Discurso pronto
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO 28/03/09
Os partidos ensaiam uma justificativa-padrão para os "por dentro" e os "por fora" que aparecem nos grampos da Operação Castelo de Areia, em diálogos alusivos a financiamento de campanhas. "Por dentro" seriam doações feitas aos comitês dos candidatos. "Por fora", aos partidos -contrariando o sentido de "caixa dois" desde sempre associado à expressão.
Foi assim que o DEM explicou os R$ 300 mil recebidos por Mendonça Filho da Camargo Corrêa, "por fora", na campanha de 2006 em Pernambuco: teriam chegado ao partido e sido repassados em duas parcelas ao candidato. O PSDB dirá que o dinheiro da empreiteira abastecia o cofre dos diretórios estaduais e nacional, os quais decidiam quanto dar e a quem.
Foco. Advogados e executivos da Camargo Corrêa questionam o fato de a empresa ser a única atingida pela operação da PF, que tem como mote denúncia de sobrepreço na refinaria Abreu e Lima, se ela não comanda o consórcio contratado pela Petrobras para executar a obra. A líder do grupo, integrado ainda pela Queiroz Galvão, é a Odebrecht.
Currículo 1. Guilherme Cunha Costa, lobista da Camargo Corrêa mencionado na decisão judicial que permitiu deflagrar a Operação Castelo de Areia, costuma promover jantares com deputados e senadores em seu apartamento em Brasília. Tem um ótimo trânsito nas comissões de Orçamento, Infraestrutura e Minas e Energia.
Currículo 2. Citado numa das escutas da Polícia Federal como suposto destinatário de repasses da Camargo Corrêa, o senador Flexa Ribeiro (PSDB) foi presidente da Federação das Indústrias do Pará e diretor da Confederação Nacional da Indústria.
Porta-voz. De Flexa Ribeiro, na tribuna, em 2 de fevereiro de 2006, condenando a invasão de uma área da construtora pelo MST: "É importante que o Brasil tome conhecimento de que o investimento da Camargo Corrêa Metais no Pará é da ordem de US$150 milhões e gera, entre empregos diretos, terceirizados e indiretos, algo em torno de 5 mil postos de trabalho".
Areia. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, não é a única obra tocada pela Camargo Corrêa na qual o Tribunal de Contas da União apontou indícios de irregularidades. No dia 13 passado, o TCU voltou a identificar sinais de sobrepreço nas obras do metrô de Fortaleza, incluídas na lista do PAC.
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