Alguém gritou “olha o rapa!” na porta do prédio da Petrobras
Entre as obsessões do grande Nelson Rodrigues figurava a reação provocada nas ruas e praças do Rio pelo grito de alerta: ”Olha o rapa!”. Era a senha que anunciava a chegada da polícia incumbida de reprimir o comércio clandestino, mas a sensação de perigo se estendia muito além dos camelôs. Antes que terminassem a desmontagem das barracas e a coleta das bugigangas, feitas em ritmo vertiginoso, já haviam saído em desabalada carreira os fregueses, os transeuntes, os desocupados, os pedintes, os moradores da vizinhança e quem mais estivesse por perto. Todo brasileiro se sente culpado, alguma já fez, deliciava-se Nelson Rodrigues.
Alguém berrou “olha o rapa!” na porta do prédio da Petrobras, sugere a correria causada pela criação da CPI concebida para vasculhar os negócios da estatal. Ficaram pálidos de espanto os diretores da estatal, os fregueses, o homem do cafezinho e a estagiária. Ficaram transidos de horror o presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados da base alugada, o porteiro do Palácio do Planalto, o jornaleiro do Congresso, até um bando de oposicionistas.
Sérgio Gabrielli, presidente da empresa, desandou numa discurseira sem pé nem cabeça e criou um blog para substituir a imprensa inimiga. O ministro Edison Lobão, considerado pelos leitores da coluna o ministro mais convincente no papel de socialista radical, não para de acenar a bandeirinha do Brasil e murmurar que o petróleo é nosso. Lula rebaixou a inimigos da pátria os que insistem em saber se a Petrobras andou delinquindo. Por que tanto falatório? Por que tamanha correria? Por que o medo coletivo?
Muito simples: aí tem.
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