domingo, abril 17, 2011
JANIO DE FREITAS - Dinheiros eleitorais
Dinheiros eleitorais
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Financiamento público proporcionará uma fonte a mais de ganhos inconfessos à maioria dos candidatos
A SIMPLES CITAÇÃO de uma cifra deveria derrubar a ideia de financiar com dinheiro público os candidatos e partidos nas eleições, aprovada entre as propostas da comissão de reforma política do Senado.
O montante movimentado por candidatos e partidos nas últimas eleições chegou a R$ 3,3 bilhões. E ainda é preciso ressaltar: a soma só inclui os valores declarados à Justiça Eleitoral, sabidamente (nos dois sentidos) destituída de boa parte do dinheiro arrecado pelos candidatos e partidos -e nem sempre, ou só em menor número de casos, posto na campanha, e não no bolso.
A quantia citada pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e integrante do Supremo, foi seguida de um comentário também suficiente por si mesmo: "Imagina como isso seria oneroso para os cofres públicos, se aprovado sem a fixação de um teto".
Se ao menos o financiamento com dinheiro público, ou seja, pelo público eleitor e não eleitor, se prestasse de algum modo à melhoria dos padrões da política e de desempenho dos eleitos, seria possível um argumento a favor do sistema proposto. Mas o problema das administrações e dos três níveis de Parlamentos não se resolve com a mudança do financiamento.
O custo para os cofres públicos, além do mais, não impede o mais previsível: a continuidade da arrecadação privada, tanto por conveniência de candidatos como de doadores, que se asseguram dos serviços a serem prestados por seus financiados. Daí resulta que o financiamento público proporcionará uma fonte a mais de ganhos inconfessos para a maioria dos candidatos -ou alguém imagina ser a minoria? Bem, aí está o que e quem seriam os beneficiados pelo financiamento das campanhas com dinheiro público, em vez do sistema eleitoral e dos eleitores.
O INADEQUADO
Começou muito mal o ministro da nova Secretaria Especial da Aviação, Wagner Bittencourt. "Adequado" foi a palavra mais usada em seu primeiro frente a frente com repórteres questionadores. Tudo em relação ao preparo dos aeroportos para a Copa está no tempo adequado, está no ritmo adequado, vai avançar de modo adequado, o trabalho do governo está adequado ao cronograma.
Só o ministro não está adequado à veracidade. Nem aos bons modos, se a pergunta for embaraçosa. O aeroporto de Guarulhos, peça fundamental na intenção paulista de sediar a abertura da Copa, nem projeto acabado tem ainda para sua ampliação. São vários assim, com apenas três anos para obras numerosas, extensas e demoradas.
HUMANIDADES
Um dado aterrador perdido no relatório do Banco Mundial a respeito da situação decorrente do aumento internacional de preços, sobretudo, no caso, dos alimentos frequentes: a cada minuto, mais 68 pessoas estão se juntando ao 1,2 bilhão que já sobrevivem na faixa socioeconômica da pobreza.
Não é impróprio imaginar que outros 68 estejam entrando no nível da riqueza, por decorrência do aumento internacional de preços.
JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS - Grandes oportunidades no mundo empresarial
Grandes oportunidades no mundo empresarial
JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/04/11
Continuamos trabalhando com um cenário de vigoroso crescimento mundial em boa parte do mundo. Certamente, ainda há muitas incertezas no ar, seja na área de petróleo, da inflação, sobre o futuro do Japão e do euro, apenas para mencionar alguns exemplos. Entretanto, apenas o petróleo nos parece capaz de reverter o cenário de crescimento.
Contrastando com os grandes debates macroeconômicos, o que se observa no mundo empresarial é uma grande atividade e forte efervescência, típicas das viradas de ciclo. Nesses momentos avança a consolidação dos setores mais maduros e há uma explosão de novas atividades, resultantes de saltos tecnológicos e de novas demandas da sociedade. Nesse último caso, a questão do aquecimento global e a demanda por tecnologia e produtos "verdes" representam a grande novidade.
A redução das margens em ambiente de grande competição, recessão e crédito curto implica a consolidação de setores mais tradicionais. O melhor exemplo dos dias de hoje, a meu ver, é o complexo minérios-metais-setor automotivo, onde sabemos que sobreviverão nos próximos anos apenas alguns grandes grupos. O mercado brasileiro é um bom indicador desse processo, pois, além da questão das margens, os últimos três anos solidificaram de vez a percepção de que o mercado dos emergentes é que vai puxar o consumo mundial nos próximos anos. Grande número de operações de fusões, aquisições e parcerias tem como origem a consolidação e a reestruturação geográfica das novas empresas.
Entretanto, o jogo principal está na emergência do novo, e este, como se sabe, decorre em larga medida da revolução da tecnologia da informação, da comunicação e da sociedade em rede. Adicionalmente, ocorrem grandes avanços na biotecnologia, na área de materiais e na nanotecnologia, entre outros.
Esses avanços estão redefinindo atividades tradicionais, por exemplo, de mídia impressa para digital, de lojas físicas para virtuais e criando atividades completamente novas (Google, Facebook, Linkedin, Twitter, Skype, sites de compras coletivas, etc). Novas empresas (start-ups) estão novamente crescendo de forma explosiva, e agora com muito mais base, pois o número de usuários cresceu extraordinariamente e já existem vários modelos de negócios consolidados, não se parecendo, pois, com a bolha de internet do século passado.
Admite-se, também, que essa revolução está afetando mais o setor de serviços (tanto em serviços para os consumidores como serviços para empresas) do que a indústria. Esta já vem sendo afetada, desde os anos 90, pelo resultado da integração da mecânica com a informática, gerando equipamentos inteligentes, pelos controles de processos e de qualidade da produção e pela possibilidade de se criar uma cadeia de produtos muito descentralizada e cooperativa, resultando numa produção mais barata, mas com qualidade e grande eficiência.
É no setor de serviços que se espera ser possível obter grandes ganhos de produtividade. Uma boa análise dessa questão está em recente trabalho do McKinsey Global Institute (Growth and Renewal in the United States). Comércio, logística e o complexo da saúde são vistos como os setores que darão saltos de produtividade, criando novas oportunidades. Tratei da questão do "cluster" da saúde neste espaço em setembro do ano passado. Assim, a modificação da lógica e das estruturas dos mercados continuará a se realizar de forma intensa nos próximos anos.
O mesmo fenômeno ocorre no Brasil: as mudanças da economia mundial e as transformações pelas quais passa o País abrem espaço para uma tremenda atividade empresarial, a despeito das nossas incertezas macroeconômicas. A maior causa individual da movimentação das empresas é a mudança no tamanho do mercado local, decorrente do aumento do emprego, da incorporação de novos consumidores e da expansão do crédito.
Esse crescimento do mercado reduz as barreiras à entrada e atrai novos "players". Por exemplo, na área de higiene e beleza, é grande o número de novas empresas bem-sucedidas, inclusive no mercado porta a porta; o mesmo ocorre na chamada indústria criativa, como a produção de desenhos e filmes. Ao mesmo tempo muitas empresas estrangeiras, incluindo as de mercados emergentes (colombianas, mexicanas, etc) investem aqui para participar dos novos mercados de consumo. A chegada das montadoras chinesas é também um exemplo bem vistoso desse movimento.
O crescimento do tamanho do mercado, ao mesmo tempo, permite amplas oportunidades de consolidação, como se observa nas áreas de educação, saúde, turismo e eventos.
Também decorrem do crescimento do tamanho do mercado maiores possibilidades de especialização e busca de foco e produtividade através da terceirização de atividades. Gestão de frotas empresariais e logística de porta a porta são exemplos bastante visíveis.
Finalmente, o crescimento de muitas empresas permite transformar uma área de suporte ou uma divisão menor em uma nova companhia, o chamado "spin off". O melhor exemplo desse movimento é a Multiplus, que nasceu da transformação do Cartão Fidelidade da TAM em uma empresa que gerencia programas de fidelização de várias companhias, e que abriu recentemente seu capital na Bolsa.
Além das oportunidades derivadas do tamanho do mercado, existem aquelas derivadas de mudanças na dinâmica populacional. Nesse caso, vale lembrar o processo de envelhecimento da população (e daí novas demandas em produtos e serviços) e a importância de novos arranjos familiares. Hoje, apenas a metade dos domicílios brasileiros corresponde a famílias tradicionais, ou seja, casal com filhos. A outra metade divide-se, em partes aproximadamente iguais, entre casais sem filhos (ou bem jovens ou em domicílios de onde os filhos já saíram), pessoas que vivem sozinhas e em domicílios onde apenas a mãe vive com as crianças. Como consequência, novas demandas aparecem e muitas empresas são criadas para atendê-las: serviços especializados, apartamentos pequenos direcionados a clientes com alto poder de compra, produtos com embalagens menores, etc.
Ao mesmo tempo, nas grandes cidades existem deseconomias de aglomeração (um nome técnico para o popular congestionamento), tornando os deslocamentos muito custosos. A volta das lojas de bairro e os serviços à distância, incluindo o comércio, são respostas a essas oportunidades.
Finalmente, a manutenção da abertura ao exterior permite melhor incorporar as novidades tecnológicas, fornecer e comprar em diversos países, alterar modelos de negócio, importar produtos com menor custo, atrair parceiros e financiadores de novos projetos, entre outras coisas. Resulta daí a grande atividade empresarial e de negócios a que estamos assistindo, mesmo em momentos de certas incertezas macroeconômicas.
Embora o setor de serviços e a indústria mais ligada às cadeias de recursos naturais (agronegócio, minérios e metais, óleo e gás) sejam os mais beneficiados nesta situação, os fatores acima mencionados podem ser de grande utilidade num esforço de melhorar a competitividade sistêmica do País. No fundo, temos de escolher entre o caminho alemão, que superou o desafio dos custos altos com maior eficiência e comércio, ou o da Argentina, que encolhe cada vez mais na tentativa de proteger seu envelhecido sistema de produção industrial.
ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS
JOÃO UBALDO RIBEIRO - O culpado é ele mesmo
O culpado é ele mesmo
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O Estado de S.Paulo - 17/04/11
Relutei em tocar nesse assunto, não só porque já se escreveu muito sobre ele, como porque, ao abordá-lo, passo a integrar a "glória" póstuma com que sempre contam criminosos como o autor da recente matança de escolares no Rio de Janeiro. Desprezados, ofendidos, marginalizados, humilhados, ignorados, esses assassinos sabem, porque se espelham em precedentes, que, depois de sua morte, serão finalmente vistos e comentados e sua foto será estampada por jornais, revistas e cadeias de televisão. Como vários deles, inclusive o do Rio, referem-se ou são ligados a alguma crença religiosa, é possível que acreditem na imortalidade da alma e tenham certeza de que, despidos do seu invólucro corporal, virão a assistir à sua transformação em celebridades.
A impressão que às vezes se tem é que ninguém é mais responsável por nada. Acredita-se numa espécie de determinismo para o comportamento humano, que seria sempre efeito de "causas" como a pobreza, a ignorância ou a injustiça. Não tivesse o inocente sido vitimado por elas, não se tornaria criminoso, como se os pobres, os ignorantes e os injustiçados fossem majoritária e necessariamente criminosos. A ruindade, a mesquinharia, a inclinação pela violência, a inveja, a cobiça, o egocentrismo, o cultivo dos maus sentimentos, nada disso é levado em conta. Traumas emocionais e psíquicos estariam por trás de todos os comportamentos nocivos e destrutivos, como se a vida não fosse toda traumática, a começar pelo trauma do nascimento - o trabalho de parto, o ar gélido inflando pela primeira vez os pulmões, a claridade cegante, a perda do aconchego uterino.
Quando o criminoso apresenta problemas de saúde mental, não pode ser responsabilizado pelos seus atos. Então quem pode? O camarada que é sujeito a surtos psicóticos é na verdade dois - um fora do surto e outro em surto - e como tais deveria ser reconhecido pela lei? O assassino cruel é na verdade uma vítima? A culpa é de quem o tratou mal, do colega que o tiranizou, da menina que não quis namorar com ele, certamente com toda a razão? Quem é o praticante dos atos, Satanás? Considerando que este dificilmente atenderá a uma intimação, não há proteção possível para a sociedade. Antigamente se falava em privação de sentidos, expressão hoje ridicularizada, sem se atentar que apenas mudou de nome e está cada vez mais na moda. O assassino, em surto psicótico e com a maldade instilada em seu ego indefeso por uma sociedade pervertida, só fez reagir contra seu sofrimento, coitado.
Coitado, sim, em termos, digamos, filosóficos. Coitado, em última análise um infeliz de nefanda memória, cujo corpo nem a família quis receber, uma besta humana, um celerado impiedoso que, se existe inferno, já deve ter chegado lá - tudo bem. Agora, coitado mesmo, uma ova. Coitados de tantos jovens trucidados bárbara e sadicamente, coitadas das mães que jamais se recuperarão do golpe recebido, coitados dos pais cujo sofrimento jamais cessará, coitados dos sobreviventes que jamais deixarão de carregar essa lembrança de terror, coitados de nós todos, lançados no horror de tanta aflição, participantes, mesmo muito distantes, da tragédia. Acho que não dá para se pôr no lugar das mães e dos pais atingidos, somente eles sabem do que passaram, do que estão passando e do que nunca passará. Não há descrição possível, não há consolo.
Se por acaso esse indivíduo não houvesse morrido, provavelmente teria que ser protegido 24 horas por dia, porque acredito que, mesmo na cadeia, tentariam liquidá-lo. E o caso dele é clamoroso demais para que ele fosse gozar da impunidade de que muitos outros assassinos desfrutam. Mas, como doente, seria no máximo internado. E teria idade para até esperar avanços na psiquiatria ou nas ciências neurológicas, talvez uma droga ou tratamento que o livrasse permanentemente de sua loucura, o que lá seja isso. Tomada essa droga ou feito o tratamento, ele poderia ser dado como curado e posto em liberdade para buscar a felicidade até então negada, pois não teria sido ele o autor do crime, mas o "outro", ou Satanás, ou alguém igualmente inimputável.
Só que gente ruim existe. Às vezes, é até uma questão geográfica, mas certos traços da chamada natureza humana são universais. É antipático e politicamente incorretíssimo dizer isto, mas tem gente que nasce ruim sob um ou mais aspectos e tem gente que nasce muito ruim. Por que a grande maioria dos que sofrem do mesmo distúrbio não mata? Embora possa ser cultivada e ampliada, a ruindade não é adquirida, nem nunca existiu o idílico bom selvagem de Rousseau. Ao contrário, pesquisadores que buscaram exemplos dessa boa - como direi? - selvageria reuniram estatísticas interessantes sobre povos desse tipo e constataram que, entre muitos deles, as mortes violentas são bem mais frequentes que entre os malvados civilizados. Claro, há questões culturais e antropológicas nisso, mas os selvagens são tão vulneráveis a problemas de personalidade ou comportamento quanto os civilizados, do contrário não pertenceriam à espécie humana, seriam seres à parte, não sujeitos às fraquezas e defeitos dos demais. A filosofia do nosso sistema penal é a recuperação do criminoso, mas tem gente que é ruim irrecuperavelmente e quem quiser pode chamar isso de doença. Que diferença faz, notadamente para as vítimas?
Costumamos citar países nórdicos como exemplo para nós. Lembro agora que, na Alemanha, pelo menos até o tempo em que morei em Berlim, certos condenados cumpriam suas penas integralmente, mas, ainda assim, não eram libertados. Acreditando que continuariam perigosos, se voltassem a circular, o juiz podia decretar que permaneceriam na cadeia, ou mais ou menos na cadeia. Aqui eles são logo soltos, até porque a culpa não é deles, é da sociedade. Deve ser por isso que a gente mora atrás de grades.
SUELY CALDAS - Evitar um mal maior com inflação
Evitar um mal maior com inflação
SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo 17/04/11
O fim da hiperinflação dos anos 70/80 foi festejado com alegria e esperança na América Latina. A inflação é caos, desorganiza a economia, impede empresas e pessoas de planejarem o futuro, golpeia a pobreza, freia o desenvolvimento, além de transformar em lixo a moeda do país, que, junto com a bandeira e o hino nacional, forma o tripé de símbolos de orgulho de uma nação. Quando estabilizou sua economia, em 1994, o Brasil criou o real como moeda nova, porque o cruzeiro estava desmoralizado e desacreditado.
Lá se vão 17 anos bem-sucedidos de estabilidade econômica. Em 1999 o Banco Central (BC) introduziu o regime de metas de inflação, tornando ainda mais sólido o compromisso do governo com a defesa do real e o controle de preços. Não dá para brincar com a inflação. Ela vai chegando de mansinho, vai ampliando espaço na economia e, se não há reação forte para detê-la, ela segue em frente, com a indexação de preços: para se protegerem contra a inflação percebida como inevitável, o comércio, a indústria, os serviços e até o governo começam a reajustar seus preços, indexando-os a algum índice de preços. O próximo passo são os salários, e aí falta quase nada para completar a indexação.
É claro que não vivemos esse cenário. Mas cada dia fica mais esquisito e difícil entender a leniência do BC ao adiar para 2012 o compromisso de trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%. Elevar a meta de 2011 para 5,6% ainda em março é desistir da luta no primeiro round. E instala desconfiança e descrédito adiar a vitória para 2012, um ano bem mais complicado do que 2011.
Em 2012 há um estoque de problemas a favor da inflação difíceis de ser administrados. A começar pelo aumento do salário mínimo, que o governo resolveu indexar à variação do PIB. O mínimo saltará 14% em 2012, espalhando um volume de dinheiro que vai direto para o consumo e pressionará a demanda e os preços. É bom para quem ganha o mínimo, mas incompatível com a meta de segurar a inflação em 4,5%. Além disso, o impacto sobre o aumento do déficit da Previdência dificulta ainda mais o esforço para conter as contas públicas - outro foco que alimenta a inflação.
O segundo problema é o aumento nos combustíveis, que o governo empurra com a barriga, mas sabe ser inevitável. A Petrobrás reajustou o preço de alguns derivados, como o querosene de aviação, e o gás natural vai ficar 12% mais caro em 1.º de maio. Mas a presidente Dilma Rousseff tem impedido o reajuste da gasolina e do diesel, subprodutos com enorme poder de propagação pela economia. Deixar para 2012 ou para o final deste ano fomenta ainda mais o descrédito em relação à capacidade de o BC cumprir a meta de 4,5% ano que vem. O aumento da gasolina carrega um efeito político negativo forte. Mas 2011 não é um ano eleitoral; 2012 é.
E a eleição municipal é o terceiro problema a conspirar contra a meta em 2012. Em ano eleitoral - vide a eleição do ano passado - a caça por votos leva a classe política a exagerar em gastos com obras suntuosas, aumento de salários do funcionalismo, financiamento de campanhas e tudo o mais que pressiona a inflação.
Com tantos fenômenos com datas marcadas e irremovíveis para ocorrer, fica difícil entender o compromisso da direção do BC de adiar para 2012 o que seria menos penoso resolver este ano. A não ser que a intenção seja novamente abandonar a meta, justificando que seria danoso para o desempenho da economia. E, se ao final deste ano a inflação ultrapassar 6,5%, como se espera, a revisão em 2012 já será maior para ser crível. É assim, de tolerância em tolerância, que a inflação vai chegando e se instalando, até ganhar a briga.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, já alertou contra a reindexação de preços que contamina a economia. Ele sabe o poder que ela tem de realimentar a inflação por inércia. É perigoso. A torcida é contra e quer ver prevalecer o discurso da presidente Dilma de que não permitirá o descontrole de preços. Ela sabe que a inflação é um imposto que devora a renda dos pobres e multiplica a dos ricos. Ainda há tempo para reverter.
JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RIO
CELSO LAFER - Recordando Merquior
Recordando Merquior
CELSO LAFER
O Estado de S.Paulo - 17/04/11
"Graças à amizade os ausentes são presentes" e "os mortos vivem: vivem na honra, na memória, na dor dos amigos". Foi o que apontou Cícero, escrevendo sobre a especificidade da grande experiência humana da amizade. E é o que me vem à mente ao recordar o percurso do meu querido amigo José Guilherme Merquior, neste ano do 20.º aniversário do seu prematuro falecimento.
José Guilherme foi a mais completa personalidade intelectual da minha geração. Integrou com brio e enorme talento a República das Letras, nacional e internacional, tendo-se destacado por uma criativa e instigante mediação entre a crítica literária e a crítica das ideias.
Com finura analítica e imaginação crítica, sabia ler e interpretar, poesia e ficção. Tinha a clara percepção de que a autonomia da arte não se pode perder na autarquia do estético. O seu ensaio de 1964 sobre a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, deu, desde logo, a medida da larga bitola de sua vocação de crítico literário. Mostrou que esse famoso poema da saudade, escrito em Coimbra, foi bem-sucedido esteticamente por ser, sem adjetivos e graças à tonalidade do texto e das palavras, uma grande expressão do valor da terra natal.
"O Brasil, na Canção do Exílio, não é isso nem aquilo, o Brasil é sempre mais", observou Merquior. Nos versos simples desse sentimento popular captado pelo engenho do romantismo de Gonçalves Dias, projetou José Guilherme, com a orteguiana sensibilidade compartilhada da nossa geração, o amor-vontade da construção de um Brasil amável - tema que se tornou uma das facetas do seu percurso.
Movido e animado pelo alcance do uso público da razão, José Guilherme expôs, discutiu e propôs ideias sobre sociedade, política e cultura. Nesse propósito teve presentes os desafios do Brasil, um "Outro Ocidente" a ser aprimorado e completado por obra do amor-vontade que projetou na sua análise de Gonçalves Dias. Na análise dos problemas da modernidade, no Brasil e no mundo, teve como pressuposto que "nenhuma crítica do poder possui o direito de absolutizar o poder da crítica. Do contrário se marcha em linha reta para a supressão da liberdade em nome da libertação".
José Guilherme integrava a família intelectual dos grandes carnívoros, pois a sua curiosidade era infindável. Metabolizou e desvendou, desse modo, o alcance da genuína pluralidade de seus interesses com o poder de uma inteligência superiormente abrangente que foi, desde muito jovem, aparelhada para uma erudição excepcional. Escrevia "aquém do jargão" e "além do chavão" e o seu texto exprimia a virtuosidade da vivacidade do seu espírito.
No campo da crítica das ideias, o seu último livro, O Liberalismo - Antigo e Moderno, é a obra que, em função do tema, mais justiça faz aos seus múltiplos talentos. No pluralismo um tanto centrífugo da doutrina liberal e nas várias vertentes da liberdade que contempla, José Guilherme sentiu-se à vontade e assim, com alto senso de proporção, combinou sua fulgurante capacidade de síntese e a sua arguta competência analítica. Destaco, por exemplo, a importância que deu à obra de Bobbio e ao nexo que esta estabeleceu entre liberalismo e democracia, quando o empenho de igualdade está associado ao sentido do papel das instituições de liberdade.
A travessia, que não foi excludente, da crítica literária à crítica das ideias, no percurso de José Guilherme, deu-se de maneira congruente pelos seus estudos sobre a legitimidade. Esta é, como dizia Guglielmo Ferrero, uma espécie de ponte entre o poder e o medo, que resulta de uma construção da cultura e dos valores.
Nos modos históricos de asserção da legitimidade, José Guilherme chamou a atenção para a novidade do modo tópico, que põe em questão a concepção arquitetônica da ordem sociopolítica. O âmago do novo espírito de legitimação é centrífugo. Dá ênfase à validez dos direitos e valores reivindicados pelos localismos de situações específicas. Na fragmentação do mundo contemporâneo, a percepção do modo tópico, explicitado por José Guilherme, é uma contribuição para o entendimento de como é politicamente necessário mediar a diversidade cultural e o conflito dos valores.
No livro dedicado ao tema da legitimidade em Rousseau e Weber, apontou José Guilherme que uma concepção subjetivista e fiduciária de legitimidade, baseada na crença dos governados e na credibilidade de uma reserva de poder dos governantes, prevalece nos paradigmas de Max Weber. Em contraposição, identificou em Rousseau uma concepção objetivista de legitimidade, cuja tônica se encontra na autonomia do consentimento, como base da obrigação política. Uma concepção objetivista de legitimidade encontra espaço de afirmação nas situações de poder nas quais a assimetria entre governantes e governados não é acentuada e existe margem de manobra.
Desse diálogo criativo com Weber e Rousseau extraiu José Guilherme consequências importantes para a ação diplomática brasileira que retêm plena atualidade. Com efeito, para o Brasil, que tem um interesse geral e real em participar na elaboração e na aplicação das regras formais e informais estruturadoras da ordem internacional, o relevante na agenda da discussão da legitimidade é o questionamento do soft power imobilizador da reserva de poder dos grandes e a ênfase a ser dada ao consentimento dos muitos. No mundo contemporâneo aberto à multipolaridade existem espaço e margem de manobra diplomática para essa linha de atuação.
Concluo lembrando que José Guilherme enfrentou "a Indesejada das Gentes", de que fala o poema de Manuel Bandeira, com destemor. Com a coragem, que resulta do sentimento de suas próprias forças, ao lidar com a doença que o levou pouco antes de completar 50 anos mostrou, para evocar Montaigne, "que a firmeza na morte é, sem dúvida, a ação mais notável da vida".
DANUZA LEÃO - Perigosos pensamentos
Perigosos pensamentos
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Será possível que duas pessoas, por mais que se gostem, possam mesmo dizer o que pensam?
Dizem que tudo precisa ser dito, conversado, falado. Mas será mesmo? Se decretarem que um dia no ano, um só, as pessoas vão poder dizer o que lhes passar pela cabeça, o mundo explode em meia hora.
Será possível que duas pessoas, por mais que se gostem, possam mesmo dizer o que às vezes pensam? Não, ninguém suportaria conhecer o verdadeiro pensamento do outro, seja do amado, do amigo, do irmão.
Com maior ou menor facilidade, os impulsos podem ser contidos: a vontade de fumar, de se atirar da ponte, de dar um tiro no marido. Só não se consegue controlar os pensamentos.
Imagine se o papa, na hora de uma daquelas cerimônias do Vaticano em que ele diz sempre a mesma coisa -que está preocupado com alguma crise em algum país do mundo-, se distrair e pensar em sua dor na coluna, e como seria melhor estar na cama com um pijama confortável, sem aquelas roupas engomadas, sem o sapato vermelho de Armani. Nada demais, pois nem pecado é -acho. Mas será que a fé é suficiente para que ele não pense em coisas tão frívolas? E se Sua Santidade achar que pensar em conforto naquela hora é pecado, vai perguntar a quem? Será que papa se confessa?
Crianças, quando muito novinhas, falam tudo o que lhes passa pela cabeça, o que às vezes provoca grande mal-estar. São capazes de dizer para a madrinha que ela é feia, e o pior é quando contam coisas que viram, o que pode ser extremamente perigoso. Dois pés se tocando debaixo da mesa, uma passada de mão entre duas pessoas no corredor ou na cozinha. Elas percebem, e como não aprenderam ainda o que é censura, contam tudo o que viram ou ouviram -isso quando não acontece um sutilíssimo pequeno suborno para que não diga nada.
Dependendo da autoridade de quem suborna, ela até cumpre o acordo, e começa aí seu longo e doloroso aprendizado sobre a vida. Mas criança é criança, e se um adulto não consegue controlar seus pensamentos, ela não consegue controlar sua língua, e um dia conta tudo, e exatamente para quem não devia; eis a encrenca armada.
No final todos se entendem e acaba sobrando para ela, que -vão dizer- inventou tudo, e ainda vai levar pela vida a dúvida sobre se viu de verdade ou se imaginou. Terá visto mesmo ou é má e tem péssimos instintos, como disseram?
Mas de bobas as crianças não têm nada; quando fingem ter tido um pesadelo, entram no quarto dos pais à noite e veem os dois nus na cama, fazem as mais loucas fantasias sobre o que viram, mas não perguntam nem falam nada com ninguém, pois intuem que aquele é um terreno minado.
Eu não disse que os pensamentos são incontroláveis? A ideia era escrever uma crônica com princípio, meio e fim, mas é só a gente se distrair e eles vêm vindo sem rumo, sem freio, e da lembrança de ir à farmácia comprar vitamina C passa-se para remédios e para os genéricos, que têm as mesmas propriedades, custam mais barato, mas nenhum médico receita, para Brasília, a política, os escândalos, o Imposto de Renda que vem voraz, o contador que vai pedir um milhão de papéis impossíveis de serem encontrados, os novos portais, a realidade virtual, o futuro desconhecido, todas as coisas que não conseguimos compreender.
O jeito seria ter uma disciplina mental que impedisse nossos péssimos e inevitáveis pensamentos, mas será que alguém consegue? E será que alguém quer perder esse que talvez seja nosso único direito?
VINICIUS TORRES FREIRE - Rendição na guerra cambial
Rendição na guerra cambial
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Governo desiste de novas batalhas contra o real forte e deve elevar os juros mais do que pretendia até março
COMO PREVISTO, o governo por ora jogou mesmo a toalha no combate à valorização do real.
Desde 2009, as equipes econômicas petistas, basicamente as mesmas, tomavam providências a fim de manter o dólar na casa do R$ 1,70. Tratava-se de remendos, controles menores da entrada de capitais de curto prazo via impostos, além de uma brutal compra de dólares por parte do Banco Central.
O dólar agora descerá para o degrau inacreditável de R$ 1,50, valor nominal, que ilude. Considerada a inflação (o "câmbio real"), a valorização da moeda brasileira é ainda maior, a maior do mundo relevante desde a crise de 2008.
Note-se, de passagem, que a quantidade de dinheiro que o BC empilhou em suas reservas agora está perto do terço de trilhão de dólares. Equivale a quase dois anos de importações do país inteiro.
Ainda neste mês os economistas de Dilma Rousseff aumentaram o imposto sobre empréstimos tomados no exterior. Mas qualquer observador avisado sabe que a medida tinha como objetivo conter a torrente de dinheiro que vem de fora por causa da inflação, não do câmbio.
Mais dinheiro, mais crédito disponível. Mais crédito, mais estímulo a uma economia já aquecida demais. Mais inflação, provavelmente. Em suma, o governo recorreu a um aumento de imposto "regulatório" a fim de tentar controlar a inflação.
Não se sabe bem se o governo desistiu da liça cambial por desalento (não há o que fazer) ou interesse (dólar barato ajuda a abater um tico da inflação) ou uma mistura das duas coisas. Mas o ímpeto guerreiro (da "guerra cambial") do Ministério da Fazenda claramente arrefeceu.
"Guerra cambial" foi o nome confuso dado a vários fenômenos diferentes, resultado da "grande impressão de dinheiro" de 2008-2010 no mundo rico, que tinha como objetivo reflacionar ou inflacionar economias em recessão mesmo com taxas de juro no nível zero.
Esse estímulo monetário nos EUA, na Europa e no Japão tende a desvalorizar as moedas desses países em relação às de "emergentes". No fim das contas, acaba por exportar inflação para as economias periféricas, para as Bolsas de Valores e para as cotações de commodities.
Foi o que aconteceu, enfim.
Alguém aí ainda se lembra dessa "guerra", motivo de tanto ranger de dentes do Ministério da Fazenda?
Não, ela não acabou. Apenas foi perdida. A torrente de capital barato posto à disposição (ou indisposição) do mundo pelos bancos centrais de EUA, Europa e Japão arrasou quase todas as barragens. O Brasil, de resto, é uma esponja de capital, pois cresce mais que o mundo rico e paga juros altos demais.
Enfim, do canto de "guerra cambial" de 2010 o governo brasileiro passou a uma discreta rendição condicional ao quase inevitável. Além do mais, dado o aumento extra da inflação, inesperado até para o governo, começa a se difundir a ideia de que o BC terá de elevar os juros mais do que o imaginado até o mês passado. Mais um motivo para uma vitaminada extra do real.
Essa onda vai acabar. No segundo semestre, os EUA vão pensar em subir seus juros. A eurolândia já o faz. O clima financeiro do mundo vai mudar. Até lá, para quem gosta de viajar e comprar importados, ainda haverá tempo para fazer um estoque de dólar baratinho.
MARCELO GLEISER - Uma nova força da natureza?
Uma nova força da natureza?
MARCELO GLEISER
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Em vez de unificar quatro grandes forças do mundo natural, pode ser que estejamos diante de uma nova força, a quinta delas
Físicos de altas energias do mundo inteiro têm tido dias bem animados ultimamente. Resultados divulgados pela equipe de cientistas trabalhando no CDF, um dois detectores de partículas no Tevatron, maior colisor de partículas nos EUA, revelaram um sinal inesperado.
Enquanto o venerado Modelo Padrão ""que resume tudo o que sabemos sobre o mundo das partículas elementares"" prevê que a probabilidade de um determinado processo decai com o aumento de energia nas colisões, os dados mostram um pico misterioso de energia relacionado com uma partícula com massa em torno de 144 vezes maior do que a do próton.
Com os dados coletados até agora, a probabilidade de que o pico seja um alarme falso é menor do que 0,076%. Para a maioria das pessoas, essa é uma margem de erro pequena. Mas em física de altas energias a descoberta de uma nova partícula precisa de uma margem de erro menor que um milionésimo de 1% para ser considerada válida.
Dados sendo analisados pelo outro detector, o D0, irão ajudar na resolução do mistério. Ou complicar mais as coisas. O Tevatron, que fica no Fermilab, deve fechar agora em setembro. Caberá ao maior colisor do mundo, o gigantesco LHC, a tarefa de confirmar ou não o achado dos americanos.
A ciência precisa de descobertas inesperadas. O pico encontrado no Fermilab, onde fiz meu pós-doutorado, surpreendeu todo mundo. Durante décadas, dois objetivos têm sido centrais para os físicos de partículas: encontrar a partícula conhecida como bóson de Higgs, que supostamente dá massa a todas as outras no Modelo Padrão; e achar pistas da supersimetria ""uma simetria hipotética que dobraria o número de partículas na natureza.
O Tevatron atinge marginalmente as energias necessárias para detectar ambas. Embora encontrar o Higgs ou a supersimetria seja muito importante, encontrar algo inesperado é talvez mais ainda.
Conforme escrevi aqui na semana passada, a ciência precisa falhar para avançar, isto é, precisa descobrir novos fenômenos que fogem às explicações das teorias vigentes.
Obviamente, teorias confirmadas por experimentos, como a teoria gravitacional de Newton, continuam sendo corretas. Mas devem ser vistas como incompletas, pois alguns fenômenos estão além de seu alcance explicativo.
O pico nos dados pode indicar que o mecanismo responsável por dar massas às partículas não é o Higgs, mas uma teoria chamada Technicolor, parecida com a que descreve a força nuclear forte, que explica como quarks se juntam para formar prótons e nêutrons.
Se a Technicolor estiver correta, partículas chamadas de tecniquarks podem se juntar para formar várias partículas novas. O pico encontrado pode representar o decaimento de uma partícula chamada de "tecnirrô" em outra conhecida como "tecnipion" e no bóson W, esse já conhecido dos físicos.
Ou pode haver uma explicação completamente diferente. O pico pode ser resultado de uma falha na análise estatística dos dados, ou pode ser explicado pelo Modelo Padrão. É assim que a ciência deve avançar, mostrando que nossas explicações são sempre inacabadas.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita"
MÔNICA BERGAMO - A reestreia de Cissa
A reestreia de Cissa
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
De volta às novelas e em cartaz no teatro, Cissa Guimarães aos poucos retoma a rotina após a perda do filho caçula
De mãos dadas com o artista plástico Jorge Barata, quem voltou a namorar recentemente, Cissa Guimarães chega ao Teatro Vanucci no shopping da Gávea, no Rio, às 18h de domingo. "Tô reatando uma história antiga. Gosto de ter um parceiro, um homem. Mas não foi nada planejado", diz. Na porta, dá um beijo em Jorge e entra no banheiro feminino. Caminha até a parede onde está um espelho de corpo inteiro e bate na porta. O espelho se abre e uma passagem secreta para o camarim é revelada.
A atriz deixa a bolsa Goyard verde na cadeira e pega uma vela grande. Acende, fecha os olhos e faz uma oração. Coloca a vela ao lado das imagens de santa Clara e santa Bárbara e da foto do filho caçula, Rafael Mascarenhas, de seu casamento com o saxofonista Raul Mascarenhas. Rafael foi morto em julho do ano passado aos 18 anos, atropelado quando andava de skate em um túnel fechado para carros, no Rio.
"Tudo que melhora minha energia, tô dentro. Medito, adoro Nossa Senhora, sou filha de Oxum. Tenho fé, mas não tenho religião. Porque todas no fundo dizem a mesma coisa: olhe pra quem tá do lado. A gente ao mesmo tempo é nada e é Deus. É tudo uma questão de energia, do cosmos", diz à repórter Lígia Mesquita.
Cissa acaba de reestrear a peça "Doidas e Santas", após um mês de intervalo para mudar de teatro. Ela é também uma das produtoras do espetáculo que completou um ano em cartaz e mais de duzentas apresentações. E, há um mês, voltou à TV. Está na novela das sete da Globo, "Morde & Assopra", como Augusta, a dona de um spa onde as pessoas, ao invés de emagrecer, engordam. "Tô reestreando na vida."
Enquanto se maquia para subir ao palco na pele da psiquiatra Beatriz, conta que não sabe como está "conseguindo fazer novela e teatro ao mesmo tempo". "Chego mal lá no Projac [estúdios da Globo] e logo melhoro. Adoro a dinâmica das gravações. E todo mundo me apoia. Outro dia estava bem mal, porque tinha completado o oitavo mês da passagem do Rafa. Pedi ao Papinha [o diretor Rogério Gomes] para me deixar ir embora. Eu vou até onde eu aguento."
A atriz , que completa 54 anos amanhã, diz que está fazendo uma "reavaliação" da vida. "Só quero fazer o que eu tiver vontade. O meu compromisso é com a felicidade, mesmo sabendo que nunca mais serei 100% feliz."
As mudanças físicas não a incomodam muito. "Chegar na casa dos 50 bate. O tônus não é o mesmo, tem as ruguinhas, a menopausa. Mas tem uma coisa bonita que é a maturidade. Você fica amiga do tempo, não luta contra ele." A atriz, que já colocou botox e fez lipoaspiração, é a favor de intervenções estéticas e de tudo o mais que deixe a mulher bonita. "Mas não vou ficar maluca. A gente tem que ter dignidade." O trabalho na peça, afirma, "salvou a minha vida" após a perda do filho. "Fiquei parada só duas semanas logo após a morte do Rafa, porque não tinha condições físicas. Mas ele está em tudo nesse espetáculo, vinha muito aqui. Tenho certeza que ele queria que eu ficasse aqui. Deixou tudo armado para eu ter essa tábua de salvação."
Ela faz questão de frisar que isso não é uma norma. "Para mim, o trabalho ajudou. Isso não é uma regra. Porque essa é uma bandeira que ficou: "Cissa, o exemplo". Eu tô fora!!! Não sou exemplo de superação de nada. É uma dor insuperável. Não se supera a perda de um filho nunca! Estou atada, aleijada e vou morrer assim. Estou aprendendo a viver com uma muleta no meu coração."
Desde que Rafael morreu, Cissa conta que tem feito terapia do luto, por indicação da amiga Patricya Travassos, além de análise. "A terapia do luto me ajudou a aceitar [a morte] e fazer minha conexão com ele. A maneira ocidental como compreendemos a morte é muito ruim, muito errada, que é só aqui. Ao mesmo tempo me ajudou em coisas cotidianas. Assim que você passa pelo trauma, você não sabe se come, se toma banho. Minha terapeuta me ajudou a lidar com as coisas dele, a enfrentar a primeira vez que entrei no quarto."
No começo, lembra, sentiu culpa, como "todas as mães sentem". "Eu pensava: e se eu tivesse pedido para ele voltar pra casa mais cedo naquele dia, falado: "Ai, filho,vamos jantar", se ele tivesse ido viajar, se, se, se... Hoje em dia não tenho culpa. Minha relação com ele era só luz. Rafael era muito especial", diz, com os olhos se enchendo de lágrimas.
Para ajudar a atravessar a fase difícil, ela conta com o apoio dos outros dois filhos, João e Thomaz Velho, de seu casamento com Paulo César Pereio. João, que é assistente de direção de "Doidas e Santas", voltou a morar com a mãe. "Eles são meus companheiros e sabem que, no momento, não estou podendo doar muito." Uma das alegrias do momento, ela conta, é o neto José, de um ano, filho de Thomaz.
"O tempo também é um grande aliado. Porque é exatamente uma ferida. É uma dor que vai cicatrizando. E quando muda a estação dói mais, dá crises de choro em algumas datas. Agora, por exemplo, está chegando o meu aniversário. É uma coisa que me dá uma certa angústia, é o primeiro aniversário que ele não vai estar [começa a chorar]."
Do atropelador, Rafael Bussamra, acusado de fazer racha no local do acidente e não prestar socorro, ela afirma "ter pena". "Não é porque ele atropelou meu filho. É pela pessoa que ele é. Porque podia ter sido um acidente. Fiquei dois meses sem conseguir dirigir porque fiquei com a paranoia de que poderia atropelar alguém. A questão é o que essa pessoa fez, as circunstâncias e como ele reagiu. Não teve um átimo de segundo de dignidade, de consciência de ser humano. E essa mãe [dele]! No auge do caso, tentou corromper os policiais. Como essas pessoas trabalham? Devem morrer de vergonha. Meu filho tá na luz, essas pessoas estão para sempre nas trevas."
FERREIRA GULLAR - Tragédia em Realengo
Tragédia em Realengo
FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Ter-se como puro passou a ser o seu valor no mundo e o pretexto para castigar os que deveriam ser punidos
COMO O próprio Wellington Menezes de Oliveira admitiu, já há bastante tempo decidira praticar uma chacina na escola Tasso da Silveira, em Realengo, onde estudara dos 12 aos 14 anos. Tanto é verdade que se preparou para isso cuidadosamente, comprando armas e munição e se adestrando ao máximo, a fim de realizar sua tarefa com a maior eficiência possível.
Trata-se de uma decisão louca, mas que resultou não de um surto psicótico repentino, e sim de uma demorada elaboração patológica.
É impossível dizer como isso se deu, que fatores subjetivos e biográficos determinaram aquela decisão. É certo, porém, que Wellington era uma personalidade esquizofrênica, resultante possivelmente de herança genética, como parece indicar o fato de que sua mãe verdadeira, moradora de rua, sofria da doença. Todas as demais informações sobre ele mostram-nos uma pessoa fechada em si mesma, sem amigos, sem amigas ou namoradas.
Já era assim no colégio, quando foi motivo de brincadeiras discriminatórias por parte dos colegas. Se se considera que, além de filho de uma mendiga, era manco, pode-se imaginar facilmente quanto de ressentimento acumulou num mundo que nada lhe oferecia de afeição ou de felicidade.
A mulher que o criou terá sido a única pessoa que lhe dera afeto e o reconhecera como ser humano, merecedor de carinho e atenção. Para os demais, não era ninguém, conforme entendia em sua visão magoada e ressentida. A morte da mãe adotiva precipitou tudo.
Por sentir-se hostilizado e negado pelas pessoas em geral, encontrou na religião um espaço no qual poderia ser reconhecido como ser humano, como criatura de Deus, merecedor de afeto e respeito. Foi ali que, possivelmente, aprendeu a noção de pureza, que o distinguiria da maioria das pessoas.
Talvez mesmo em função dos problemas psíquicos e sociais que o afastavam das mulheres, encontrou na noção de pecado um fator que o distinguia e o valorizava: como a experiência sexual não fazia parte de sua vida, considerava-se puro e, nisso, superior ao comum dos indivíduos, para os quais o sexo tinha importância fundamental. Ele, Wellington, livre do pecado sexual, estava mais perto de Deus.
Ter-se como puro passou a ser o seu valor no mundo e o pretexto para castigar os que, ao contrário dele, eram impuros e deveriam ser punidos por isso. E punidos por ele, que foi por todos aqueles -pela humanidade impura- discriminado e humilhado.
Ao convencer-se disso, sua vida ganhou sentido. Ele, filho de mendiga, manco, desamado, ridicularizado, nascera, na verdade, com a missão de livrar o mundo da impureza. E, então, passou a se preparar para a grande missão: comprou dois revólveres, munição em quantidade e passou a exercitar-se para atirar com precisão.
O lugar escolhido, não por acaso, foi a escola Tasso da Silveira, onde sofrera humilhações de jovens, iguais aos que agora lá estudavam. Eliminaria preferencialmente as meninas -adolescentes em flor, recendendo a sexo e pecado. Meninas iguais àquelas que nele despertaram, no passado, o desejo de pecar, para torná-lo impuro. Não poderia matar todas as adolescentes do planeta, mas, de qualquer modo, matando aquelas da escola de Realengo, cumpriria com a missão para a qual estava predestinado.
Sabia muito bem ser aquele, de fato, um modo de suicidar-se, mesmo porque, cumprida a missão, não havia razão para continuar vivendo. Aliás, pôr fim à própria vida era o seu desejo mais fundo. Mas não naquele obscuro quarto onde dormia, pois sua aspiração era escapar do anonimato, mostrar ao mundo quem de fato era. Ninguém jamais imaginaria que aquele pobre diabo, que todos desprezavam, seria capaz de uma façanha tão espantosa quanto assassinar a tiros dezenas de meninas.
Antes de sair de casa naquela manhã, destruiu móveis e objetos, como para apagar todo e qualquer vestígio material de sua existência. E partiu para a missão suprema e definitiva, depois da qual tornar-se-ia apenas um puro espírito. Mas corre o risco de ser enterrado como indigente, como um mendigo, igual à mãe. E assim, depois de tudo, terminará voltando à origem humilhante de que tentara escapar.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
Exportação portuária requer oito documentos no Brasil
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
Empresas brasileiras que pretendem comercializar seus produtos para outros países a partir dos portos nacionais precisam apresentar oito documentos às autoridades do setor.
Na França, por exemplo, são necessários apenas dois documentos para iniciar as vendas para o exterior.
O número coloca o Brasil entre os 50 países de burocracia mais complexa do mundo, segundo dados do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento).
Sem estrutura logística e financeira para superar o problema, pequenas e médias companhias optam por vender apenas para o mercado interno, diz o conselheiro do Centro de Excelência Portuária Hélio Hallite.
"O governo deve adotar os procedimentos internacionais para facilitar o trabalho das empresas", diz Hallite.
A falta de centralização no comando dos portos nacionais é o principal obstáculo para agilizar o processo, diz o economista do Cindes Eduardo Augusto Guimarães.
"As organizações governamentais não entram em um acordo e cada uma delas pede formulários diferentes."
Outro problema do setor, segundo especialistas, é a demora para o descarregamento dos produtos.
De 2008 a 2010, o tempo médio para atracação dos navios aumentou nos quatro maiores portos do Brasil, de acordo com o Cindes.
"A inexistência de infraestrutura também ocorre no caminho até os portos, o que inviabiliza de vez a exportação para empresas de médio porte", afirma Hallite.
O QUE ESTOU LENDO
Aécio Neves (PSDB-MG), senador
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) ganhou recentemente um exemplar de "Obama" (Whitman ed., 144 págs.), que considerou interessante.
"É um livro despretensioso, mas curioso para quem lida com o dia a dia da política. Ele traz curiosidades, réplicas de documentos, bilhetes pessoais, peças de campanha e fotos que recriam um pouco dos bastidores da campanha americana e da eleição do presidente dos Estados Unidos", segundo o senador.
DE VOLTA PARA O CLÁSSICO
A H.Stern planeja a abertura de ao menos seis lojas no Brasil neste ano. Dois dos novos pontos serão em São Paulo e os outros quatro, nas regiões Sul e Nordeste.
"Pretendemos abrir o máximo possível [de lojas], mas o capital é da empresa", diz o porta-voz Christian Hallot.
"Abrir capital? Não está nos planos, por enquanto. [Donos de] grifes que abriram no exterior não se mostram muito felizes." Segundo Hallot, novos acionistas nem sempre entendem o negócio e investimentos a serem feitos.
A joalheria lança de uma a duas coleções por ano. Uma delas, sempre em dezembro. Neste ano, em março chegou às lojas a coleção inspirada em Burle Marx e já está prevista outra para maio.
"Notamos uma volta para o classicismo. As mulheres estão querendo joias clássicas." O executivo destaca na nova coleção peças em ouro vermelho ou ouro rosa.
Presente em 37 países, a companhia observa recuperação na Europa, ainda que "demorada", afirma.
"A crise foi um baque para todo mundo, houve, em alguns lugares, perda de 30%, mas ganhamos ante outras empresas porque lançamos coleções novas." Vendas em Israel e América Latina são as que logo se recuperaram.
A rede acaba de lançar em Londres a coleção Oscar Niemeyer, já vendida no Brasil. "Pedimos que escolhesse 70 desenhos e autorização para vê-los com olhar de joalheiro, não de arquiteto. Pegamos traços. Não se pode pôr o Congresso na orelha de uma mulher."
Casa...
A capital paulista registrou queda de 34,6% no mercado de imóveis novos residenciais em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo levantamento que o Secovi-SP divulga amanhã. As vendas ficaram em 1.869 unidades.
...nova
O indicador de desempenho de comercialização VSO (Venda Sobre Oferta) da cidade de São Paulo foi de 13,2% em fevereiro deste ano. No ano passado era de 21,1%.
No quarto
O nicho de dois dormitórios é o de maior comercialização, com escoamento de 777 unidades, equivalente a 41,6% do total, segundo o Secovi-SP.
Chocolate
Após queda no ano passado, o número de ovos de Páscoa vendidos deve voltar a crescer em 2011, segundo análise da Nielsen. Produtos com brinquedos devem ser destaque, diz o analista da empresa Claudio Czarnobai.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ
RENATA LO PRETE - PAINEL
De FHC para Lula
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
"Se Lula fosse um adversário leal, saberia reconhecer que não desprezo o "povão'", diz Fernando Henrique Cardoso em resposta às declarações de seu sucessor sobre artigo escrito pelo tucano. "Sou contra o que ele fez com o povo: cooptar movimentos sociais; enganar os mais carentes e menos informados trocando votos por benefícios de governo; transformar direitos do cidadão em moeda clientelista. Quero que o PSDB, sem esquecer nem excluir ninguém, se aproxime das pessoas que não caíram na rede do neoclientelismo petista. Desejo que Lula, que esqueceu as antiquadas posições contra as privatizações, continue usufruindo das oportunidades que as empresas multinacionais lhe oferecem, como agora em Londres."
Para terminar Ainda FHC: "E desejo, principalmente, que Lula termine com a lenga-lenga contra ler muito e ter graus universitários, pois não precisa mais ter complexos. Virou 'doutor'".
Eliminatórias
Assim que voltar da China, Dilma Rousseff pretende convocar reunião com os governadores de todos os Estados que abrigam cidades-sede da Copa. Dirá que nenhuma está garantida enquanto os estádios não ficarem prontos.
Na ofensiva
Após retirar a candidatura do ex-ministro Paulo Vannuchi a vaga na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em resposta a pedido do órgão da OEA para suspender a construção de Belo Monte, o governo planeja lançar uma campanha publicitária para defender a ideia de que o projeto da usina não desrespeita as comunidades locais e é importante para o país.
Sem memória "Esquecidos" pelo Robô Ed, personagem do site do Ministério de Minas e Energia que ganhou notoriedade instantânea ao exaltar apenas e tão somente os feitos do governo Lula, os senadores e ex-presidentes Itamar Franco (PPS-MG) e Fernando Collor (PTB-AL) subscreveram o manifesto em que o colega Flexa Ribeiro (PSDB-PA) questiona o uso de recursos públicos para desenvolver o aplicativo.
A xerife 1
Geraldo Alckmin escolheu a advogada Karla Bertocco para uma das mais delicadas missões de seu primeiro ano de mandato: ela dirigirá a Artesp, agência paulista reguladora de transportes, que mediará a renegociação das tarifas de pedágio em 12 concessões de rodovias feitas pelo Estado ao longo da década de 90.
A xerife 2
Egressa da Arsesp, responsável pela regulação dos serviços de água e energia, Karla substituirá Carlos Eduardo Sampaio Dória, ex-deputado instalado desde 2003 no cargo.
Também quero Nada menos do que nove deputados estaduais do PSDB pleiteiam vaga na Comissão de Transportes da Assembleia, encarregada de fiscalizar as obras viárias de São Paulo. Caberá à liderança da bancada escolher seis felizardos: três titulares e três suplentes.
Fala sério 1
Com base em pareceres de Fábio Konder Comparato e Ives Gandra Martins, o PT-SP recorreu à presidência da Assembleia na tentativa de anular CPIs "exóticas" instaladas no início da legislatura sob patrocínio da base de Alckmin.
Fala sério 2
Documento entregue à Mesa da Casa pelo petista Antonio Mentor indica que comissões como as da Dentadura, das TVs a cabo e do Alcoolismo não teriam objeto definido de apuração, servindo apenas para protelar as investigações sobre os pedágios e o Rodoanel.
Clausura
Às vésperas da alta temporada, quando receberá 1,5 milhão de turistas, Campos do Jordão discute um "toque de recolher" de menores após a meia-noite.
com FÁBIO ZAMBELI e ANA FLOR
tiroteio
"As demissões são inoportunas e aumentam a ebulição social nos canteiros. O governo precisa ser mais rigoroso nas negociações."
DO DEPUTADO SÍLVIO COSTA (PTB-PE), presidente da comissão de Trabalho da Câmara, sobre o possível corte de 6.000 trabalhadores nas obras de Jirau (RO).
contraponto
Escapei dessa
Em audiência na Câmara, o ministro do Esporte, Orlando Silva, lembrava que quatro cidades disputam o direito de abrigar a abertura da Copa de 2014. Mencionou São Paulo, onde será erguido o Itaquerão, Belo Horizonte, que reformará o Mineirão, Brasília, com o novo Mané Garrincha, e Salvador, com a Fonte Nova.
No final de sua exposição, enfatizou que a decisão final sobre os municípios de abertura e encerramento caberá à Fifa. E, sorrindo, arrematou:
-Ainda bem!
JOSÉ SIMÃO - Dilma é o Elefantinho da Cica!
Dilma é o Elefantinho da Cica!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
E o partido do Kassab, o PSD? É de esquerda? Não! É de direita? Não! Então o que é? Partido Sem Direção
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bagulhos, mocreias e bactérias. Olha este anúncio: "Atenção! Você que é feio ou feia, a agência Assombração está cadastrando gente feia de todo o Brasil para o novo filme "A Verdadeira História do Lobisomem" de Toninho do Diabo".
Olha, olha um emprego pro Serra. Ele vai matar de susto esse Toninho do Diabo. E no Nordeste, feio não é feio, é desabonitado. Um design desarranjado! E este novo partido do Kassab, o PSD? É de esquerda? Não! É de direita? Não! Então o que é? Partido Sem Direção, PSD! Rarará.
E sabe por que o Falcão aceitou ser técnico do Inter? Pra se livrar do Galvão! Rarará. Pelo menos no Inter ele consegue falar! E a Dilma na China? Sempre chic com aquele look vermelho extrato de tomate Elefantinho da Cica! Rarará. A Dilma tá parecendo o Elefantinho da Cica! Ela podia entrar pro programa de emagrecimento do "Fantástico". Junto com o Adriano, o Caminhão de Usina! E a foto dela com o presidente da China. Quer dizer, a gente acha que é o presidente da China. Porque todo chinês é cópia pirata de outro chinês. Rarará. E a Dilma voltou tão entusiasmada da China que vai incluir uma nova obra no PAC: ampliação da 25 de março. Rarará. PAC: Programa de Aceleração do Camelódromo!
E o Sarney quer repeteco do Plebiscito do Desarmamento. O Sarney quer desarmar o Brasil! Então manda a família dele pro espaço. Rarará. Eu também sou a favor do desarmamento. Tenho até slogan: Desarme-se! Mande sua sogra pro espaço! E uma amiga minha que tem razão: "Arma em casa termina em duas coisas: ou você mata o marido ou mata a vizinha". E uma outra disse que vai entregar a pistola do marido prum museu!
E essa: "Pato ficará um mês sem fazer sexo com a namorada". Que é filha do Berlusconi! Tudo bem, o pai faz sexo pela família inteira!
E mais uma predestinada! Nutricionista de Vitória, no Espírito Santo: Roberta Larica. Clínica Roberta Larica de Nutrição. Rarará!
Ah, doutora Roberta, tá me dando uma larica. Vou assaltar a geladeira. Comer o macarrão de ontem com a calda do pêssego em calda! E leite condensado!
E mais uma do Gervásio. Olha a placa na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem foi o cusparolo que escarrou na persiana da minha sala, vou arrancar as amígdalas deste Shrek sebento com uma colher de pedreiro enferrujada no estilo doutor Fritz. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
DORA KRAMER - Mulheres na política
Mulheres na política
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/04/11
Uma das perguntas que mais se fazem a uma mulher que tem a política como instrumento de trabalho é a razão pela qual o público feminino não está representado no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas direções partidárias na proporção adequada à força quantitativa de seu voto.
Escolher um motivo e a partir dele tentar desvendar essa questão é impossível, dada a gama de causas objetivas e subjetivas envolvidas. Mas uma coisa é certa: a desproporção indica que há correções de rumo a serem feitas, e urgentemente, sob pena de a democracia brasileira perpetuar uma deformação que põe em xeque a própria legitimidade da representação.
O público feminino hoje no Brasil representa 52% do eleitorado. No entanto, as deputadas são 9% da Câmara, as senadoras 15% e as deputadas estaduais em média têm presença de 12% nas Assembleias Legislativas.
Nesse ritmo, pesquisa do demógrafo José Eustáquio Diniz garimpada pela senadora do PT do Paraná, Gleisi Hoffmann, indica que as mulheres brasileiras levariam 207 anos para alcançar, nos Legislativos, condição de igualdade já obtida em vários setores.
Gleisi é a favor do sistema de cotas para mulheres nos partidos, mas não como vem sendo aplicado, na forma de reserva de vagas para registro de candidaturas. Na opinião dela, o modelo ideal é o que consta na proposta de reforma política a ser examinada pelo Senado: cotas nas cadeiras a serem ocupadas, 50% para homens, 50% para mulheres.
Quanto às razões da baixa participação e representação das mulheres na política, a senadora aposta num conjunto de fatores: resistência dos homens em dividir o poder, um acentuado grau de misoginia (aversão às mulheres) dos políticos quando se trata de compartilhar a profissão, discriminação histórica, imposição de obstáculos que impedem as mulheres de adquirir prática e com isso melhorar o desempenho.
"As regras não são iguais, por isso as cotas me parecem o caminho mais adequado", diz, baseada na experiência do PT, onde a presença feminina na base era ampla, mas ínfima no diretório nacional. O cenário mudou e hoje os 30% de vagas reservadas às mulheres estão ocupados.
Além de adequação da representação à proporção do eleitorado, Gleisi Hoffmann aponta um dado essencial para que se abra o caminho da paridade: "Questões essenciais para mais da metade da população estão sendo decididas pela parte minoritária".
Precedentes. Todo mundo se lembra do deputado "motosserra" Hildebrando Pascoal. Menos gente, mas certamente muitos se lembram do deputado Talvane Albuquerque.
Ambos foram cassados em 1999 por crimes ocorridos antes de assumirem seus mandatos. Hildebrando, por homicídios cometidos quando era coronel da Polícia Militar do Acre, e o alagoano Talvane, pela acusação de ser mandante do assassinato da deputada Ceci Cunha em dezembro de 1998, depois da eleição e antes da posse, para assumir como suplente o mandato dela.
O entendimento do Conselho de Ética da Câmara de que não se pode cassar parlamentares por atos anteriores ao mandato em curso foi obra do atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em 2007, quando era deputado, usou o argumento e instituiu a "doutrina" para salvar mensaleiros descobertos em 2005 e reeleitos em 2006.
Hoje a "jurisprudência" é usada pela defesa da deputada Jaqueline Roriz, filmada recebendo R$ 50 mil do operador de um esquema de corrupção montado no governo de Brasília, quatro anos antes de obter mandato federal.
O senador Aloysio Nunes Ferreira lembra-se bem, pois era deputado quando do julgamento dos casos de Hildebrando Pascoal e Talvane Albuquerque, atuando em um deles como relator e no outro como integrante da Comissão de Constituição e Justiça.
"O decoro é atemporal e se a Câmara concluir que um de seus integrantes é indigno de compor o colegiado por ações presentes ou passadas tem o dever de excluí-lo", diz Aloísio.
Para isso, contudo, é preciso que o Poder Legislativo considere que ainda tenha alguma reputação a zelar.
CARLOS HEITOR CONY - A seta e a estrela
A seta e a estrela
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/11
RIO DE JANEIRO - Vou forçar a barra, mas deu vontade de fazer uma aproximação entre a cena do Natal, tal como é narrada por Lucas, com a informática e, em especial, com a internet.
Há 2.000 anos, era impossível imaginar um computador, a setinha do cursor vagando pelo espaço finito da telinha, indicando o que desejamos ver ou achar.
Em 2001, quando as torres do WTC estouraram, milhões de pessoas em todo o mundo foram para seus monitores e fizeram a setinha do cursor acessar os sites que noticiavam a tragédia em escala instantânea e mundial.
Há 20 séculos, um menino nascia numa gruta de Belém, entre um burrinho e uma vaquinha. Nada de espetacular. No entanto, milhões de pessoas, ao longo da história, se emocionaram com aquela cena, uma das mais lembradas pelas retinas humanas que se sucederam.
Mas... mas houve uma setinha, em forma de estrela, que rasgou a noite escura do deserto e acessou aquela gruta onde apenas um menino nascia. Adormecidos nos campos, os pastores despertaram com aquela estrela que apontava numa direção. Longe, bem longe dali, três Reis Magos também viram aquela estrela e vieram.
"Vimos a sua estrela no Oriente e viemos" -disseram os Reis Magos. Era um anúncio do mundo virtual 2.000 anos antes da era digital.
Lembro um professor que não era lá essas coisas em matéria de inteligência, mas tinha uma percepção maravilhosa das coisas inexplicáveis. Ele dizia que tudo na vida do homem, na história do mundo, depende de ler os sinais.
No gigantesco monitor do universo, uma seta iluminada em forma de estrela riscou a noite do deserto e indicou a pastores e reis (internautas sem saber) o que estava acontecendo. Eles foram os primeiros a saber. Se foi ou não uma mensagem importante, fica a critério de cada um.
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