terça-feira, abril 28, 2009

COISAS DA POLÍTICA

Consequências do câncer nas urnas

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 28/04/09

Esse negócio de futurologia é muito difícil. Assim como saber o que o eleitor vai pensar a respeito deste ou daquele assunto. Mas o anúncio do câncer na chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata predileta do presidente Lula à sua sucessão em 2010, inevitavelmente levantou especulações a respeito da influência que a doença teria sobre o eleitorado. Há quem aposte todas as fichas que a história foi muito boa para a ministra. Que o eleitorado a verá como uma guerreira em luta contra uma doença injusta. Outros, no entanto, acham que o eleitor acredita que, para governar um país, é preciso até mesmo força física. Nesse sentido, a doença contaria pontos contra a candidatura de Dilma para presidente da República.

Repito o que disse lá em cima: esse negócio de futurologia é muito complicado. O ideal, nesses casos, é ouvir a opinião ou, melhor, o parecer de especialistas. Por isso a coluna procurou dois dos mais prestigiados analistas de pesquisas eleitorais do país: Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, e Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. Nenhum deles é ligado ao PT, e ambos concordam num ponto: a doença, provavelmente, não terá influências sobre os eleitores.

Marcos Coimbra:

"É claro que tudo depende da evolução clínica. Mas, se for como os médicos estão dizendo – e eu acredito – as consequências serão pequenas, mínimas mesmo. Falta um ano e meio para as eleições. Não creio que, até lá, este assunto permanecerá presente na opinião pública. Dilma Rousseff era uma forte candidata antes do anúncio e continuará sendo agora. Pelo que os médicos disseram, a ministra estará tendo um comportamento normal na campanha, a caminho da cura completa. E ninguém vai querer trazer o tema à tona. Muito provavelmente o eleitor, então, não pensará nesse problema.

Digamos que a equipe da ministra viesse com a questão para a campanha: seria muito ruim para ela. O eleitorado veria como uma apelação, uma tentativa dela própria de se vitimizar. Agora, pensemos no contrário: que os seus adversários trouxessem a história novamente. Seriam vistos como cruéis, explorando a fragilidade momentânea de uma mulher. Aí, sim, ela sairia ganhando, até porque já tem, na sua biografia, a imagem da mulher que enfrentou enormes dificuldades para chegar aonde chegou.

Em resumo. Com o andamento normal do tratamento, vejo três cenários, sendo dois absolutamente improváveis. Primeiro: a equipe da ministra querer usar a doença na campanha. Cenário número 2: seus adversários levantarem o assunto. E o cenário número 3, este sim que considero mais provável: a doença cair no esquecimento".

Carlos Augusto Montenegro:

"Olha, não creio que esta questão da doença da ministra tenha grandes influências eleitorais. Nem contra, nem a favor. Não vai interessar a ela nem à oposição levantar o assunto na campanha. Acho que, no final das contas, ela receberá a mesma quantidade de votos transferidos do presidente Lula que ia receber antes do anúncio da doença. E não é pouca coisa, não: são cerca de 13 milhões de votos.

Continuo com a mesma avaliação que tinha antes: tudo indica que Dilma Rousseff chegará ao final da campanha com cerca de 15% a 17% dos votos. O favorito continua sendo o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). E, se ninguém mais se projetar, é grande o risco de a eleição ser decidida no primeiro turno. O Ciro Gomes (PSB), por exemplo, sai com 14%, mas pode acabar com 6%, 5%, 4%.

Muito provavelmente, Luiz Inácio Lula da Silva deixará o governo com a imagem de um dos maiores presidentes da História. Do tamanho de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek. Daí por que ele consegue transferir tantos votos. Mas essa transferência não é suficiente para eleger qualquer um. E a verdade é que não apareceram novas lideranças no país nos últimos anos. Dilma, os ministros Tarso Genro e Patrus Ananias e o governador da Bahia, Jaques Wagner, nenhum deles se estabeleceu como liderança independentemente do Lula. O ex-ministro Antonio Palocci até poderia vir a ser um bom candidato, mas aquela história do caseiro atrapalhou. Não dá para voltarmos atrás. E também não dá tempo para se criar um nome novo. Depois do Fernando Collor de Mello, o eleitor não está mais interessado em aventuras".

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