A renúncia na cabeça
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/05/09
O semblante carregado do presidente do Senado, José Sarney, expressa o desconsolo que lhe assola o espírito desde os primeiros dias da crise que coincidiu com o início de seu mandato. Incumbência pesada que, segundo confessou aos mais íntimos, já cogitou abandonar antes do prazo regulamentar de dois anos.
Se foi um impulso momentâneo ou um plano a ser executado a qualquer momento, fato é que Sarney há cerca de 20 dias começou a dar razão aos que o aconselhavam a ignorar fosse qual fosse a motivação – de ordem pessoal, familiar, política ou partidária – para concorrer à presidência do Senado.
Arrependido por ter deixado de lado o projeto de se eleger presidente da Academia Brasileira de Letras para, pela terceira vez em 14 anos, presidir o Senado, Sarney externou a vontade de renunciar. Ao cargo, ao mandato de senador, à carreira política.
Quando falou no assunto, referiu-se aos 80 anos de idade a serem completados no dia 24 de abril de 2010. Não deixou claro se marcava data para o gesto pretendido ou se apenas considerava imerecida tal desventura a essa altura da vida. Os 50 anos de vida pública lhe deram experiência e discernimento suficientes para perceber o tamanho do estrago.
O Senado no chão e ele pagando a maior parte da conta sem ter como resolver o problema. Por isso, ao dizer que pensava na renúncia como uma saída, avaliava que se candidatar à presidência foi um passo errado que o levou a perder o capital político de uma carreira que pretendia encerrar em alta.
Primeiro, havia sonhado em coroar a trajetória com a presidência da Academia Brasileira de Letras, nos 100 anos da ABL. Faria, aí, sua opção preferencial pela literatura. Enquanto se manteve fiel a esse projeto, José Sarney rejeitou toda e qualquer possibilidade de ser candidato a presidente do Senado. Dizia isso aos correligionários, mas também à família e aos amigos até novembro do ano passado.
Em dezembro, mudou. A alguns, para os quais havia dito que não disputaria, comunicou a mudança com a seguinte frase: “O destino me leva à política.” O destino, no caso, foi entendido como a percepção de que na presidência do Senado Sarney poderia ajudar dois dos seus três filhos: Fernando, com problemas na Polícia Federal, e Roseana, envolvida no embate judicial que afinal cassou Jackson Lago e deu a ela o mandato de governadora do Maranhão.
Estava, porém, escrito outro tipo de sina bem menos venturosa. A crise no Parlamento estourou logo na estreia e Roseana assumiu em meio às enchentes que desabrigaram milhares de pessoas e devastaram o estado, cuja recuperação demanda muito mais tempo que os 20 meses de mandato herdados por decisão da Justiça.
Posto o arrependimento em virtude da consumação dos piores fatos, os mesmos que haviam aconselhado Sarney a esquecer a presidência do Senado no mês passado lhe disseram para tirar da cabeça essa história de renúncia.
Primeiro, porque a primeira “loucura” (de presidir o Senado) não poderia ser consertada com outra maior. Em segundo lugar, se a preocupação de José Sarney é com a biografia, a rendição na adversidade não seria a melhor contribuição à História.
Agora, na opinião dos amigos, o senador Sarney não tem outra saída: é investir na recuperação da credibilidade sob a orientação do seguinte lema: não se pode fazer tudo errado e, o fim, esperar que dê tudo certo.
Perda total
Ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal para assegurar seu direito de relatar o processo do colega Edmar Moreira, o deputado Sérgio Moraes perde tempo, a preciosa chance de se recolher à própria insignificância e uma oportunidade de mostrar um mínimo de zelo às instituições.
O STF cuida do cumprimento à Constituição, que preserva garantias coletivas e individuais, mas não assegura o direito individual de afrontar a coletividade.
Noves fora
Dizer que a governadora Yeda Crusius (RS) tem condições de se defender sozinha das acusações de uso de caixa 2 é afirmar, em outras palavras, que o PSDB não vai defendê-la. Não necessariamente por razões de indisposição com a governadora. Mas porque se tornou gato escaldado temente de água fria desde que decidiu defender o senador Eduardo Azeredo da mesma prática em pleno escândalo do mensalão.
Custo-benefício
A oposição se assanha. Mas é de se imaginar que o governo esteja esperto e escaldado o suficiente para reagir à tentativa de transformar o projeto da mudança nas regras de remuneração da caderneta de poupança em uma nova CPMF, com uma boa estratégia de defesa dos partidos aliados.
O problema aí, como sempre, é o custo da fidelidade da base governista que não brinca em serviço nem trabalha de graça.
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