Incêndios
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/09/09
LONDRES - Vista de longe, choca mais ainda aquela imagem da capa da Folha do ônibus queimando em Heliópolis.
Explico: estando em São Paulo, os incidentes vão se formando ao longo do dia, no noticiário das rádios, TVs e internet. Quando o jornal chega, eu já estou preparado para receber o impacto de uma imagem tão perturbadora e da notícia, ainda mais perturbadora, da morte de uma menina atingida por "bala perdida" (expressão, aliás, que deveria ser banida; ninguém "perde" uma bala).
Aqui de longe, o noticiário que vejo é outro. Talvez por isso a imagem de Heliópolis me tenha lembrado os incêndios de automóveis nas "banlieues", os subúrbios parisienses que frequentaram os jornais do mundo todo há alguns anos e continuam agora, com menos exposição, porque rotineiros.
O que incomoda na comparação é a origem diferente do distúrbio, embora, em Paris como em São Paulo, o maior desafio seja "a integração plena, a eliminação da fronteira que separa a favela do bairro", como disse Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e relatora da ONU para direito à moradia.
Na França, a fronteira é entre nacionais e imigrantes (ou filhos/netos de imigrantes). No Brasil, é entre brasileiros e brasileiros. É social, portanto.
Não que seja justificável a segregação francesa. Mas ela é mais facilmente explicável: na França, o poder público foi atropelado pelo crescimento anormal da população por conta da imigração em massa e não está conseguindo oferecer os serviços que lhe competem. No Brasil, o poder público sempre foi incapaz de prestar tais serviços, com alto, médio ou baixo crescimento populacional.
Que a criminalidade se infiltre nesse vazio é inevitável, cá como aí. Que ocorram explosões também fica inevitável.
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