Na sexta-feira passada, acompanhei inadvertidamente um diálogo que me pareceu de outro planeta. Um diplomata brasileiro, lotado na embaixada em Roma, mas já transferido para o Paraguai, acertava ao celular detalhes de um coquetel que seria servido em evento cultural organizado pela embaixada. O diplomata insistia com o interlocutor que a empresa também interessada no evento pagasse parte das despesas. "Ou eles pagam os comes e bebes e nós os garçons, ou vice-versa", dizia. Arrematava: "É preciso cuidar do dinheiro da viúva" (viu, Elio Gaspari, como você faz a cabeça das pessoas, algumas pelo menos?). Se eu já tivesse completado o percurso do ceticismo ao cinismo, até poderia suspeitar que o rapaz dizia o que dizia para que eu ouvisse. Nada disso. Eu estava entretido ouvindo a gravação da entrevista que o presidente Lula concedera pouco antes e só prestei a atenção na conversa pelo choque que me causou a defesa dos cofres públicos. E olhe que um coquetel custa fração mínima dos gastos legais ou ilegais, mas de todo modo escandalosos, dos episódios do Senado. O que torna a conversa inadvertidamente ouvida mais interessante é o fato de que nenhum senador se interessou, ao contrário do diplomata, em saber como e em que o Senado gasta o que gasta. Se um só o tivesse feito, certamente teria sido poupado dinheiro público suficiente para custear todos os coquetéis de todas as embaixadas em todas as cidades do mundo -e ainda sobraria muito, muito, muito. É por isso, entre outros motivos, que acho que só há uma solução verdadeira para a crise do Senado: a dissolução da Casa e a convocação imediata de novos eleições. Não há dispositivos legais que permitam essa saída? Ok, então, tudo vai ficar no clássico engana-trouxa em que os políticos brasileiros se especializaram. |
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