Folha de São Paulo - 21/03/09
LONDRES - Esse Henrique de Campos Meirelles é um gênio. Primeiro, conseguiu eleger-se deputado federal pelo PSDB apenas para abandonar o cargo em troca do cargo de ministro da Economia justamente do PT, teoricamente o maior inimigo do PSDB. Modesto, Meirelles prefere ser chamado apenas de presidente do Banco Central -ou "governor of the Central Bank" como se irrita sempre o Elio Gaspari.
Agora, Meirelles comete a mágica de transformar o limão dos juros obscenamente altos que praticou em seus seis anos e três meses de gestão em uma gostosa limonada, anunciando que a política econômica é tão bem-sucedida que, ao contrário do que ocorria em crises anteriores, pode dar-se ao luxo de reduzir os juros.
É claro que não é por isso, mas pelo fato de que os juros estão completamente fora de órbita há muito tempo -mas quem há de discutir a limonada de Meirelles, um cidadão tão afável e cordial?
Logo depois da primeira vez que elevou os juros, dias após a posse de Lula, em janeiro de 2003 (de indecentes 25% para obscenos 26,5%), Meirelles caiu em Davos. Cruzei com ele e perguntei como ele convencera o presidente a aumentar uma taxa que já estava nos píncaros.
Respondeu Meirelles: "Disse a ele que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos". Como é óbvio, não se trata de ciência, mas de mandinga pura. Fui ler a Constituição, a Bíblia, a Torá e o Corão, e em nenhum desses livros sagrados está dito que a inflação dispara ao atingir dois dígitos.
Mas Lula acreditou, até porque lhe convinha acreditar. Sabia que Meirelles -e os juros altos- era seu habeas corpus preventivo para uma tentativa de desestabilização por parte dos mercados que o presidente passou a tratar com a reverência de um totem. Daí à limonada foi um passo apenas.
LONDRES - Esse Henrique de Campos Meirelles é um gênio. Primeiro, conseguiu eleger-se deputado federal pelo PSDB apenas para abandonar o cargo em troca do cargo de ministro da Economia justamente do PT, teoricamente o maior inimigo do PSDB. Modesto, Meirelles prefere ser chamado apenas de presidente do Banco Central -ou "governor of the Central Bank" como se irrita sempre o Elio Gaspari.
Agora, Meirelles comete a mágica de transformar o limão dos juros obscenamente altos que praticou em seus seis anos e três meses de gestão em uma gostosa limonada, anunciando que a política econômica é tão bem-sucedida que, ao contrário do que ocorria em crises anteriores, pode dar-se ao luxo de reduzir os juros.
É claro que não é por isso, mas pelo fato de que os juros estão completamente fora de órbita há muito tempo -mas quem há de discutir a limonada de Meirelles, um cidadão tão afável e cordial?
Logo depois da primeira vez que elevou os juros, dias após a posse de Lula, em janeiro de 2003 (de indecentes 25% para obscenos 26,5%), Meirelles caiu em Davos. Cruzei com ele e perguntei como ele convencera o presidente a aumentar uma taxa que já estava nos píncaros.
Respondeu Meirelles: "Disse a ele que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos". Como é óbvio, não se trata de ciência, mas de mandinga pura. Fui ler a Constituição, a Bíblia, a Torá e o Corão, e em nenhum desses livros sagrados está dito que a inflação dispara ao atingir dois dígitos.
Mas Lula acreditou, até porque lhe convinha acreditar. Sabia que Meirelles -e os juros altos- era seu habeas corpus preventivo para uma tentativa de desestabilização por parte dos mercados que o presidente passou a tratar com a reverência de um totem. Daí à limonada foi um passo apenas.
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