Revisionismos
O GLOBO - 11/06/09
As repetidas comparações do Obama com o Roosevelt provocaram uma reação nos Estados Unidos, segundo a qual não apenas o Baraca tem pouco a ver com o Roosevelt histórico como o próprio Roosevelt tem pouco a ver com o mito que se formou em torno do seu governo. Segundo a história – ou o mito, para os revisionistas – Roosevelt pegou um país arruinado pelos desmandos de um capitalismo fora de controle durante o governo Hoover, enfrentou os cachorros grandes das finanças e do conservadorismo e, com programas sociais acusados de bolchevistas, subsídios para a produção acusados de anti-americanos e uma mobilização popular acusada de populista e coisa pior – embora fosse um aristocrata – salvou os americanos. Os revisionistas dizem que muitas das medidas contra a crise dos anos 30 já tinham sido tomadas por Hoover, que até agora era o grande vilão da história, que Roosevelt aliou-se aos cachorros grandes, convencendo-os a aceitar seu pseudosocialismo com o argumento que, além de salvar os Estados Unidos, estava salvando o capitalismo, e que no fim sua política intervencionista não estava dando muito resultado. Um adendo inescapável à versão revisionista, nem sempre, compreensivelmente, citada, é que não foi a mobilização do New Deal de Roosevelt que tirou o país da crise, foi a mobilização para a Segunda Guerra Mundial.
O tempo é aliado do revisionismo. Com o tempo os fatos ficam maleáveis, como que mergulhados em solvente. Além de facilmente moldados, adquirem uma neutralidade que os absolve. Faz muita diferença, hoje, saber como o Simonal se comportou durante a ditadura? Se o revisionismo concluir que a única posteridade que ele merece é o de um bom cantor, está sendo justo.
Enquanto isto, como a própria ditadura se comportou naqueles anos está posto a salvo de qualquer discussão, revisionista ou não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário