FOLHA DE SÃO PAULO - 15/05/09
Na poupança, oposição faz picuinha, mas apoia lambança do governo e não investiga bancos ou negócios públicos |
AQUELE DEPUTADO federal ferrabrás e agreste que disse estar "se lixando para a opinião pública", um dos "autênticos" do PTB, tornou-se uma entidade (ele disse se "lixar" ao justificar sua intenção de absolver o deputado "dono do castelo"). Títulos de notícias referem-se ao parlamentar petebista como o "deputado que se lixa".
Trata-se de um homem que saiu da sua vida obscura para entrar na história como uma oração adjetiva deplorável. Além de indizível, tornou-se inominável. Mas, além da gramática: um "parlamentar que se lixa" é um adjetivo ou um substantivo? Pois parece que "se lixar" é da essência do parlamentar brasileiro.
O líder do governo no Senado, o já bastante notório Romero Jucá, do PMDB "autêntico" de Roraima, por exemplo, quer usar um projeto de emenda à Constituição como instrumento de "vendetta" de sua parentela. O governo, num acesso esquisito de seriedade, fez uma limpa na boquinha de cargos da Infraero, demitindo vários parentes de parlamentares da direção da empresa, entre eles o irmão de Jucá. Como vingança, o senador Jucá quer emendar a Constituição a fim de reservar o cargo de ministro da Defesa para militares. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, cuida da Infraero. Jobim não é militar. Jucá, por sua vez e portanto, é um "senador que se lixa" para a opinião pública.
Seria apenas outro caso anedótico? Bem, o PMDB quase todo está em "pé de guerra" e se pintou de lama para lutar pela boquinha, chantageando o governo, seu aliado -eles se merecem. Seria apenas o PMDB, em plena demonstração de autenticidade? Considerem a atitude do "alto clero" da oposição (DEM, PSDB e PPS) no caso da poupança.
É tão fácil bater no governo. Motivo sério não falta. Inclusive no caso da poupança. Mas os líderes da oposição se aferraram à picuinha mais populista, terrorista e mentirosa para atacar a tributação das cadernetas ("confisco" etc.). Reclamam ainda que o governo não "mexeu com os bancos" (só com os "poupadores"). Ótimo: ficaram então com a oportunidade de criar uma CPI das taxas bancárias. Esses líderes e partidos tão financiados pela banca (assim como os do governo) vão investigar, digamos, a existência de um oligopólio maléfico nas finanças?
Essa gente "se lixa". A oposição critica a gastança do governo e aprova aumentos de gastos propostos por Lula; aprovou a enésima anistia para sonegadores de impostos. Mas reclama que Lula não quer ver dinheiro saindo de fundos (que financiam a dívida pública) porque o governo gasta demais. Reclama (agora) dos juros altos, mas quer manter juros tabelados (o da poupança).
Para falar de coisa mais séria, essa gente nunca se deu ao trabalho de reformar a caquética lei financeira, de quase meio século de idade. Essa gente não discute a rolagem da dívida pública e seus instrumentos, também caquéticos, da era da inflação. Fundos públicos são utilizados à larga em fusões de megaempresas, via BNDES, mas o Congresso não dá um pio sobre tais negócios. Aliás, nem se move para rediscutir os fundos oriundos de poupança forçada (FGTS, FAT), que datam alguns da ditadura e que rendem pouco para o trabalhador. Não se mexem, apenas se lixam para a opinião pública.
Trata-se de um homem que saiu da sua vida obscura para entrar na história como uma oração adjetiva deplorável. Além de indizível, tornou-se inominável. Mas, além da gramática: um "parlamentar que se lixa" é um adjetivo ou um substantivo? Pois parece que "se lixar" é da essência do parlamentar brasileiro.
O líder do governo no Senado, o já bastante notório Romero Jucá, do PMDB "autêntico" de Roraima, por exemplo, quer usar um projeto de emenda à Constituição como instrumento de "vendetta" de sua parentela. O governo, num acesso esquisito de seriedade, fez uma limpa na boquinha de cargos da Infraero, demitindo vários parentes de parlamentares da direção da empresa, entre eles o irmão de Jucá. Como vingança, o senador Jucá quer emendar a Constituição a fim de reservar o cargo de ministro da Defesa para militares. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, cuida da Infraero. Jobim não é militar. Jucá, por sua vez e portanto, é um "senador que se lixa" para a opinião pública.
Seria apenas outro caso anedótico? Bem, o PMDB quase todo está em "pé de guerra" e se pintou de lama para lutar pela boquinha, chantageando o governo, seu aliado -eles se merecem. Seria apenas o PMDB, em plena demonstração de autenticidade? Considerem a atitude do "alto clero" da oposição (DEM, PSDB e PPS) no caso da poupança.
É tão fácil bater no governo. Motivo sério não falta. Inclusive no caso da poupança. Mas os líderes da oposição se aferraram à picuinha mais populista, terrorista e mentirosa para atacar a tributação das cadernetas ("confisco" etc.). Reclamam ainda que o governo não "mexeu com os bancos" (só com os "poupadores"). Ótimo: ficaram então com a oportunidade de criar uma CPI das taxas bancárias. Esses líderes e partidos tão financiados pela banca (assim como os do governo) vão investigar, digamos, a existência de um oligopólio maléfico nas finanças?
Essa gente "se lixa". A oposição critica a gastança do governo e aprova aumentos de gastos propostos por Lula; aprovou a enésima anistia para sonegadores de impostos. Mas reclama que Lula não quer ver dinheiro saindo de fundos (que financiam a dívida pública) porque o governo gasta demais. Reclama (agora) dos juros altos, mas quer manter juros tabelados (o da poupança).
Para falar de coisa mais séria, essa gente nunca se deu ao trabalho de reformar a caquética lei financeira, de quase meio século de idade. Essa gente não discute a rolagem da dívida pública e seus instrumentos, também caquéticos, da era da inflação. Fundos públicos são utilizados à larga em fusões de megaempresas, via BNDES, mas o Congresso não dá um pio sobre tais negócios. Aliás, nem se move para rediscutir os fundos oriundos de poupança forçada (FGTS, FAT), que datam alguns da ditadura e que rendem pouco para o trabalhador. Não se mexem, apenas se lixam para a opinião pública.
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