Hora de mudar o sistema eleitoral brasileiro
28/03/09
SÃO PAULO (AE) - O mensalão, os recentes escândalos no Senado e agora o envolvimento da construtora Camargo Correia em doações para partidos e políticos à base de caixa 2 revelam aquilo que já se sabe há tempos: o modelo de representação entrou em colapso no Brasil.
Modelos se esgotam. Em vez de reproduzir as virtudes, as qualidades, passam a reproduzir apenas os vícios, os defeitos. Quando isto acontece, está na hora de mudar. Nesta crise financeira em que o mundo inteiro está mergulhado, salta aos olhos o esgotamento do modelo de capitalismo baseado numa espécie de cassino em bolsa de valores, especulando com papéis lastreados em coisa nenhuma.
Chega uma hora em que a casa cai. O modelo se esgota. É tempo de mudar. É o que já está acontecendo com o sistema eleitoral brasileiro, e não é de hoje. O sistema de representação não representa mais nada.
No voto proporcional, que elege vereadores e deputados, o eleitor vota e, no momento seguinte, perde completamente o controle sobre os caminhos percorridos pelo seu voto.
Em bom português: o eleitor brasileiro não tem a menor ideia de quem foi eleito com seu voto. No limite, vota num candidato honesto, e seu voto ajuda a eleger um bandido.
Porque o voto proporcional trabalha com o conceito de quociente eleitoral, aproveitando até a última gota a manifestação do eleitor.
Já o voto majoritário, que elege presidente, governador e senador, é mais direto. O eleitor vota num candidato. Se ele não for eleito, o voto não é reaproveitado, como no voto proporcional.
Mas, seja majoritário ou proporcional, o voto no Brasil distanciou muito os representantes dos representados.
Deputados e senadores não representam mais ninguém. Representam apenas seus próprios interesses e os interesses de seus associados e apaniguados.
No caso dos senadores, temos em vigor esta excrescência que é o suplente. Cidadãos sem um único voto podem assumir presidências de comissões, discutem o orçamento, implementam interesses estranhos.
E desprezam a opinião pública, não prestam contas, não dão satisfação ao eleitor. Não precisam de votos.
Se não houver uma mudança substantiva na forma como as pessoas são eleitas no Brasil, ficaremos eternamente dependentes de pessoas honestas e bem-intencionadas.
É preciso enfrentar com coragem a mudança do sistema eleitoral brasileiro. O modelo esgotou-se. Está na hora de mudar.
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