremados, que fazem comparações entre Rio e São Paulo. Para estes, a crônica de São Paulo bota o futebol de São Paulo pra cima, enquanto a crônica do Rio bota o futebol do Rio pra baixo.
Bem, o que existe de bairrismo — de um lado e de outro — vamos botar para o lado de fora da questão.
Para princípio de conversa, caros torcedores, basta ver os títulos do Campeonato Brasileiro neste século XXI em que foram disputadas nove edições. Os paulistas têm seis títulos, os cariocas têm apenas um.
Um título só dos cariocas, conquistado logo no primeiro ano do século — e depois mais nada. Conquistado pelo Vasco, que hoje anda... por onde anda o Vasco?... ah, anda na Segunda Divisão.

Qualquer pessoa medianamente sensata há de convir que a crônica de São Paulo tem mais o que elogiar do que a crônica do Rio. Sem comparação. Quer dizer que eu também sou admirador do futebol paulista? Sou nada. Nem mesmo deste futebol hexacampeão brasileiro no século XXI.

Até lastimo que o futebol paulista, que já me mostrara algumas das equipes mais primorosas e encantadoras deste país, tenha sabido copiar tão bem, e cada vez mais nos últimos anos, alguns pecados do futebol gaúcho que, apresso-me a ressaltar, sempre teve coisa muito boa, e ainda tem.

Mas houve uma época em que críticos de São Paulo e do Rio faziam cara feia para o que chamavam de estilo gaúcho.
Foi esse estilo, que antes enfeava caras do eixo Rio-São Paulo, que passou a ser admitido e admirado no futebol paulista, a tal ponto que, há algum tempo, por exemplo, não pode surgir um técnico no Rio Grande do Sul que logo ele é convidado a conhecer a maior cidade do Brasil.

Parêntese, só para esclarecer: nenhum preconceito bairrista, nenhum, pois — até aqui — aprecio de longe, e bastante, o trabalho de Mano Menezes. Fecha.
O futebol paulista também se desvirtuou. As equipes encantadoras ficaram pra trás, por variados motivos. O São Paulo dos anos 50; o Santos dos anos 50 e 60; a famosíssima Academia do Palmeiras; o Corinthians da Democracia; o São Paulo do Telê; o Palmeiras do professor doutor Luxemburgo; o Corinthians dele também; o Santos de 2002. Entre outras.

Mas não era do futebol do Rio que eu ia falar? Se, como vocês estão vendo, não morro de amores pelo futebol paulista, e até me espanto também com o entusiasmo juvenil de parte da imprensa de lá, pergunto: como é que vocês querem que eu morra por este futebol carioca daqui? Como querem que o elogie?
Pensando bem, preciso mesmo falar do futebol do Rio? Tenho quase certeza de que não preciso. Sabem por quê? Porque o clássico carioca de hoje fala por mim. Infelizmente. Qualquer crítico carioca gostaria de falar maravilhas do futebol do Rio. É melhor, é mais agradável, é mais simpático. Mas como falar bem do futebol do Rio com este clássico de hoje, entre o décimo-oitavo e o último colocado da competição?

O jogo fala por mim e, lendo a reportagem de Fábio Juppa com Gérson, Carlos Alberto Torres e Paulo César Caju, vocês vão ver que eles também falam por mim — e falam com a autoridade de craques que defenderam os dois clubes, o Fluminense e o Botafogo.
E falam eles, e falamos nós da imprensa, com a única intenção de despertar uma reação nos clubes do Rio. Mais do que isso, despertar uma revolução!

Não precisam voltar a ser times encantadores como foram um dia, mas que tenham, ao menos, a competência e a competitividade dos campeões do futebol paulista, mesmo que por estes, como vocês sabem, eu não morra de amores.

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