O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/09/09
Saiu o PIB do segundo trimestre, um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. Voltamos ao nível do início de 2008. Era esperado porque os indicadores mensais mostravam aumento do consumo e recuperação industrial. É sinal de descolamento dos países ricos, que ainda tentam sair da recessão.
Então, viva o PIB. Mas não o viva entusiasmado do presidente, para quem a recessão brasileira foi obra dos jornais, que assustaram o povo com manchetes terroristas. Lula prefere esquecer que jornais refletem fatos e o fato era que a economia brasileira acompanhou a recessão mundial por dois meses. Foi atingida, sim, pela crise financeira, escassez de crédito e a retração do mercado mundial.
O PIB despencou, o desemprego assustou. A coisa ficou feia. Não foi marolinha, foi uma onda gigante. Só não foi pior porque o governo, presidido por ele, que já havia armado algumas defesas, ergueu barreiras fiscais, monetárias e tributárias.
O resultado está aí. A economia brasileira voltou a crescer. Quase 2% no segundo trimestre, puxado pelo consumo das famílias, que foi estimulado pela redução de impostos, aumento da renda (salário mínimo, salário família), inflação retraída, juros em recuo e crédito fácil. Resumindo, a ação do governo, que tardou lá fora, foi urgente e imediata aqui.
VAI CONTINUAR ASSIM?
Essa é a questão. O governo vai manter a mesma política por algum tempo ou pretende alterá-la, considerando que as medidas já surtiram. Henrique Meirelles, do Banco Central, diz que ainda não é a hora de mudar. O ministro da Fazenda acha que sim.
Aqui, o risco. Risco que merece um alerta. Sabem qual? Até agora o presidente e a equipe econômica têm se mantido unidos. Agora, porém, há sinais de discordância, que pode pôr em risco o resultado obtido.
Os economistas do governo querem manter o estímulo ao consumo, sim, mas, em salas fechadas, temem o excesso de gastos públicos, de difícil reversão, quando a crise passar, em detrimento de investimentos produtivos. Em última instância, isso levará o BC a aumentar a taxa de juros, com seus efeitos negativos sobre o crescimento. Já se fala abertamente disso entre os analistas financeiros e a opinião que ganha corpo a cada dia é que ele existe, sim.
PODE GASTAR, SIM, MAS...
Há espaço ainda para gastar, mesmo porque temos superávit e a receita deve aumentar com o crescimento da economia. Mas ele vem encolhendo, dizem os analistas. E isso só tende a se agravar com a proximidade da campanha eleitoral.
Os economistas mais lúcidos do governo temem os exageros e querem seletividade e moderação nos gastos. O presidente, não. Talvez esteja entusiasmado demais com o êxito obtido até agora na luta contra a recessão, esquecendo que isso só foi possível porque ouviu os que agora sugerem moderação .
O problema não é só gastar o que não tem, não é só se endividar, mas fazer gastos improdutivos, que não geram produção, emprego, consumo...
O economista Felipe Salto, da Tendências, analisou com a coluna os dados do IBGE e faz observações que mostram um quadro no mínimo delicado na política fiscal. São números oficiais, de um órgão de estatística confiável do governo.
"O significativo avanço do PIB do segundo trimestre, de 1,9%, é a boa notícia, mas é preciso atentar que os investimentos estão em queda e a recuperação está centrada no consumo das famílias."
O QUE DIZ O IBGE?
Os números do IBGE mostram também que há um crescimento importante das despesas em relação ao PIB e a atual política fiscal está sendo de má qualidade, afirma Salto.
Em dezembro de 2008, as despesas totais do governo federal representavam 17,23% do PIB (incluem gastos com pessoal, custeio, investimentos e outros). Quando observados os dados acumulados em 12 meses sobre o PIB do mesmo período, esse mesmo dado passou para 18,36% do PIB em julho de 2009.
"Quando desagregamos esses números, vemos que os investimentos, também chamados de despesas de capital, passaram de 0,98% do PIB para 1,03% do PIB no mesmo período. É uma situação que não agrada muito e está distante do discurso oficial."
A coluna pode afirmar que o aumento foi irrisório. Projeta um cenário preocupante. Sem investimento, não há produção para atender ao crescimento da demanda.
"Enquanto isso, os gastos de custeio passaram de 3,21% para 3,45% do PIB; os gastos com pessoal, de 4,53% para 4,92% do PIB; e os gastos previdenciários, de 6,91% para 7,24% do PIB. Notem que, apesar de os investimentos terem efetivamente aumentado, todas as outras rubricas também cresceram. É aqui que o problema começa. Em crise, há formas e formas de políticas fiscais anticíclicas, mas aumentar todos os gastos, definitivamente, não é a melhor." Portanto, viva o 1,9% do PIB, mas cuidado, senhores de Brasília.
Saiu o PIB do segundo trimestre, um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. Voltamos ao nível do início de 2008. Era esperado porque os indicadores mensais mostravam aumento do consumo e recuperação industrial. É sinal de descolamento dos países ricos, que ainda tentam sair da recessão.
Então, viva o PIB. Mas não o viva entusiasmado do presidente, para quem a recessão brasileira foi obra dos jornais, que assustaram o povo com manchetes terroristas. Lula prefere esquecer que jornais refletem fatos e o fato era que a economia brasileira acompanhou a recessão mundial por dois meses. Foi atingida, sim, pela crise financeira, escassez de crédito e a retração do mercado mundial.
O PIB despencou, o desemprego assustou. A coisa ficou feia. Não foi marolinha, foi uma onda gigante. Só não foi pior porque o governo, presidido por ele, que já havia armado algumas defesas, ergueu barreiras fiscais, monetárias e tributárias.
O resultado está aí. A economia brasileira voltou a crescer. Quase 2% no segundo trimestre, puxado pelo consumo das famílias, que foi estimulado pela redução de impostos, aumento da renda (salário mínimo, salário família), inflação retraída, juros em recuo e crédito fácil. Resumindo, a ação do governo, que tardou lá fora, foi urgente e imediata aqui.
VAI CONTINUAR ASSIM?
Essa é a questão. O governo vai manter a mesma política por algum tempo ou pretende alterá-la, considerando que as medidas já surtiram. Henrique Meirelles, do Banco Central, diz que ainda não é a hora de mudar. O ministro da Fazenda acha que sim.
Aqui, o risco. Risco que merece um alerta. Sabem qual? Até agora o presidente e a equipe econômica têm se mantido unidos. Agora, porém, há sinais de discordância, que pode pôr em risco o resultado obtido.
Os economistas do governo querem manter o estímulo ao consumo, sim, mas, em salas fechadas, temem o excesso de gastos públicos, de difícil reversão, quando a crise passar, em detrimento de investimentos produtivos. Em última instância, isso levará o BC a aumentar a taxa de juros, com seus efeitos negativos sobre o crescimento. Já se fala abertamente disso entre os analistas financeiros e a opinião que ganha corpo a cada dia é que ele existe, sim.
PODE GASTAR, SIM, MAS...
Há espaço ainda para gastar, mesmo porque temos superávit e a receita deve aumentar com o crescimento da economia. Mas ele vem encolhendo, dizem os analistas. E isso só tende a se agravar com a proximidade da campanha eleitoral.
Os economistas mais lúcidos do governo temem os exageros e querem seletividade e moderação nos gastos. O presidente, não. Talvez esteja entusiasmado demais com o êxito obtido até agora na luta contra a recessão, esquecendo que isso só foi possível porque ouviu os que agora sugerem moderação .
O problema não é só gastar o que não tem, não é só se endividar, mas fazer gastos improdutivos, que não geram produção, emprego, consumo...
O economista Felipe Salto, da Tendências, analisou com a coluna os dados do IBGE e faz observações que mostram um quadro no mínimo delicado na política fiscal. São números oficiais, de um órgão de estatística confiável do governo.
"O significativo avanço do PIB do segundo trimestre, de 1,9%, é a boa notícia, mas é preciso atentar que os investimentos estão em queda e a recuperação está centrada no consumo das famílias."
O QUE DIZ O IBGE?
Os números do IBGE mostram também que há um crescimento importante das despesas em relação ao PIB e a atual política fiscal está sendo de má qualidade, afirma Salto.
Em dezembro de 2008, as despesas totais do governo federal representavam 17,23% do PIB (incluem gastos com pessoal, custeio, investimentos e outros). Quando observados os dados acumulados em 12 meses sobre o PIB do mesmo período, esse mesmo dado passou para 18,36% do PIB em julho de 2009.
"Quando desagregamos esses números, vemos que os investimentos, também chamados de despesas de capital, passaram de 0,98% do PIB para 1,03% do PIB no mesmo período. É uma situação que não agrada muito e está distante do discurso oficial."
A coluna pode afirmar que o aumento foi irrisório. Projeta um cenário preocupante. Sem investimento, não há produção para atender ao crescimento da demanda.
"Enquanto isso, os gastos de custeio passaram de 3,21% para 3,45% do PIB; os gastos com pessoal, de 4,53% para 4,92% do PIB; e os gastos previdenciários, de 6,91% para 7,24% do PIB. Notem que, apesar de os investimentos terem efetivamente aumentado, todas as outras rubricas também cresceram. É aqui que o problema começa. Em crise, há formas e formas de políticas fiscais anticíclicas, mas aumentar todos os gastos, definitivamente, não é a melhor." Portanto, viva o 1,9% do PIB, mas cuidado, senhores de Brasília.
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