MORTADELA COM PITÚ
A maioria dos analistas políticos observou que não se pode levar muito em consideração a queda do presidente Lula nas pesquisas como um alerta estatístico. De acordo com o entendimento, o estoque de popularidade do primeiro-mandatário, como os tais 200 bilhões de dólares do Banco Central, é uma reserva sólida e inesgotável. Mas não podemos deixar de considerar que o Palácio do Planalto sentiu a pancada e mudou o discurso sobre a crise financeira mundial, principal fonte de desgaste do chamado efeito teflon que sempre protegeu Lula.
Saiu de cena o realismo em suaves prestações com que o governo vinha ultimamente administrando a crise para dar lugar à retomada do otimismo irresponsável em altas doses. A solução apresentada é simples: se admitir que estamos indo à bancarrota significa perda de capital político, vamos voltar a manter o País em estado permanente de enganação. É uma espécie de “não sabia” da época do mensalão, só que desta vez em forma de dissimulação afirmativa.
Outro sintoma de que a queda nas pesquisas alterou o sistema nervoso palaciano foi o fato de o presidente, logo no primeiro dia útil após a divulgação da queda, ter buscado refúgio em um palanque no nordeste para exercitar o discurso direto com os conterrâneos em forma de conversa de botequim. Histriônico, partiu para o apelo varonil do bravo sertanejo para conseguir a metáfora de que a crise é como uma gripe que não derruba cabra macho. No seu reduto eleitoral, recomendou a administrados e admiradores a combinação de conhecida aguardente produzida em Vitória de Santo Antão com famosa marca de embutido.
Embriagai-vos, pois só assim para acreditar que “os efeitos mais difíceis da crise já passaram.” Inebriados, vamos assimilar como saudável o receituário de Lula de que o melhor remédio para enfrentar a crise é gastar, em desprezo completo aos princípios de responsabilidade fiscal. Engarrafados, certamente estaremos mais bem preparados para participar da celebração à “grande virada” que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou ainda para este mês.
Em estado de embriaguez patológica, depois de compreender, nos simpatizaremos com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando repetir o raciocínio gutural de que a “crise atinge mais os que estão mais fragilizados e menos os que estão menos fragilizados”. Antes de Larry Rother, sempre desconfiei que esses desatinos têm sempre uma motivação canavieira. Só não tinha muita noção sobre a natureza dos petiscos. Agora está confirmado: é mortadela com Pitu para salvar o Brasil da crise.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
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