quarta-feira, maio 17, 2017

Delator: ‘Mantega distribuía propinas a parlamentares petistas’ - URGENTE


Delator: ‘Mantega distribuía propinas a parlamentares petistas’

Joesley Batista afirmou em sua delação que ex-ministro era seu intermediário
POR LAURO JARDIM 17/05/2017 19:30
O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega - Givaldo Barbosa / Agência O Globo/08-09-2014


RIO — Nem Antonio Palocci, nem Lula. De acordo com o que Joesley Batista contou em sua delação, o ex-ministro Guido Mantega era o seu elo com o PT. Relatou que havia uma espécie de conta corrente para o PT na JBS. Por meio dela, e tendo sempre Mantega como intermediário, irrigava os bolsos de parlamentares petistas.

Ao falar de Mantega, os delatores afirmam que era ele quem operava para o grupo no BNDES. Portanto, eram através de tratativas diretamente com Mantega que se negociavam os aportes ao grupo J&F. Os delatores ressaltam, no entanto, que Mantega não pegava o dinheiro para si próprio, mas sim para o partido.

Joesley disse aos procuradores que Luciano Coutinho, o presidente do BNDES em quase toda a era petista, era duro nas negociações. Mas admite que às vezes se reunia com Coutinho e parecia que Mantega, com quem tratava de propinas para o PT, já antecipara os assuntos da JBS para ele.

Palocci entrou em situação mais light. Joesley disse que o contratou como consultor quando a JBS começou sua escalada. Mas, segundo ele, Palocci atuava mais como uma espécie de "professor de política" ao empresário então neófito entre os gigantes da indústria e da política. Garantiu que Palocci nunca se meteu em seus pleitos ao BNDES — tarefa de Mantega. Mas admitiu que o ex-ministro de Dilma e Lula pediu a ele doação de campanha, via caixa dois. E o dinheiro, claro, foi dado.

Em relação a Lula, Joesley afirmou aos procuradores que não tinha intimidade com o ex-presidente. Narrou, entretanto, um encontro com Lula em que, preocupado, reclamou que as doações, no caixa um ou dois, estavam atingindo cifras astronômicas. Já estariam chamando a atenção. Segundo Joesley, Lula ficou quieto, nada falou e não esticou o assunto.

Em 2014, a JBS foi a maior doadora de campanha: R$ 366 milhões, repassados a diversos partidos, de acordo com dados do TSE. Nesta prestação de contas, claro, só aparece o dinheiro “por dentro”.

(Colaborou Guilherme Amado)

Grampo revela que Aécio pediu R$ 2 milhões a dono da JBS - URGENTE


Grampo revela que Aécio pediu R$ 2 milhões a dono da JBS
Gravação foi entregue por Joesley Batista à PGR. Entrega de dinheiro a primo do senador foi filmada


POR LAURO JARDIM / GUILHERME AMADO
17/05/2017 19:30 / atualizado 17/05/2017 19:39
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) - Valter Campanato/Agência Brasil


Joesley Batista entregou à PGR uma gravação que piora de forma descomunal a tempestade que já cai sobre a cabeça de Aécio Neves. No áudio, o presidente do PSDB surge pedindo nada menos que R$ 2 milhões ao empresário, sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.


O diálogo gravado durou cerca de 30 minutos. Aécio e Joesley se encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. Quando Aécio citou o nome de Alberto Toron, como o criminalista que o defenderia, não pegou o dono da JBS de surpresa. A menção ao advogado já havia sido feita pela irmã e braço-direito do senador, Andréa Neves. Foi ela a responsável pela primeira abordagem ao empresário, por telefone e via WhatsApp (as trocas de mensagens estão com os procuradores). As investigações, contudo, mostrariam para a PGR que esse não era o verdadeiro objetivo de Aécio.

O estranho pedido de ajuda foi aceito. O empresário quis saber, então, quem seria o responsável por pegar as malas. Deu-se, então, o seguinte diálogo, chocante pela desfaçatez com que Aécio trata o tema:

— Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança — propôs Joesley.

— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho — respondeu Aécio.

O presidente do PSDB indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para receber o dinheiro. Fred, como é conhecido, foi diretor da Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente em 2014. Tocava a área de logística.

Quem levou o dinheiro a Fred foi o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma. A PF filmou uma delas.


No material que chegou às mãos de Fachin na semana passada, a PGR diz ter elementos para afirmar que o dinheiro não foi repassado a advogado algum. As filmagens da PF mostram que, após receber o dinheiro, Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG).

Mendherson levou de carro a propina para Belo Horizonte. Fez três viagens — sempre seguido pela PF. As investigações revelaram que o dinheiro não era para advogado algum. O assessor negociou para que os recursos fosse parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.

Não há, portanto, nenhuma indicação de que o dinheiro tenha ido para Toron.

Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha - URGENTE


Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha

Joesley Batista e o seu irmão Wesley confirmaram a Fachin o que falaram a PGR


POR LAURO JARDIM
17/05/2017 19:30 / atualizado 17/05/2017 19:48
Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio Cunha - Ailton de Freitas / Agência O Globo



RIO — Na tarde de quarta-feira passada, Joesley Batista e o seu irmão Wesley entraram apressados no Supremo Tribunal Federal (STF) e seguiram direto para o gabinete do ministro Edson Fachin. Os donos da JBS, a maior produtora de proteína animal do planeta, estavam acompanhados de mais cinco pessoas, todas da empresa. Foram lá para o ato final de uma bomba atômica que explodirá sobre o país — a delação premiada que fizeram, com poder de destruição igual ou maior que a da Odebrecht. Diante de Fachin, a quem cabe homologar a delação, os sete presentes ao encontro confirmaram: tudo o que contaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) em abril foi por livre e espontânea vontade, sem coação.

É uma delação como jamais foi feita na Lava-Jato: Nela, o presidente Michel Temer foi gravado em um diálogo embaraçoso. Diante de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?".

Aécio Neves foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro foi entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).


Joesley relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT. Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS no BNDES.

Joesley revelou também que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após sua prisão, valor referente a um saldo de propina que o peemedebista tinha com ele. Disse ainda que devia R$ 20 milhões pela tramitação de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.

Pela primeira vez na Lava-Jato foram feitas "ações controladas", num total de sete. Ou seja, um meio de obtenção de prova em flagrante, mas em que a ação da polícia é adiada para o momento mais oportuno para a investigação. Significa que os diálogos e as entregas de malas (ou mochilas) com dinheiro foram filmadas pela PF. As cédulas tinham seus números de série informados aos procuradores. Como se fosse pouco, as malas ou mochilas estavam com chips para que se pudesse rastrear o caminho dos reais. Nessas ações controladas foram distribuídos cerca de R$ 3 milhões em propinas carimbadas durante todo o mês de abril.

Se a delação da Odebrecht foi negociada durante dez meses e a da OAS se arrasta por mais de um ano, a da JBS foi feita em tempo recorde. No final de março, se iniciaram as conversas. Os depoimentos começaram em abril e na primeira semana de maio já haviam terminado. As tratativas foram feitas pelo diretor jurídico da JBS, Francisco Assis e Silva. Num caso único, aliás, Assis e Silva acabou virando também delator. Nunca antes na história das colaborações um negociador virara delator.

A velocidade supersônica para que a PGR tenha topado a delação tem uma explicação cristalina. O que a turma da JBS (Joesley sobretudo) tinha nas mãos era algo nunca visto pelos procuradores: conversas comprometedoras gravadas pelo próprio Joesley com Temer e Aécio — além de todo um histórico de propinas distribuídas a políticos nos últimos dez anos. Em duas oportunidades em março, o dono da JBS conversou com o presidente e com o senador tucano levando um gravador escondido — arma que já se revelara certeira sob o bolso do paletó de Sérgio Machado, delator que inaugurou a leva de áudios comprometedores. Ressalte-se que essas conversas, delicadas em qualquer época, ocorreram no período mais agudo da Lava-Jato. Nem que fosse por medo, é de se perguntar: como alguém ainda tinha coragem de tratar desses assuntos de forma tão descarada?

Para que as conversas não vazassem, a PGR adotou um procedimento incomum. Joesley, por exemplo, entrava na garagem da sede da procuradoria dirigindo o próprio carro e subia para a sala de depoimentos sem ser identificado. Assim como os outros delatores.

Ao mesmo tempo em que delatava no Brasil, a JBS mandatou o escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe para tentar um acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos EUA (DoJ). Fechá-lo é fundamental para o futuro do grupo dos irmãos Batista. A JBS tem 56 fábricas nos EUA, onde lidera o mercado de suínos, frangos e o de bovinos. Precisa também fazer um IPO (abertura de capital) da JBS Foods na Bolsa de Nova York.

Pelo que foi homologado por Fachin, os sete delatores não serão presos e nem usarão tornozeleiras eletrônicas. Será paga uma multa de R$ 225 milhões para livrá-los das operações Greenfield e Lava-Jato que investigam a JBS há dois anos. Essa conta pode aumentar quando (e se) a leniência com o DoJ for assinada. (Colaborou Guilherme Amado)

Fim da inocência - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 17/05

RIO DE JANEIRO - Acompanho há anos os menininhos que jogam pelada na praia do Leblon, perto do Posto 11, por onde passo toda manhã, a pé, a caminho do Arpoador. Eles têm seis ou sete anos e ainda não sabem, mas, um dia, talvez se lembrem desses momentos como os mais felizes de suas vidas.

Apesar de que, quando se é criança, é difícil jogar na areia. Para suas perninhas curtas, qualquer pequena elevação no terreno é uma duna intransponível. E há sempre uma mãe na torcida para fazer um garoto passar vergonha, mandando-o sair porque está na hora da sua aula de piano.

Até há pouco, o futebol dos meninos seguia a norma das peladas nessa idade: um cobrinha de cada lado; os dois piores ou mais gordos, nos gols; jogava-se com ou sem camisa, ninguém se confundia. E nada de tática: todos defendiam e atacavam e, onde estivesse a bola, iam todos —o que a dominasse partia com ela rumo ao gol, perseguido pelos demais, até ser desarmado por um adversário. Era este então que zarpava com a bola na direção contrária, também perseguido por todo mundo e também até ser desarmado. Tudo, claro, na maior algazarra.

Mas, como falei, isso foi até há pouco. Tenho observado uma mudança no padrão de jogo dos meninos. Cada time usa agora um colete de certa cor, colete este quase do tamanho deles. Há várias bolas atrás dos gols. Quem fornece esses coletes e bolas? E os meninos já não tentam sair driblando. Ao contrário, não se dá mais que um toque na bola. A ideia é entregá-la ao companheiro mais bem colocado e deslocar-se para receber de volta.

Pronto. É o fim da inocência. Esses garotos de sete anos já devem estar pensando em coisas como 4-4-2 ou 4-3-2-1, agentes, luvas, contratos. E aposto que, ao meu lado no calçadão, está um olheiro do Real Madrid. Talvez o mesmo que descobriu o Vinicius Jr., do Flamengo.

Uma possível democracia imperfeita - SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR.

GAZETA DO POVO - PR - 17/05

O demagogo patológico é um louco que pensa que é são; é um mentiroso contumaz sem qualquer limite moral: se preciso for, vende a mãe, penhora a tia e entrega a avó


A realidade está posta: a classe política que aí está não resolverá os graves e urgentes problemas que afligem os brasileiros. Uma vez feito o diagnóstico, nasce a possibilidade da cura. A jornada, todavia, é longa e não está imune a riscos. Aqui, antes de respostas rápidas, devemos procurar a consciência do pensamento reflexivo.

A vida ensina que sistemas complexos, quando governados por gente despreparada e incompetente, tendem ao caos. Ilustrativamente, basta olhar para o Brasil de ontem: um desgoverno corrupto nos colocou na maior recessão de nossa história, implodindo com as contas públicas e condenando mais de 14 milhões de pessoas à orfandade do desemprego. É triste ver o que foi feito, mas, sem a coragem de ver o que se é, torna-se impossível chegar àquilo que se pode.

Objetivamente, no ambiente plural e aleatório da política, o equilíbrio possível da governabilidade requer a especial capacidade de criação de consensos mínimos em instáveis situações dinâmicas. Por assim ser, a atividade política moderna não é mais um espaço para amadores nem charlatães. A época dos papagaios de auditório acabou. E acabou porque as pessoas não toleram mais ser enganadas pela mentira cínica de gente desonesta e corrupta.


A mentira é o porta-estandarte do cinismo demagógico 

No superado modelo político patrimonialista, bastava mentir e enganar copiosamente o povo. O enredo é conhecido por todos nós: quando a safadeza saía de controle, bastava o palaciano de plantão vir a público, prometer mudanças vãs e criar expectativas de reformas. Em vez de soluções, recebíamos placebo. Com isso, o tempo passava, os ânimos se acalmavam e tudo ficava exatamente como estava.

Sabidamente, a mentira é o porta-estandarte do cinismo demagógico. Aliás, nossa demagogia, além de cínica, é patológica. O demagogo patológico é um louco que pensa que é são; é um mentiroso contumaz sem qualquer limite moral: se preciso for, vende a mãe, penhora a tia e entrega a avó. No cair do sol, como a verdade tem gosto de água benta, prefere a cachaça da falsidade cotidiana. E, assim, se mantém inebriado em seu personalismo narcisista, criando um mundo fantasioso no qual pensa ser um anedótico rei onipotente.

Em tempo, o Brasil está mudando. A democracia na fronteira tecnológica não tolera mais inverdades públicas e repudia a farsa democrática. No entanto, o processo de renovação da vida pública nacional exige a dedicação de um civismo transformador. Além de enfrentar a desesperada resistência da estrutura viciada, a construção de um projeto político virtuoso pressupõe respaldo parlamentar e consistente apoio das ruas. Logo, além de novas lideranças políticas, precisaremos de uma cidadania engajada e persistente na defesa de medidas necessárias ao desenvolvimento brasileiro.

As transições históricas, além de potencializar ansiedades, trazem consigo os riscos de retrocessos. Ao olhar para o mundo em 1932, a visão superior de Paul Valéry enxergou longe: “Nunca a humanidade reuniu tanto poder com tanta desordem, tanta preocupação, tanta irresponsabilidade, tantos conhecimentos e tantas incertezas. A inquietude e a futilidade dividem os nossos dias”. Poucos anos depois, a inquietude foi transformada em guerra mundial e a futilidade virou violência descontrolada.

É preciso, portanto, aprender com o passado, deixando que as cinzas da história se transformem em cores de um futuro promissor. Se deixarmos as mudanças que queremos entregues ao vácuo, corremos o risco de reviver um trágico populismo radical. Embora possa mudar de nome, os males humanos seguem substancialmente os mesmos. Logo, a era da pós-verdade também é o tempo do pós-totalitarismo. No fim, como sempre, só a democracia salva, apesar de imperfeita.

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado.

Efeitos da queda do juro deverão ser sentidos no segundo semestre - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 17/05

Divulgado nesta semana, o indicador de atividade do Banco Central (IBC-Br), considerado (com algumas ressalvas) como variável que antecipa o PIB, mostrou um bom desempenho no primeiro trimestre deste ano, crescendo 1,1% na comparação com o último trimestre de 2016, já ajustado ao padrão sazonal, apesar de a leitura de março não ter sido particularmente animadora.

É o primeiro registro positivo nessa série desde o último trimestre de 2014 (quando a atividade cresceu anêmico 0,1%) e o mais forte desde o segundo trimestre de 2013.

Por qualquer ângulo, trata-se do melhor resultado da atividade em muito tempo. Muito embora isso possa ser suficiente para caracterizar a passagem pelo fundo do poço e talvez até o fim oficial da recessão (um veredito a ser dado pelo competente trabalho do Codace, Comitê de Datação de Ciclos Econômicos ), há ainda um longo caminho a percorrer.

Colocando os números em perspectiva, começo notando que entre o quarto trimestre de 2013 (o máximo da série) e o quarto trimestre de 2016 o indicador encolheu exatos 10%. Assim, mesmo com o crescimento agora registrado, nos encontramos ainda quase 9% abaixo do pico.

Afora isso, não parece provável que observemos no segundo trimestre o mesmo comportamento do primeiro. Isso não quer dizer que a economia deva escorregar em nova rodada recessiva; apenas que a retomada será bastante gradual, o que é esperado à luz da intensidade da crise.

Os efeitos da queda dos juros só deverão se materializar com mais força na segunda metade do ano, em particular sobre a demanda interna, esta sim o fator de maior influência para determinar a recuperação cíclica da economia. Assim, se não houver nenhuma revisão significativa dos dados, estaremos nos encaminhando para a retomada do crescimento ao longo de 2017, com efeitos sobre emprego apenas no fim do ano.

Feitas as ressalvas acima, é sempre interessante contrastar o que ocorreu com certas previsões feitas há pouco. Em particular, os caras de pau têm sido bastante explícitos em suas afirmações acerca da impossibilidade de a economia crescer sob o atual arranjo de política econômica, considerada por eles como "austericídio".

Não se trata, é bom deixar claro, de algo na linha "cresceremos, mas poderíamos mais, não fosse esse conjunto de políticas". Como regra, o que se lê e ouve desse pessoal são declarações estabelecendo que o crescimento não poderia, de forma alguma, ocorrer. A realidade, como se vê, discorda...

Disso é possível tirar algumas conclusões, além, é claro, de que os caras de pau não perderam a mão para errar previsões.

Em primeiro lugar, que o diagnóstico da crise como resultado da suposta austeridade fiscal não se sustenta com base em nenhuma evidência empírica que se queira. Se restava alguma dúvida, os números do primeiro trimestre estão aí para dirimi-la.

Por outro lado, a explicação da crise como resultado do desarranjo fiscal ganha força. Medidas como o teto para a despesa federal e avanços na reforma previdenciária deveriam, nesse caso, favorecer a recuperação por meio da queda do risco-país e do juro real, como observado.

Não creio, é óbvio, que nenhum cara de pau corra o menor risco de aprender com seus fracassos; mas que é divertido expô-los, isso eu não posso negar.

Emprego melhor hoje, difícil amanhã - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 17/05

PELA PRIMEIRA vez desde o final de 2014 registra-se um trimestre com aumento do número de pessoas com registro em carteira de trabalho.

Foram pouco mais de 38 mil empregos extras até abril. Não faz cócegas no desemprego de 14 milhões, nem nos quase 3 milhões de empregos formais perdidos desde abril de 2014.

Mas:

1) O resultado de abril foi um tico melhor do que o esperado; 2) Dados os demais resultados fracos da economia em março e, suspeita-se, ruins em abril, foi um alívio;

3) Começava-se a ouvir aqui e ali conversas sobre risco de recaída ("double dip") na recessão, tanto que quase todo o mundo chuta que o Banco Central deve acelerar a redução da taxa de juros no fim deste mês.

Em resumo, continua a esperança na estagnação, para escrever de modo tristemente sarcástico: no crescimento previsto de 0,5% neste ano, por aí. É um alívio relativo, de quem está com água pelo nariz, ainda sob risco de afogamento.

No miolo dos números dos registros do Ministério do Trabalho (Caged), nota-se onde a recessão ainda faz estragos maiores.

No ano, os números voltaram ao azul pálido em boa parte do país, mas não no Nordeste inteiro e no pequeno Norte. Alagoas está em colapso; Pernambuco, Paraíba e Sergipe vão muito mal. No centro-sul, apenas o Rio, com seus tristes tiques venezuelanos, está no vermelho.

Negócios que dependem do consumo de varejo, economia doméstica, vão mal, tal como o comércio, a indústria de alimentos e serviços de alojamento, alimentação, reparos e manutenção. O desastre na construção civil continua, mas em ritmo menor.

Setores que tiveram algum alívio com a substituição de importações (algumas indústrias) e, ainda curioso, o de ensino, contratam mais.

Em resumo, ainda prossegue o desmonte do emprego que tanto floresceu nos anos petistas finais, vagas de trabalho em parte bancadas por gastos públicos e de um aumento de dívidas (crédito) insustentáveis em ambiente de preços de commodities e real em alta.

Em particular, sob Dilma Rousseff, floresceram os empregos no comércio e nos pequenos serviços, de baixa produtividade.

Desde 2001, foram os anos em que a indústria mais perdeu participação no total de empregos formais, mesmo dando o desconto de que parte disso foi de fato terceirização de serviços antes colocados na conta da indústria.

Foi um período de valorização demencial do real (quem se lembra do dólar a R$ 1,55, em 2011?) e de inflação de custos industriais, ainda mais grave porque em um momento de queda de preços no mercado mundial de produtos manufaturados. Desde então recomeçou o desmonte assustador da indústria brasileira.

Com a perspectiva de retomada lenta, a possível melhora da economia não virá com empregos bastantes.

Os empregos do pequeno comércio e de serviços simples ainda vão desaparecer. A indústria diminuída e com capacidade ociosa deve contratar pouco. A construção civil ainda está em um beco sem saída, presa na míngua do investimento público em obras, no crédito represado por retranca bancária e dívida das famílias e nas concessões travadas de obras e serviços públicos para empresas privadas.

Serão anos de desemprego alto.

Progresso comum nas Novas Rotas da Seda - LI JINZHANG

O GLOBO - 17/05

China assinou acordos com mais de 40 países e organizações internacionais e está implementando mecanismos de cooperação industrial com 30 nações


Teve lugar nos últimos dias 14 e 15, em Pequim, o Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional (BRF, na sigla em inglês). O evento, centrado na iniciativa proposta pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, reuniu mais de 1.500 representantes de uma centena de países e organizações internacionais, entre eles mais de 30 chefes de Estado ou de governo e dignatários da ONU, do FMI e do Banco Mundial. Sob o tema “Fortalecer a cooperação internacional, construir juntos o ‘Cinturão e Rota’ e alcançar um desenvolvimento de benefício mútuo”, os participantes trocaram opiniões, chegaram a amplos consensos e obtiveram resultados frutíferos.

O primeiro desses resultados é a concertação das políticas e estratégias de crescimento para formar a sinergia de desenvolvimento coordenado. Nos últimos quatro anos, no quadro da iniciativa, a China assinou acordos com mais de 40 países e organizações internacionais e está implementando mecanismos de cooperação industrial com três dezenas de nações. Entre 2014 e 2016, a China movimentou US$ 3 trilhões de comércio com os países ao longo das novas rotas da seda e fez um investimento acumulado superior a US$ 50 bilhões. Empresas chinesas estabeleceram 56 zonas de cooperação econômica e comercial com mais de 20 países, onde se criaram cerca de US$ 1,1 bilhão em receita tributária e 180 mil postos de trabalho. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura ofereceu um crédito de US$ 1,7 bilhão para a iniciativa, enquanto o Fundo Rota da Seda fez um aporte na ordem de US$ 4 bilhões. Durante o fórum, mais acordos foram firmados, e mais de 60 países e organizações internacionais manifestaram o interesse de fomentar a facilitação do comércio entre os envolvidos na iniciativa.

O segundo resultado foi a elaboração do mapa de rota, definindo as áreas prioritárias e a trajetória das ações. A iniciativa “Cinturão e Rota” abrange a conexão de políticas, infraestrutura, comércio e financiamento, bem como o entendimento entre os povos. Os participantes escolheram a conectividade como a principal área de cooperação, ligando as passagens terrestres e os portos marítimos, construindo uma rede de infraestrutura baseada em ferrovias, portos e dutos. A proposta também prevê fortalecer a cooperação entre autoridades aduaneiras e de inspeção de qualidade e impulsionar a compatibilidade entre os sistemas de regulamentação e padronização; acelerar a construção de corredores econômicos para alavancar a cooperação industrial por meio da criação de parques de comércio e indústria e zonas de cooperação econômica transfronteiriça; expandir os canais de financiamento para reduzir os custos e estabelecer um sistema de salvaguarda financeira de maneira estável, sustentável e com os riscos sob controle; apoiar as cooperações nos âmbitos de educação, ciência e tecnologia, cultura e saúde; e estreitar os intercâmbios de turismo, think tanks e veículos de imprensa, promovendo a facilitação do fluxo de pessoas.

O terceiro foi o lançamento de novas medidas para aprofundar as cooperações pragmáticas. Durante o evento, o presidente Xi Jinping anunciou que a China fará um aporte adicional de 100 bilhões de yuans no Fundo Rota da Seda e encorajará as instituições financeiras a investir 300 bilhões de yuans no exterior. Além disso, o China Development Bank e o China Eximbank oferecerão linhas de crédito de 250 bilhões de yuans e 130 bilhões de yuans respectivamente, destinadas especificamente a projetos de infraestrutura, indústria e cooperação financeira. Ao mesmo tempo, a China vai elaborar diretrizes de financiamento com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, o Banco Mundial e outras instituições multilaterais para apoiar os projetos. Nos próximos três anos, o governo chinês vai proporcionar 60 bilhões de yuans em ajuda a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem da iniciativa, sobretudo em programas sociais. Fornecerá também uma ajuda alimentar de emergência estimada em 2 bilhões de yuans a países em desenvolvimento ao longo das rotas. Fará um novo aporte de US$ 1 bilhão para o Fundo de Assistência à Cooperação Sul-Sul e outro US$ 1 bilhão a organizações internacionais para implementar uma série de projetos que beneficiam os povos. Nos próximos cinco anos, a China oferecerá 2.500 vagas a jovens cientistas para fazer pesquisas de curto prazo, treinará 5 mil técnicos e administradores na área de ciência e tecnologia, assim como colocará em operação 50 laboratórios conjuntos.

A iniciativa “Cinturão e Rota” é, até o momento, o mais importante produto de política pública que a China disponibiliza para o mundo. A participação de representantes do Brasil e de outros países latino-americanos demonstra que a iniciativa, embora inicialmente proposta pela China, é compartilhada pela comunidade internacional em vez de ser o monólogo chinês. Cobrindo diferentes regiões, distintos estágios de desenvolvimento e várias civilizações, essa inciativa é uma plataforma aberta e inclusiva que cria um bem público global. Tendo como centro o continente eurasiano, a iniciativa acolhe todos os amigos que se identifiquem com o espírito da Rota da Seda e persistam nos princípios de consulta conjunta, construção conjunta e desenvolvimento conjunto, sem excluir ou se opor a nenhuma parte. Todos serão parceiros equitativos e poderão fazer parte da inciativa da maneira que julgarem adequada. Com isso, vamos criar novas oportunidades de crescimento, buscar novas forças motrizes, expandir novos espaços para alcançar vantagens complementares e benefício mútuo, fazendo avanços em direção a uma comunidade de destino compartilhado.

Nos últimos anos, com o espírito de igualdade, benefício mútuo, cooperação e ganhos recíprocos, China e Brasil conquistaram avanços positivos na concertação de políticas, conexão de infraestrutura, fluidez do comércio, circulação de moedas e entendimento mútuo. Em um futuro próximo, os dois países devem fortalecer ainda mais a coordenação de suas estratégias de desenvolvimento, ampliar a cooperação em investimento, capacidade industrial e infraestrutura, promover a facilitação de comércio e investimento e estreitar intercâmbios humanísticos. Tenho a convicção de que as novas iniciativas e medidas lançadas no BRF contribuirão não só para aperfeiçoar a governança global e promover a criação de uma comunidade de destino compartilhado, como também oferecer novas ideias e novo impulso às nossas relações bilaterais.

Li Jinzhang é embaixador chinês no Brasil

Megaprojeto de infraestrutura é símbolo da China superpotência - MARCOS TROYJO

FOLHA DE SP - 17/05

Com a chegada de Xi Jinping ao comando do poder na China há quatro anos, o país operava sua terceira reinvenção desde a Revolução Maoísta de 1949.

Tal evolução ganhou grande relevo nesta semana, com o mandatário chinês liderando reunião em que quase 70 países se fizeram representar num fórum em Pequim sobre a nova rota da seda projetada pelos chineses —o projeto "One Belt, One Road" (ou "Obor").

O Obor é a grande jogada de infraestrutura de pontes, estradas, ferrovias, túneis, gasodutos e outras operações logísticas que buscam interligar Ásia e Europa.

No todo, o Obor é o maior projeto de fomento infraestrutural que o mundo já viu desde o Plano Marshall. Ele não apenas consolida a China como superpotência econômica, mas também reforça o epicentro chinês como dinamo da ascensão asiática.

Na primeira reinvenção chinesa nada havia de perceptível da superpotência em que o país se transformaria. Com Mao Tsé-tung no poder, a China buscou eliminar vestígios das dinastias imperiais e adotar o regime comunista e seus traços característicos: coletivização da propriedade e trabalho no campo. Estatização dos meios de produção e asfixia da iniciativa privada. Xenofobia econômico-ideológica rumo à autarquia em seu estágio mais insular.

Metas estipuladas por burocratas comissários, crença na infalibilidade do Grande Timoneiro Mao e a formação do "novo homem" da Revolução Cultural produziram milhões de mortos e dissidentes —e uma economia esquálida.

A segunda reinvenção, liderada por Deng Xiaoping desde 1978, valeu-se da disposição dos EUA, no contexto da Guerra Fria, em oferecer recompensas pontuais a Pequim pelo distanciamento em relação a Moscou.

A China passou então a gozar desde 1979 do status de "nação mais favorecida" em seu comércio com os EUA. Reinventou-se, assim, como país que dispunha de acesso privilegiado aos grandes mercados compradores do mundo. Pequim elaborou de forma pioneira um regime de parcerias com empresas estrangeiras de modo a incentivar o capital que se estabelecia na China a também investir em infraestrutura.

Os chineses mantiveram câmbio e custos de produção artificialmente subvalorizados e exerceram agressiva diplomacia empresarial. Com esse modelo de nação-comerciante, a "globalização profunda" dos últimos 30 anos arremessou a China à posição de segunda maior economia do planeta.

A terceira reinvenção, contemporânea à chegada de Xi ao poder em Pequim e ao desenrolar do projeto Obor, tem se dado por razões externas e internas.

As que vêm de fora: a crescente resistência de mercados externos —sobretudo EUA e Europa— à continuação de uma grande receita exportadora por parte da China. Além do que, num mundo em que empregos parecem mais importantes que lucros, a ênfase dada à noção de conteúdo local por parte de americanos e europeus diminui a porosidade desses mercados aos produtos "Made in China".

As que vêm de dentro: as próprias políticas contracíclicas adotadas por Pequim conduziram a um quadro em que os chineses têm salários mais altos —consomem mais; poupam e investem menos.

No limite, trata-se de reinvenção com vistas a um modelo em que a China crescerá menos —mas talvez melhor. O fato é que a maciça acumulação de excedentes por parte do governo e das empresas chinesas permite ao país uma escalada nos investimentos em infraestrutura na sua esfera de influência geoeconômica e em ciência e tecnologia.

Esta terceira reinvenção chinesa tem na ideia de inovação endógena e na infraestrutura na Eurásia suas palavras de ordem. Não é de surpreender, assim, como a China tem multiplicado exponencialmente patentes geradas a cada ano.

Resta saber se, ao lado do Obor, a almejada inovação em série poderá continuar a florescer de uma sociedade em que, apesar de inegáveis conquistas que conduziram ao status de superpotência econômica, na política ainda se respiram rarefeitos ares democráticos.


De novo o caminho das reformas - RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ

ESTADÃO - 17/05

Essa solução moderada é defendida pela grande maioria dos alheios ao messianismo lulopetista



Em face da tarefa de reestruturar as instituições após o tsunami lulopetista, duas alternativas se abrem: as reformas ou a convocação de uma nova Constituinte. A maioria dos intelectuais e homens públicos que pensam o Brasil acolheu-se à primeira alternativa. Parcela menor elegeu a segunda.

Entre os defensores desta última aparecem vozes autorizadas. como a do economista Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Kaduna Consultoria. A propósito da proposta de fazer tudo de novo, mediante a convocação de uma Assembleia Constituinte específica, escreveu Giannetti da Fonseca no artigo Constituinte já! (Estado, 30/4, A2): “A falência de um sistema político, assim como de uma empresa, pressupõe a imediata mudança de sua administração e a responsabilidade de seus acionistas. No caso do atual sistema político, significa a imediata convocação, ainda em 2017, de uma Assembleia Constituinte independente, com mandato parcial específico para promover a tão esperada reforma política e a correção de erros históricos (...), mas que até hoje fomos incapazes de corrigir. Torna-se imperativo (...) que seja uma Constituinte independente, com os integrantes eleitos diretamente e impedidos de participar das eleições e de ocupar cargos públicos até 2022, para se evitarem conflitos de interesses. E que essa revisão seja de fato profunda e abrangente, a começar pela reforma da estrutura político-partidária, de forma a reduzir o absurdo número de partidos (...)”.

Incumbências dessa assembleia também seriam a redução da onerosa estrutura do Legislativo, a eliminação do foro privilegiado, a adoção de um sistema de representação mais de acordo com o nosso modelo demográfico e a alteração da forma de nomeação dos integrantes dos tribunais superiores, entre outras.

Entre os defensores da primeira alternativa, identificada com o prosseguimento das reformas em curso do Congresso Nacional, está a grande maioria dos intelectuais e homens públicos alheios ao messianismo lulopetista, que acreditam nos caminhos das reformas efetivadas pelas instituições atuais, alinhando-se a uma solução moderada, típica da nossa estrutura cultural. Já se manifestaram sobre isso o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual presidente, Michel Temer, e altos funcionários do Estado, como o comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas. Manifestaram-se nesse sentido, também, intelectuais como Luiz Werneck Vianna, Bolívar Lamounier, Denis Rosenfield e muitos outros, entre os quais me incluo, bem como jornalistas da talha de José Nêumanne, Eliane Cantanhêde, Vera Magalhães, Miriam Leitão, Dora Kramer, etc.

Considero, honestamente, que esse é o caminho a prosseguir, por várias razões. Em primeiro lugar, porque nem tudo está contaminado pelo vírus das práticas corruptas, tanto no seio do Parlamento quanto no interior da magistratura ou dos quadros administrativos que compõem o Executivo. Quando foram denunciados pelo Ministério Público ao Poder Judiciário, tendo esta acolhido, na forma da lei, essas denúncias, os atores marcados pelas práticas corruptas têm sido colocados de fora sem contemplações. Reconheçamos tratar-se de um caminho difícil, que exige muita negociação e paciência, com os altos e baixos dos debates parlamentares e das manifestações da opinião pública. Mas essa saída tem mostrado que as instituições republicanas funcionam. Destaque-se o papel de negociador com o Congresso que tem sido desempenhado a contento pelo presidente Temer, profundo conhecedor do meio parlamentar.

A respeito da premência das reformas que estão sendo efetivadas, o general Villas Bôas destacou a importância da variável ética como motor daquelas. A esse respeito o alto oficial frisou, em entrevista à revista Veja (26 de abril): “Considero importante que se dê a celeridade possível ao julgamento dos casos, porque acho perigoso que as pessoas de bem comecem a ficar descrentes, e às vezes até descrentes da democracia. Aí você começa a abrir espaços para atalhos. O Brasil vai ter de se repactuar. E o único parâmetro universal para que se faça isso é o princípio ético e moral. O que me preocupa é que acho que não apareceu uma base de pensamento alternativa nem uma base que propicie o surgimento de uma liderança”.

A respeito da confiança na democracia brasileira e das expectativas com que são esperadas as reformas que estão em andamento, escreveu a jornalista Eliane Cantanhêde (Estadão, 30/4): “Conforme dizem empresários do campo e da cidade e confirmam embaixadores estrangeiros em Brasília, a reforma da Previdência e os próximos três meses serão cruciais para saber o que vai acontecer e o mundo apostar ou não suas fichas e investimentos no Brasil. Aliás, esses embaixadores estão perplexos com a corrupção descomunal, mas também com a força da democracia brasileira. Apesar de dois anos de recessão, mais de 14 milhões de desempregados, a Lava Jato atingindo oito ministros e dezenas de parlamentares e um dia inteiro de protestos e fogo na TV, as instituições funcionam normalmente: o Executivo governa, o Legislativo vota, o MP investiga, o Judiciário julga. Que país do mundo enfrentaria todas essas crises simultâneas sem risco de ruptura, golpe, implosão?”.

Que as reformas em curso prossigam, notadamente aquela que foi preconizada pelo recente Debate Estadão e sintetizada nestes termos por editorial deste jornal: “(...) a chamada cláusula de barreira, ou de desempenho, destinada a restringir o acesso a recursos públicos diretos, como os do Fundo Partidário, ou indiretos, como aqueles que patrocinam na mídia eletrônica o horário eleitoral dito gratuito (...)”.

*Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF, professor emérito da Ecame, é docente da Faculdade Arthur Thomas – Londrina

O negativo e o positivo - MÍRIAM LEITÃO

O Globo - 17/05

A agricultura salvou o PIB do primeiro trimestre e o setor pecuário está sob investigação. Esse é apenas um exemplo da complexidade dos tempos atuais, em que além de sair de uma crise econômica de grandes proporções, o país tem que enfrentar o efeito de decisões erradas e desvios de conduta. Isso leva a um cenário cheio de pontos positivos e negativos.

Depois de um ano de queda por razões climáticas, a produção de grãos deu um salto, recuperando-se da quebra de safra e batendo recorde de produção e produtividade. O agronegócio brilhou neste começo de ano, permitindo os primeiros dados positivos depois de um mar de indicadores negativos na atividade econômica. Mas um setor do agronegócio, a produção de carne, está sob investigação em várias frentes ao mesmo tempo.

A “Operação Carne Fraca” foi muito mais do que se tentou estigmatizar, com a paródia do papelão. O que houve de fato é que a Polícia Federal pegou pequenos e grandes frigoríficos com problemas sanitários localizados e muitos indícios de corrupção. Entre os grandes estão JBS e BRFoods. Na sexta-feira, a “Operação Bullish" foi contra as bases dos empréstimos, compra de debêntures e conversão em ações do grupo JBS no BNDES. O próprio banco instaurou comissão para apurar os fatos. Ainda ontem, a “Operação Lucas” estava atrás de corrupção no Ministério da Agricultura, na relação entre fiscais e o frigorífico Minerva. E há novas investigações em curso.

O setor de carne sofre o efeito da promiscuidade na sua relação com o governo, que sempre existiu e se agravou nos últimos anos. Os casos de fiscais pagos pelos fiscalizados não são raros no setor. E foi isso que se viu numa das partes da denúncia da “Operação Carne Fraca” e aparece agora na “Lucas”. O crescimento do setor se baseou em grande parte na dependência excessiva dos aportes de bancos estatais e alguns foram muito lesivos aos cofres públicos. É natural que o TCU e o Ministério Público investiguem.

Cada ponto dessa crise tem uma razão específica. No caso da carne é a soma de anos de erros na política de usar a alavanca governamental para crescer e conquistar o mercado externo. O curioso é que o auge do intervencionismo estatal no setor não coincide com o melhor desempenho das exportações brasileiras. O Brasil é competitivo na atividade, não era necessária uma política estatal para que isso acontecesse.

Em todos os outros setores da economia, o país tem se alternado entre notícias negativas e positivas. Ontem o Ministério do Trabalho divulgou a criação líquida de 60 mil empregos formais em abril, mas o país continua sem saber quando vai reduzir de forma significativa o nível recorde de desempregados. A cena é complicada nessa saída da recessão. A própria retomada não está garantida porque o grau de incerteza é enorme na política. Na economia também há dilemas que não se sabe como resolver, como o das empresas, de diversas áreas, que ficaram muito endividadas na crise e estão sem fôlego para voltar a contratar e investir. Todas as grandes construtoras do país foram tragadas pelas investigações da Lava-Jato, tiveram suas diretorias dizimadas após as revelações sobre os crimes que cometeram. Nem todas vão sobreviver. Na área fiscal, a dúvida permanece. O buraco é enorme. A dívida pública continua aumentando e a volta ao equilíbrio primário vai demorar anos para acontecer.

Nos últimos dias saíram algumas notícias boas como o lucro da Petrobras, o primeiro desde 2015, a captação de bônus no exterior a volumes maiores do que o esperado. Isso ajuda a mudar um pouco o perfil da dívida da companhia, que foi atingida em cheio pela corrupção e má gestão nos dois últimos governos. Mas a estatal continua a petrolífera mais endividada do mundo. O Banco Central divulgou um número positivo de atividade neste primeiro trimestre, porém a maioria dos analistas prevê um segundo trimestre mais fraco do que o primeiro e uma recuperação muito lenta.

Este é o tempo de um indicador em alta num dia, e outro em queda no dia seguinte. Essa gangorra é ruim, mas é melhor do que nos últimos dois anos, em que havia uma queda num dia e no outro também. O país está saindo assim claudicante dessa crise, sem ter certeza se ela chegou realmente ao fim.

Vice decorativo - MERVAL PEREIRA

O Globo - 17/05

Foi providencial Michel Temer se declarar um “vice decorativo” naquela carta que enviou à então presidente Dilma, na qual se queixava de estar relegado a plano secundário no governo. Esse tratamento depreciativo por parte da ex-presidente, citado na carta, pode levar à sua absolvição no processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julga o abuso de poder econômico na campanha presidencial.

A possibilidade de absolver Temer e condenar Dilma separando as contas de campanha, que não é apoiada pela jurisprudência do TSE, foi aberta inadvertidamente (será?) pelo vice-procurador-geral Eleitoral, Nicolao Dino, por outra vertente.

No seu parecer ele afirma que não encontrou nos autos do processo elementos que liguem o presidente atual aos financiamentos ilegais da campanha revelados pelos executivos da Odebrecht. Ele considera que não há sequer indícios de que Temer tivesse conhecimento da prática de qualquer ilícito E vai mais adiante: diz não haver elementos que liguem o então candidato a vice-presidente aos fatos relatados nos autos.

Mesmo assim, Nicolao Dino pede que a chapa Dilma-Temer seja cassada, mas com penas distintas para cada um de seus componentes. A ex-presidente Dilma ficaria inelegível por um período de oito anos, enquanto Temer, sem poder ser responsabilizado pelos atos ilícitos, continuaria com seus direitos políticos intactos.

Essa sentença, se acolhida pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral, ocasionaria a estranha situação de um presidente cassado poder ser eleito em seguida, de maneira indireta, pelo Congresso, retornando ao governo. Isso porque a cassação da chapa obrigaria a uma nova eleição, desta vez indireta, para um mandato tampão até a eleição de 2018. Temer provavelmente seria eleito, pois continua tendo a maioria do Congresso, e a solução esdrúxula impediria que o país entrasse em novo ciclo eleitoral, causando graves prejuízos à economia que, mal ou bem, começa a sair da depressão.

O julgamento será retomado pelo TSE no dia 6 de junho, com dois novos ministros: Henrique Neves foi substituído por Admar Gonzaga, e a ministra Luciana Lóssio saiu para Tarcísio Vieira de Carvalho entrar. Não é certo que o julgamento prossiga, pois um dos dois ministros nomeados por Michel Temer pode pedir vista do processo, que tem 29 volumes, com depoimentos de mais de 50 testemunhas.

Ao que tudo indica, porém, há uma tendência no TSE de resolver o caso o mais rapidamente possível, retirando do caminho uma insegurança política imediata. Se, como salientou o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, somente com a definição da eleição presidencial de 2018 os investimentos voltarão ao país (ou não), imaginem se um problema adicional, uma nova eleição para mandato-tampão, saísse do TSE.

É por isso que a tese da “garantia da governabilidade” entra na análise dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, e o seu presidente, ministro Gilmar Mendes, sempre ressalta que o tribunal é “cauteloso” em decisões complexas.

O ministro recém-empossado Admar Gonzaga, em entrevista recente ao GLOBO, disse acreditar que todo juiz tem responsabilidade política “até porque o objeto da nossa jurisdição tem um viés político considerável. Não porque sofremos interferência política, mas porque as decisões tomadas aqui têm essa repercussão”.

Pelas provas que estão nos autos, além das delações premiadas dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que foram acrescentadas, é impossível não constatar que houve abuso de poder econômico na campanha de 2014, com a utilização de dinheiro desviado de obras públicas por diversas empreiteiras.

A falta de responsabilidade do vice-presidente Michel Temer, constatada pelo procurador-geral Eleitoral, pode levar a uma decisão majoritária que possibilite a absolvição de Temer e a condenação da ex-presidente Dilma, o que a levaria a perder os direitos políticos que lhe foram garantidos quando do seu impeachment, por uma decisão tão heterodoxa quanto seria essa de separar as punições numa chapa que é teoricamente indivisível.

E ainda pode não acontecer nada. Como a ex-presidente Dilma já foi impedida, arma-se o entendimento de que o processo perdeu o objeto. Ninguém seria punido, apesar das provas avassaladoras sobre abuso do poder econômico. Um jeitinho bem brasileiro.

A lição da XP sacudiu a banca - ELIO GASPARI

O GLOBO - 17/05
O Itaú pode ter feito no século XXI o que muitos quatrocentões não fizeram no XX e quebraram

A compra pelo banco Itaú de metade da corretora XP Investimentos por R$ 5,7 bilhões é uma grande notícia, mesmo para quem não tem um tostão aplicado no mercado de capitais. A notícia é boa porque sinaliza vitalidade, um atributo raro nas grandes empresas brasileiras. Em 1943, quando os grandes bancos de Pindorama eram geridos por quatrocentões de muitos sobrenomes, Amador Aguiar, um bancário caladão, abriu a primeira agência do Bradesco na cidade de Marília. Nesse tempo, achava-se que entrar em banco era coisa de rico, e o gerente ficava trancado numa sala. No Bradesco, a mesa do gerente ficava no salão de atendimento, e os funcionários ensinavam os clientes a preencher cheques. Passados oito anos, em 1951, o banco de Amador Aguiar era o maior do país. Aos poucos, a banca tradicional se desmilinguiu.

Em 15 anos a XP Investimentos tornou-se a maior corretora independente do país, com 300 mil clientes e R$ 69 bilhões em aplicações financeiras. Seu sucesso, bem como o de algumas casas do gênero, veio da agressividade, do uso da internet e da capacidade de prestar serviços que os grandes bancos não oferecem. No século passado, havia gente que tinha medo de banco; no XXI, tem-se medo das taxas que cobram. A XP oferece aplicações sem cobrança de taxas.

Nada do que a XP fez estava fora do alcance dos grandes bancos. A diferença esteve nas estruturas que têm dificuldade para absorver o novo. Essa praga está muito bem contada no livro “The Innovator’s Dilemma”, de Clayton Christensen. A Sears foi o novo, perdeu o passo do novo varejo e arruinou-se. Às vezes, as grandes empresas sabem que o novo bate à porta, tentam adaptar-se mas afogam-se.

A sabedoria convencional ensinava que a expansão da XP obrigava os grandes bancos a resmungar ou padecer de uma difícil concorrência. O Itaú teve uma ideia e comprou metade do concorrente, deixando-o livre para administrar-se como bem entender. Com isso, virou sócio de um bom negócio e ainda por cima valorizou a custódia da XP.

Nem sempre o capitalismo depende da “destruição criadora” para se renovar. Na compra de metade da XP, nada se destruiu, mas tudo se transformou. No fundo, o principal destruidor de grandes empresas é a soberba sob a qual se escondem a preguiça e a inépcia. Um exemplo dessa moléstia (e do remédio) pode ser achado no mercado nacional de planos de saúde.

Meia dúzia de grandes operadoras atuava num mercado de 50 milhões de pessoas. Cuidando mais das conexões políticas do que dos custos hospitalares, hoje elas atravessam uma crise na qual perderam 2,8 milhões de clientes em dois anos. No meio dessa ruína está a soberba de maus gestores que tentam resolver seus problemas em Brasília.

Em 1997, o deputado Aires da Cunha, dono da operadora Blue Life, dizia que “se tirássemos todos os idosos do meu plano, minha rentabilidade aumentaria muito”. Hoje uma das operadoras mais prósperas do mercado, a Prevent Senior, trabalha em São Paulo, atendendo idosos em planos individuais, com mensalidades baratas. Ela foi fundada no mesmo ano em que Aires da Cunha se queixava dos velhos. (O cliente da Prevent deve usar seu plantel de médicos e é atendido pela rede própria de sete hospitais Sancta Maggiore e 40 unidades de apoio.) Para quem queria trabalhar, o que parecia um problema era uma mina de ouro.

Elio Gaspari é jornalista

Iolanda, uma vigarista cínica, cruel e chinfrim - JOSÉ NÊUMANNE

ESTADÃO - 17/05

Ex-presidente cometeu crime grave ao criar e-mail falso e vazar mandados de prisão


Sete fatos negam a biografia de estadista ilibada e avó inocente da ex-presidente Dilma Rousseff.

1) A pretensa heroína da democracia – Dilma jacta-se de que arriscou a vida, foi presa e torturada na ditadura militar lutando pela democracia. De fato, ela militou num grupo armado que combateu a ditadura, pôs a vida em risco e foi torturada, mas o objetivo de tais grupos não era democrático. Seus planos consistiam em substituir uma ditadura militar de direita por outra, comunista. Isso não justifica os métodos da ditadura, mas expõe uma farsa que convém desmascarar. O jornalista Luiz Cláudio Cunha apurou que, de fato, Dilma foi torturada e pelo menos um oficial do Exército foi acusado de tê-la seviciado, mas isso não a torna mártir da democracia, Aliás, ela nunca exigiu na Justiça punição para esse agressor.

2) Sua importância nos grupos armados – Durante suas campanhas eleitorais, foi acusada pela direita ignorante e de má-fé de haver participado pessoalmente de assaltos, como ao cofre herdado por Ana Caprioli, amante de Ademar de Barros, celebrizada como “doutor Rui”. Não se sabe se Dilma participou de ações armadas. Mas o fato é que ela nunca foi relacionada em nenhuma das listas preparadas pelos chefes dos grupos armados para a troca de companheiros presos por sequestrados. Isso em nada deslustra sua biografia de militante nem reduz a importância dos crimes por ela cometidos, mas mostra que foi mera tarefeira, sem maior relevância, em todos os grupos de que participou. Na luta armada talvez ela só se tenha destacado pela profusão de codinomes que usou: Estela, Vanda, Patrícia e Luíza. Manteve esse gosto pela falsidade ideológica pela vida pública afora, até mesmo durante e após sua passagem pela Presidência.

3) A falsificação do currículo acadêmico – O repórter Luiz Maklouf de Carvalho revelou, em 2009, que o currículo Lattes de Dilma continha fraudes: nele anotou que era master of science e doutoranda em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp). Maklouf apurou que ela começou, mas nunca concluiu o mestrado e também nunca deu início ao doutorado. O professor Ildo Sauer, da USP, ficou tão impressionado com o tal currículo que contou a amigos, por e-mail, tê-la convidado para participar da mesa na defesa de tese de um orientando dele. Ela respondeu com a má-criação de hábito: “Não tenho tempo para cuidar desse tipo de baboseiras”. Não é mesmo uma fofa?

4) A farsa da gerentona implacável – Analfabeto funcional e completamente jejuno em matérias técnicas ou de administração, Lula desprezou currículos respeitáveis de petistas competentes, como o citado Ildo Sauer e o físico Luiz Pinguelli Rosa, que foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Impressionado com a assessora que sempre sacava dados de um laptop, que nunca largava, nomeou-a ministra de Minas e Energia, em vez de um deles. Sauer foi diretor de Gás e Energia da Petrobrás e é o único ex-dirigente da estatal nas gestões do PT que não foi acusado de ter participado da roubalheira. Pinguelli presidiu a Eletrobrás. Ela passou, impávida, pela transformação da petroleira em fornecedora de lama moral e destruiu o sistema elétrico no Brasil. Os especialistas não resistiram ao convívio com seu estilo grosseiro: perderam os cargos subalternos e a possibilidade de avisar ao chefe sobre os desmandos que levaram à descoberta do enorme escândalo de corrupção.

5) O fatiamento da Constituição em seu proveito – Em 2016, os então presidentes do Senado, Renan Calheiros, e do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, rasuraram o artigo 52 da Constituição para lhe garantirem o direito de ser merendeira de escola, o que, aliás, seria arriscado, pois, conforme se revelaria depois, ela talvez fosse até capaz de envenenar a merenda.

6) O estelionato eleitoral – Em suas campanhas eleitorais para a Presidência, em 2010 e 2014, as únicas que disputou na vida, ela ludibriou os eleitores, sob a batuta do marqueteiro João Santana, com a produção de ficção milionária, recheada de mentiras e calúnias contra adversários, bancada por propinas de empreiteiras de obras públicas, não apenas com seu conhecimento, mas também com sua intervenção. Em delação premiada, João e Mônica contaram que, quando o pagamento via caixa 2 atrasava, ela, assim como Lula o fizera antes, cobrava pessoal e duramente. Além das delações, documentos sustentam a acusação, na ação do PSDB contra a reeleição da chapa dela com Temer de vice, com farta exposição de laranjas e abusivo uso de notas frias para forjar serviços não prestados. Será uma ignomínia se o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral deixar tais crimes impunes.

7) Clandestina em palácio – Durante o processo do impeachment, ela execrou delações, delatores (“desprezíveis”) e vazamentos seletivos. Mas, segundo Mônica, beneficiou-se de vazamentos feitos por seu ministro da Justiça e advogado no impeachment, José Eduardo Martins Cardozo. Vangloriava-se de ser honesta e nunca ter praticado atos ilícitos nem ter conta no exterior. Na delação, Mônica desmentiu-a, ao contar que Dilma usou o expediente chinfrim de pré-adolescente de usar e-mail falso e comunicar-se por rascunhos. Batizou o e-mail de Iolanda, referindo-se à mulher do ex-presidente e marechal Costa e Silva, somado a 2606, relativo a 26 de junho, data em que seus “irmãos em armas” executaram com crueldade, no portão do quartel-general do II do Exército, o recruta Mário Kozel Filho, que nunca torturou ninguém nem participou de nada reprovável. Foi morto por acaso, como sói ocorrer em atentados terroristas. Em casa, em Porto Alegre, deposta, ludibria quem lhe telefona dizendo ser Janete, estratégia usada por vigaristas que alugam terrenos na Lua e fogem de credores.

É injusto definir Iolanda/Janete como vigarista cínica, cruel e chinfrim? E dizer o que de Lula, que no-la impingiu?

*Jornalista, poeta e escritor