A noite da estrela solitária
Carlos Eduardo Novaes
JORNAL DO BRASIL - 17/05/09
Na noite de quarta-feira três das quatro maiores torcidas do Rio estiveram mobilizadas pelos jogos dos seus times, Vasco, Flamengo, Fluminense. Os botafoguenses ficaram fazendo palavras cruzadas.
Cheguei a pensar em assistir a um dos jogos – Ronaldo, amigo rubro-negro convidou-me para ver o Flamengo no Maracanã – mas achei melhor esquecer a Copa do Brasil para não reavivar lembranças do Botafogo sendo eliminado pelo Americano nos pênaltis no Engenhão. Sem emoções para queimar e com um enorme vazio na alma entreguei-me indiferente à partida entre Grêmio e San Martin pela Libertadores.
No final da noite – e das partidas – após um largo cochilo na poltrona resolvi sair para comer em uma churrascaria do Leblon. Quem encontro? Ronaldo, o vascaíno Zé Manoel e o tricolor Ivo Mendes, sorridentes em uma mesma mesa, discutindo a atuação de seus clubes. Zé Manoel dava urros de satisfação. Disfarcei, fingi que não os havia visto, mas quando me encaminhava para outra mesa Ronaldo me chamou:
– Vem pra cá!
– Qual é o papo? – perguntei sentando-me, desconfiado.
– Estamos falando sobre a rodada de hoje da Copa do Brasil!
Tornei a levantar:
– Não tenho nada a dizer a esse respeito. Vou sentar ali para deixar vocês à vontade.
– Mas nós estamos à vontade!
Na verdade quem não estava à vontade era eu, que me sentia um excluído. Zé Manoel, excitado, deu-me um tapa nas costas com a potência do chute do Nilton no quarto gol do Vasco.
– Você viu? Você viu a vitória do Vasco sobre o Vitória?
– O Vasco venceu? – fingi ignorar para não dar corda ao vascaíno – Foi mesmo? Passei a noite trabalhando, nem liguei a televisão. Não sei dos resultados dos jogos.
Se pretendia esfriar o papo de Copa do Brasil, meu comentário provocou um efeito contrário e os três passaram a contar, ao mesmo tempo, lances dos seus times, todos com chances concretas de chegar às semifinais. Fiz uma expressão de fastio e tentei puxar a brasa para o meu surubim.
– Vocês souberam quem o Botafogo contratou? Toni do Boavista!
– Dá um tempo, cara! – cortou Ronaldo – Estamos falando de Copa do Brasil. A conversa ainda não chegou aos eliminados!
Os três continuaram, festivos, discorrendo sobre as defesas de Bruno, de Fernando Henrique, os gols do Vasco, os gols perdidos pelo Flamengo e eu ali sem ter o que dizer, mais mudo do que torcedor do Vitória. Esse é o problema dos torneios eliminatórios. Se seu time sai no meio do caminho você também é eliminado das discussões. Forcei a barra:
– Sabiam que o Botafogo vai trazer o Lucio Flavio de volta?
– Peraí, rapaz. Depois a gente fala sobre isso. Estamos fazendo planos para as semifinais!
Senti que estava demais – ou de menos – pedi licença e fui fazer companhia ao Otavio, um botafoguense que jantava solitário em outra mesa.
– Não aguento aqueles caras – resmunguei. – Só sabem falar da Copa do Brasil!
Otavio mudou de assunto e perguntou:
– Nosso Botafogo vence o Corintians domingo no Engenhão?
Pensei um pouco e reagi com sofrida sinceridade:
– Acho que vou voltar para a outra mesa!
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