VIÑA DEL MAR - Ser "branca azeda" foi um pesadelo de gerações de adolescentes brasileiras. Passavam horas sob o sol escaldante, sem filtro (nem existia), e tudo o que conseguiam era uma vermelhidão de doer, descascar dos pés à cabeça e, no meu caso, centenas de pintas no corpo e três cânceres na cara.
Não tenho culpa de não ser um Michael Jackson às avessas nem por crise nenhuma, muito menos pela maior crise econômica mundial desde a Segunda Guerra. Nem eu nem milhões de cidadãos que não são negros, nem índios, e condenam o racismo com igual veemência. Todo racismo. Lula perdeu uma bela chance de ficar calado, ao culpar os "brancos de olhos azuis" pela crise. E justamente ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown -que, segundo a imprensa londrina, ficou "constrangido".
Poderia ser só mais uma brincadeirinha errada, na hora errada e com a pessoa errada, não fosse o chavismo que há nela e que remete a outros episódios. Lembra do discurso de Lula na Namíbia, "tão limpinha que nem parece a África"? E do "ponto G" na entrevista ao lado de Bush? E do "pepino" depois do encontro com Obama?
As metáforas futebolísticas rendem pontos para Lula nas pesquisas no Brasil. Mas expressões de caráter sexista e de incitação racista diante de outros governantes e sob holofotes internacionais soam ridículas, coisa para Chávez e Evo Morales, de países rachados ao meio e em crise. Não é o caso do Brasil, que tem estabilidade, almeja uma vaga no conselho permanente da ONU e quer falar de igual para igual no G20 nesta semana.
A frase de Lula parece inocente, mas reflete um preconceito de alma contra "brancos de olhos azuis" e recicla o lance marqueteiro de eleger um inimigo comum para mobilizar a massa: a tal "elite branca", que não aceita o pobre migrante nordestino porque é (ou foi, há décadas) migrante nordestino. Não é coisa de Chávez?
domingo, março 29, 2009
ELIANE CANTANHÊDE
"Olhos azuis", o surto chavista
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/09
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