Na ausência dos oponentes
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/06/09
A ministra Dilma Rousseff melhora sua posição a cada nova pesquisa sobre as intenções de votos para presidente da República em 2010. Subiu mais de 20 pontos porcentuais desde aquele batizado, em fevereiro de 2008, quando recebeu o nome de “a mãe do PAC”.
Hoje exibe índice de 23,5%, contrariando a expectativa dos adversários que, na época, desdenhavam da possibilidade de Dilma alcançar tão cedo a casa dos dois dígitos. Refeitas as contas no início de 2009, a oposição passou a trabalhar com um patamar de 30% até o fim do ano. Daí, ela não passaria.
Desejo, especulação, aplicação da lei das probabilidades, chute, ciência, seja o que for, pouco importa porque palavra de inimigo não vale, apostas carecem de confiabilidade e quem decide mesmo a parada, no final, é a realidade.
Não a presente, mas a realidade futura, cuja validade se inicia quando a campanha começar de verdade. E por campanha entenda-se campanha mesmo: embate entre candidatos, contraposição de opiniões, posições a respeito dos problemas nacionais, ações, gestos, pensamentos, impressões, emoções, toda gama de fatores que permitem ao eleitorado cotejar estilos, examinar desempenhos e, afinal, escolher.
Nessa altura do campeonato nada disso acontece. Pelo simples fato de que não há campeonato em curso.
Ainda assim, na preliminar, o governo tem recolhido das pesquisas boas notícias. A oposição, diga-se, tem coletado melhores, pois um dos seus candidatos se mantém firme na dianteira. Mas, considerando que o governo saiu do zero, a performance nem de longe é desprezível. Ocorre que por enquanto a boa notícia das pesquisas diz ao governo muito mais a respeito dele mesmo do que sobre a candidata propriamente dita. Os 23,5% de hoje ainda não pertencem a Dilma.
São dividendos resultantes do investimento feito pelo presidente Luiz Inácio da Silva numa arquitetura de autor, com o capital de sua popularidade, dos instrumentos de governo e da eficientíssima máquina de propaganda oficial, certamente a mais eficaz já vista na história do Brasil.
Levantamento publicado pela Folha de S. Paulo dá a dimensão: os 499 veículos de comunicação para os quais o governo federal repassava verbas em 2003 hoje são mais de 5 mil entre emissoras, publicações e meios de internet.
Uma ocupação de espaço monumental, alimentada pela hiperatividade da figura presidencial, acrescida, de um ano para cá, da companhia constante de Dilma Rousseff. Sem subtrair um só dos atributos meritórios da ministra da Casa Civil – até porque ela ainda não teve oportunidade de exibir sua expertise político-eleitoral –, não se pode dizer se ela é melhor, pior ou igual a quaisquer dos outros integrantes do plantel de pretendentes: José Serra, Aécio Neves, Ciro Gomes, Heloísa Helena.
No momento, há um grande comercial em exibição. Não se tem ainda uma campanha eleitoral no molde clássico, com todos os candidatos em atuação compartilhando o noticiário, debatendo suas ideias, recebendo críticas, submetendo-se à avaliação do eleitorado.
Isso vale para Dilma, mas vale também para seus adversários presumidos. Com uma vantagem para ela. Ninguém fala mal da ministra – algo natural em ambiente de campanha –, mas o presidente Lula, quando pode, fala mal dos oponentes.
De Dilma Rousseff só se ressaltam as qualidades enquanto ela nada diz de polêmico ou que suscite controvérsia. Transita no seguro terreno do lugar comum, sorri e suaviza as maneiras. Conta em seu favor a falta de interesse dos outros candidatos de entrar na briga agora. Há o impedimento da legislação eleitoral e a prudência estratégica.
Ciro Gomes sabe que quanto mais se mexer menos chance tem se vir a ser candidato. Serra e Aécio são reféns da uma decisão interna do PSDB para a escolha do candidato, mas são prisioneiros do calendário e das obrigações para com os respectivos estados que governam, os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais.
Além disso, estão na fase da montagem política de bastidor. A hora, para a oposição, é de dirimir conflitos, cooptar aliados e não comprar confusão perdida com presidente em ano final de mandato, popularidade nos píncaros e força política no Congresso em discreto, mas visível, início de dispersão.
Atacar Dilma agora para quê? Sem o contraditório, ela navega sozinha, fica conhecida a ponto de empatar com Serra na pesquisa espontânea, que mede lembrança, não necessariamente preferência.
Mantida a candidatura, definidos os adversários, iniciada a disputa, outras regras valerão. Para todos.
Dilma pode vir a se revelar ainda melhor que a encomenda e crescer por si, assim como os tucanos poderão ver minguar o robusto patrimônio de hoje se não exibirem desempenho à altura dos 40% de José Serra nas pesquisas.
Por enquanto, o eleitorado dá sua impressão sobre um jogo parado, com o juiz sozinho em campo e a bola debaixo do braço.
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