Festival de lugares-comuns
JORNAL DO BRASIL - 26/08/09
No passado, um dos ditados mais falados era: “Quem corre é a bola”. Os grandes jogadores, em vez de correr com a bola para entregá-la ao companheiro, fa ziam a bola correr, com passes de primeira, longos e curtos.
Evidentemente, só fazia isso quem tinha talento. No passado, mesmo nos grandes times, havia jogadores medianos. Hoje, tem mais.
Os atletas atuais correm muito mais que antes. Algumas tevês já mostram quantos quilômetros cada um correu. Brevemente, haverá prêmios para os que correm mais.
Vejo isso como uma evolução física, técnica e tática, desde que o jogador tenha talento, saiba para aonde e por que corre e não corra demais com a bola, a não ser em lances especiais. Kaká evoluiu porque aprendeu a esperar o momento certo para dar suas belíssimas arrancadas em direção ao gol.
A diferença hoje entre as me lhores equipes da Europa e as me lhores brasileiras é que lá a bola corre mais, de pé em pé. É uma delícia ver o Barcelona jogar, a equipe que faz isso melhor.
No Brasil, os jogadores correm demais, com ou sem a bola, e têm muita pressa para chegar ao gol. Importamos da Europa a correria e as jogadas ofensivas aéreas, e eles, em troca, levaram o toque de bola. Saíram ganhando.
Hoje, o futebol que se joga no Brasil se parece mais com o da Europa do passado, e o deles se pa rece mais com o brasileiro de outras épocas. Isso ocorre somente pela qualidade dos jogadores ou é também um estilo dos técnicos?
É preciso separar o futebol europeu de poucas equipes, no máximo dez, que contratam os melhores jogadores do mundo, das outras equipes, que, tecnicamente, não são melhores que as melhores equipes brasileiras.
Os técnicos europeus abandonaram há muito tempo alguns conceitos que continuam presentes no Brasil. Viraram chavões. Um deles é que é preciso três za gueiros para marcar dois atacantes. Como os zagueiros brasileiros marcam muito atrás, não há espaço entre eles e o goleiro. Os times brasileiros não jogam com dois zagueiros e um terceiro na sobra, e sim com três zagueiros em linha.
Outro chavão é que é necessário ter três zagueiros para os laterais (alas) apoiarem. Corinthians e Cruzeiro, as duas melhores equipes do primeiro semestre, jogaram com dois zagueiros e com os laterais avançando, alternadamente. A seleção faz o mesmo. Os técnicos estão acabando com os laterais que marcam e apoiam, uma virtude brasileira. É lateral ou ala, desde as escolinhas.
Enquanto os principais times europeus copiam o jeito brasileiro de jogar, de outras épocas, com dois zagueiros e dois laterais que avançam, um de cada vez, os técnicos brasileiros copiam o jeito torto e ruim dos europeus, de anos atrás, de jogar com dois zagueiros e um lateral-zagueiro.
O zagueiro brasileiro está cada dia mais mimado, mais su perprotegido. Só querem jogar na sobra, ao lado de dois outros zagueiros.
A moda brasileira é o zagueiro especializado. Há os que só atuam bem pela direita, os que só atuam bem pela esquerda, e os que só atuam bem na sobra. E assim caminha o futebol, de chavão em chavão.
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