PODCAST Diogo Mainardi 30 de abril de 2009 |
Texto integral A imprensa está acabando. E eu tenho de correr para acabar antes dela. Quanto tempo ainda me resta? Segundo Sumner Redstone, dono da CBS, menos de dez anos. Tic, tac, tic, tac. A tiragem do New York Times, nos últimos seis meses, caiu 3,55%. A do Los Angeles Times, 6,55%. A do USA Today, 7,46%. Dos maiores jornais dos Estados Unidos, o único que conseguiu se manter no mesmo lugar foi o Wall Street Journal, de Rupert Murdoch. Na TV a cabo americana ocorreu algo semelhante. A CNN, no horário nobre, desabou para o quarto lugar entre os canais de notícias. A MSNBC, que no ano passado ganhou um monte de espectadores fazendo campanha para Barack Obama, despencou depois que ele foi eleito. Quem cresceu nesse período, distanciando os concorrentes, foi a FOX News, com seus palpiteiros de direita. A FOX News, como o Wall Street Journal, pertence a Rupert Murdoch. Sim, Rupert Murdoch. Em 2006, o Financial Times (menos 2,62%) perguntou-lhe se a FOX News perderia seus espectadores caso o Partido Democrata conquistasse o poder. Ele respondeu: "Isso é uma idiotice. Se o governo passar para os democratas, todos aqueles que não gostarem deles – 48% do país – vão assistir a FOX News". Foi o que aconteceu. A imprensa pode estar acabando. Mas ela está acabando - ainda mais rapidamente e ainda mais vergonhosamente – para quem aceitou se transformar em porta-voz do governo. Ninguém quer ler matéria paga. Ninguém quer receber notícia estatal. Ninguém quer acompanhar uma cobertura domesticada e adesista. Os telejornais das maiores redes dos Estados Unidos deram um total de dezesseis horas de notícias positivas sobre Barack Obama, em seus primeiros 50 dias de governo. George W. Bush, em seus primeiros 50 dias, ganhou apenas duas horas e meia de notícias positivas, nos mesmos telejornais. Nesse cálculo, não entram as declarações diárias de Barack Obama e as três entrevistas coletivas transmitidas ao vivo por todas as redes de TV americanas. Corrigindo: todas as redes uma ova. Na quarta-feira, o canal FOX – é isso aí: mais uma empresa de Rupert Murdoch – esnobou a Casa Branca e transmitiu um seriado em vez da entrevista auto-promocional em que Barack Obama celebrou seus 100 dias de governo. Resultado: no horário, a FOX obteve a maior audiência da TV aberta americana. Barack Obama retaliou durante a própria entrevista coletiva, ignorando o repórter da FOX e respondendo às perguntas dos repórteres de todas as outras redes. Quanto mais fragilizada se torna a imprensa, mais dependente ela é do governo; quanto mais dependente ela é do governo, mais fragilizada ela se torna. É o Catch-22 gutemberguiano. Só ganha uma sobrevida quem consegue romper esse mecanismo de abastardamento. E isso vale tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil, onde há uma compulsão doentia para o jornalismo chapa-branca. A imprensa está acabando. Se o futuro é a internet, quero estar longe daqui quando ele chegar. Falta pouco. Tic, tac, tic, tac. |
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