segunda-feira, janeiro 10, 2011

JORGE J. OKUBARO

As promessas e a dura realidade
Jorge J.Okubaro 
O Estado de S.Paulo - 10/01/11

Ao animador conjunto de compromissos que a presidente Dilma Rousseff assumiu no discurso de posse, a realidade - política, financeira, social e administrativa - imediatamente contrapôs obstáculos cuja superação requererá do novo governo competência, sabedoria, persistência. Muitos dos quadros que o compõem pertenceram ao governo anterior, dado que pode ser positivo em alguns casos; em outros, porém, para cumprir os compromissos da presidente, os remanescentes da antiga gestão precisarão apresentar um desempenho com qualidade e eficiência de que ainda não demonstraram dispor.

No plano econômico, merece repetição a declaração da presidente sobre a importância da estabilidade. "Já faz parte de nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador", disse Dilma, para garantir que "não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres". Antes, ela falara da importância da estabilidade de preços para o crescimento da economia brasileira.

Dilma recolocou em discussão a reforma tributária, que seu antecessor transformara, logo nos primeiros dias de mandato, numa bandeira com a qual liderou a marcha de praticamente todos os governadores, do Palácio do Planalto ao Congresso, para mostrar que a proposta tinha amplo apoio político. É inadiável, disse a presidente, "a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade".

No plano político, deve ser destacado seu compromisso com a mudança "para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública". Quem conhece a história e o desempenho da maioria dos atuais partidos e dos atuais políticos sabe da importância de uma reforma nessa linha.

Entre outros compromissos, Dilma assumiu os de valorizar o parque industrial, dar atenção à elevação da competitividade da agricultura e da pecuária, estimular o desenvolvimento regional, preservar a biodiversidade da Amazônia, fazer os investimentos previstos para a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada, o que inclui a ampliação e melhora do sistema aeroportuário.

Se boa parte disso for cumprida, certamente o Brasil estará melhor daqui a quatro anos.

Quanto à estabilidade da moeda, além da reiteração do compromisso da presidente Dilma Rousseff por sua manutenção, é estimulante a declaração do novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini - que pertenceu à diretoria anterior e foi um dos formuladores da política de metas inflacionárias -, de que a atual política monetária é a mais adequada para o BC cumprir seu papel de guardião da moeda e de que o crescimento econômico sustentado exige inflação mais baixa do que a atual.

Da parte do Executivo, há firmes manifestações de preservação do rigor da política anti-inflacionária. No entanto, na esfera política, da qual o governo depende para fazer avançar seus projetos, é igualmente clara a disposição dos aliados de defender seus interesses partidários ou pessoais empregando todos os meios de que podem lançar mão, mesmo à custa da estabilidade. As ameaças - veladas ou explícitas, algumas beirando a chantagem - de dirigentes do PMDB para forçar a presidente a lhes entregar mais cargos do segundo escalão do que aqueles que lhes foram inicialmente reservados não deixam dúvidas sobre como a base de apoio do governo pode agir, caso tenha seus interesses contrariados ou não inteiramente atendidos.

É com essa base, além da oposição, que o governo terá de discutir e negociar, se estiver mesmo disposto a fazer avançar a reforma política. A reforma de que o País precisa não pode prescindir das mudanças que levem ao fim do caciquismo, ao fortalecimento de princípios programáticos, à imposição de padrões éticos para a atividade político-partidária, entre outras. Tudo isso contraria frontalmente os interesses e a prática de boa parte das lideranças da base governista.

Dela depende também a reforma tributária. Por causa dos tremendos conflitos de interesses entre União, Estados e municípios; entre Estados produtores e Estados consumidores; entre Estado e sociedade, para citar só alguns bem conhecidos, a reforma tributária já teria poucas chances de ser aprovada num prazo relativamente curto. Recorde-se de que, pouco depois da marcha liderada por Lula no início de seu primeiro mandato, a bandeira da reforma tributária foi abandonada e o projeto, inteiramente esquecido. Por causa da fluidez da base governista e da predominância das preocupações fisiológicas em boa parte de suas lideranças, é muito duvidoso que prospere na atual legislatura um projeto de reforma tributária ampla e modernizadora, como a de que o País necessita.

No que depende apenas do Executivo, como a luta pela qualidade da educação - "é preciso melhorar sua qualidade e aumentar as vagas no ensino fundamental e no ensino médio", disse a presidente -, o novo governo é uma repetição do anterior. Se muito ainda precisa ser feito, muito já poderia ter sido feito pelo ministro Fernando Haddad, que está no posto desde julho de 2005, mas não fez.

Quanto a outro compromisso - "faremos um trabalho permanente e continuado para melhorar a qualidade do gasto público" -, Dilma Rousseff terá muito trabalho para cumprir, pois a política fiscal se deteriorou nos últimos anos do governo Lula.

"Em um país com a complexidade do nosso, é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar novas soluções", disse a presidente. Os brasileiros, de fato, querem mais, e depressa. Serão atendidos?

JORNALISTA, É AUTOR DO LIVRO "O SÚDITO - BANZAI MASSATERU!" (EDITORA TERCEIRO NOME)

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Setor de brinquedo prevê crescer 15% com barreira a importado 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 10/01/2011

Presenteado pelo governo no final de dezembro com um aumento de imposto a importações, o setor brasileiro de brinquedos registrou crescimento de 11% no ano passado.
O faturamento da indústria, que combateu a entrada de produtos chineses durante todo o ano, ficou em R$ 3 bilhões, segundo levantamento da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos).
A elevação de 20% para 35% do tributo ao importado deve contribuir para um crescimento de 15% do mercado nacional em 2011.
Para isso são esperados cerca de 2.000 lançamentos no mercado de brinquedos.
A meta do setor é ganhar mais de 5% de participação sobre os chineses, origem de quase 90% das importações brasileiras.
Hoje o mercado está dividido em 60% de importados e 40% de produção nacional.
"Estamos otimistas quanto ao enfrentamento aos produtos chineses. O Brasil é um dos únicos sobreviventes do ataque chinês na América. Praticamente todos os mercados foram quebrados pela China, que produz 85% do brinquedo do mundo", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.
As vendas no último Dia da Criança, principal data para o comércio de brinquedos, com 40% da participação anual, tiveram incremento de 12% ante o mesmo período do ano anterior.
No Natal, que representa 30%, a alta foi de 9% na mesma base de comparação.
O maior volume ficou concentrado em jogos cartonados, bonecas e carros com controle remoto.

LÍNGUA SOLTA

A rede de escolas de inglês para adultos Wise Up, pertencente ao Ometz Group, planeja expansão neste ano.
A estratégia entra em prática em tempos de avanço da concorrência, como o Grupo Multi, da Wizard, que comprou recentemente a Yázigi.
Até março, a Wise Up vai abrir 75 escolas, para superar as 300 unidades no país, segundo Flávio Augusto, presidente do grupo.
A empresa, que já está presente na Argentina, chega neste mês aos EUA.
"No ano passado, abrimos no Brasil uma a cada 2,5 dias", diz Augusto.
Com 650 pontos atualmente, o grupo engloba as bandeiras You Move, Lexical, Wise4U e Go Getter.
A meta é chegar a 850 no final deste ano.

TVs 3D venderão 500% mais neste ano, diz pesquisa

O aumento nas vendas de televisores 3D será de 500% em 2011, de acordo com estudo da consultoria Accenture.
O preço ainda é o principal obstáculo para a aquisição desse produto, segundo 57% dos 8.000 entrevistados.
Entre os jovens até 24 anos, a reclamação sobre os valores das TVs 3D é de 64%.
A pesquisa revela também que há mudança no perfil dos consumidores de celulares, que estão migrando para aparelhos mais caros e com novas funções.
Assim, a quantidade de smartphones vendidos será 26% maior no próximo ano, segundo a Accenture.
Outros produtos que vão vender mais em 2011 são os tablets e os "ebooks", 160% e 133%, respectivamente.
Eles ocuparão parte do mercado que é dos laptops, cuja procura cairá 39%.
O estudo analisou a intenção de compra dos consumidores em relação a 19 produtos e foi realizado em oito países: Brasil, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Índia, Japão e Rússia.

INFLAÇÃO SETORIAL

Os economistas Heron do Carmo (FEA/USP) e José Dutra Sobrinho (Insper) assumem neste mês como presidente e vice, respectivamente, do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo).
"Queremos que o conselho participe mais do debate econômico", diz Carmo.
"Formaremos comissões para discutir temas, como câmbio, inflação e orçamento público, e apresentar à sociedade", diz Dutra.
Carmo defende a redução gradual do teto da meta de inflação, para 4%.
Para reduzir, o governo deveria aprimorar o sistema de indexação, na opinião de Carmo. "Cada contrato tem sua realidade de custo. E o índice, como o IGP, não reflete a realidade de cada setor. Não deveriam usar um índice geral para reajustar os contratos, como os de pedágios."
Para o economista, os contratos mais importantes, como de telefonia e energia, deveriam ter índices setoriais, que reflitam os custos da atividade, além de um fator moderador que meça a alta de demanda e de rentabilidade.
"O ganho deveria ser repassado ao consumidor, via alta menor da tarifa."

SEM PONTUALIDADE
Passadas as festas de fim de ano, os atrasos acima de 30 minutos e cancelamentos das empresas aéreas continuam, segundo levantamento da Infraero. TAM e Webjet tiveram porcentagens maiores de fila de espera.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Festa no interior 
 Renata Lo Prete 

 Folha de S.Paulo - 10/01/2011

Empenhado em dar mais visibilidade às vitrines de sua administração, Geraldo Alckmin pretende retomar o "governo itinerante", programa que desloca para as cidades-polo do Estado estandes com representantes das secretarias e autarquias, oferecendo palestras e prestação de serviços gratuitos. O tucano, que já usou a fórmula na sua passagem anterior pelo Bandeirantes, pretende pilotar os eventos, nos quais assinará ainda liberação de verba para obras prementes a cada região. O Vale do Ribeira, que concentra alguns dos bolsões paulistas de pobreza, deve ser a primeira escala. A escolha simbolizaria o combate às desigualdades sociais, mote inicial do novo mandato.

Em casa Lançado em 2003, na segunda gestão de Alckmin, o "gabinete móvel" foi abandonado por José Serra, que deu preferência a encontros pontuais com prefeitos no próprio Palácio dos Bandeirantes, sob a coordenação do então chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes.

Terceirizado Sem perspectiva de rápida execução de obras que facilitem o deslocamento na Região Metropolitana de São Paulo, o governo tucano planeja conceder incentivos fiscais para adensar as cidades-dormitório do entorno da capital.

#prontofalei Do ex-secretário Hubert Alqueres, cotado para dirigir a universidade virtual de SP, analisando em seu Twitter as férias de Sérgio Guerra (PE): "O PSDB que me desculpe, mas ter um presidente que vai para a Disneylândia enquanto o novo governo se inicia é um absurdo. Ficam os desmandos sem oposição!".

Não, obrigado Dois suplentes recusaram o chamado da Assembleia paulista para assumir mandatos-tampão de deputado até março: Caldini Crespo (DEM) e Roque Tavares (PPS), vereadores respectivamente em Sorocaba e Itaquaquecetuba.

Reciclagem Lúcio Reiner, consultor da Câmara dos Deputados que foi tradutor de espanhol e francês de Lula, atuará agora como assessor parlamentar do vice-presidente Michel Temer.

Tim, tim O PT prepara grande festa em Brasília para comemorar os 31 anos do partido, em 10 de fevereiro. Tem tudo para ser o primeiro palco de Lula na planície.

Onde já se viu? O petista Luiz Sérgio (Relações Institucionais) não está sozinho ao considerar estapafúrdia a pressão do PMDB por mais um assento na coordenação política do governo. Outro ministro palaciano observa: "Essa é uma reunião de livre arbítrio da presidente. Se ela não puder escolher nem mesmo os conselheiros dela, a coisa ficará ruim".

Boletim médico Metáfora de um cacique: "O DEM é como um paciente na UTI. Se a convenção do dia 15 de março for bem sucedida, ele vai para o quarto. Mas não deixa o hospital".

Demolândia 1 Onofre Agostini, eleito para o primeiro mandato, vai entrar na disputa pela liderança do DEM na Câmara. Apesar de ser de Santa Catarina, ele não é do grupo da família Bornhausen, que apoia Marcos Montes (MG). ACM Neto (BA) ainda não anunciou oficialmente, mas também deve entrar no páreo.

Demolândia 2 A guerra civil no DEM segue intensa. A ala do presidente, Rodrigo Maia (RJ), acusa Gilberto Kassab de oferecer posições na prefeitura de São Paulo, no governo de Raimundo Colombo em Santa Catarina e na Confederação Nacional da Agricultura (leia-se, Kátia Abreu) em troca de apoio.

tiroteio

"O Itamaraty não é clube de amigos, nem o passaporte é carteirinha de clube social."
DO PRESIDENTE NACIONAL DA OAB, OPHIR CAVALCANTE, sobre a concessão, no apagar das luzes de 2010 e em desrespeito aos critérios previstos, de passaporte diplomático a Luís Cláudio e Marcos Cláudio, filhos do ex-presidente Lula.

contraponto

Questão de tempo

No discurso de transmissão do cargo a Luiz Sérgio no Ministério das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que é grisalho, brincou com o colega, dizendo que, quando chegou ao cargo não tinha cabelos brancos, e que esperava que não acontecesse com o bigode do petista o ocorrido com ele.
Passados alguns dias no comando da pasta, Luiz Sérgio comentou com um subordinado:
- É, acho que vai ser difícil segurar...

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Drogas - a mão que salva
Carlos Alberto Di Franco 
O Estado de S.Paulo - 10/01/11

Retomo, amigo leitor, com tristeza e preocupação, o tema de recente artigo publicado neste espaço opinativo: o flagelo das drogas. O avanço da dependência química no Brasil é assustador. E o crack, brutalmente devastador, ocupa o primeiro lugar no mapa da morte. Em mais de 3.800 dos 5.500 municípios brasileiros há graves problemas de segurança pública, saúde e assistência social decorrentes do consumo do crack. Como lembrou recente editorial do Estado, o consumo da droga já se disseminou por todas as regiões do País, expandindo-se dos grandes centros urbanos para as cidades de pequeno e de médio portes e até para zonas rurais. As estimativas mais conservadoras são de que o consumo do crack leve cerca de 300 mil pessoas à morte nos próximos seis anos.

Essas informações foram divulgadas pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base num estudo de amplitude nacional. "O Brasil não tem nenhuma política de enfrentamento do crack, seja por parte de municípios, Estados ou União. Fizemos um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, mas não há nenhuma política de prevenção da mortalidade juvenil. Estamos salvando nossas crianças, mas deixando-as morrer na juventude", diz o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, depois de classificar a expansão do consumo de crack como "epidemia nacional" e de reclamar da escassez de recursos para conter a disseminação do vício entre os jovens.

A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome da avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está, de fato, dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada e no auê dos bares e boates frequentados pela juventude bem-nascida. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. A prevenção e a recuperação, as únicas armas eficazes a médio e a longo prazos, reclamam um apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de autoajuda que lutam pela reabilitação de dependentes.

Não se faz jornalismo, nem mesmo matéria de opinião, fechado entre as quatro paredes de uma redação ou circunscrito ao rarefeito ambiente de um laboratório acadêmico. É preciso ver, ouvir, apurar, sentir, refletir e só então escrever. Nada supera o realismo da velha e boa reportagem. Com esse espírito, movido pelo dever de obter informação verdadeira, mergulhei numa pauta assustadora: a dependência química.

Cabeça baixa, olhos cravados no chão, coração encharcado de dor. "Será que Deus ainda olha para mim?" Paira no ar uma tristeza densa, que se pode cortar. A falência da autoestima e o sentimento de culpa, à semelhança de uma laje de chumbo, esmagam a alma. A cena, dura e forte, retrata o day after de um adicto de cocaína. O drama, tragicamente rotineiro no frio anonimato da cidade sem alma, não é um recurso ficcional. É real. Tem nome e sobrenome, obviamente preservados por razões éticas elementares. Recuperou-se na Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, no interior de São Paulo (www.hortodedeus.org.br). Seus olhos recobraram a luz da esperança. Retomou os estudos, concluiu a faculdade de Publicidade e Propaganda e está batalhando. Com cabeça erguida e dignidade resgatada. Sua história, parecida com a de milhares de jovens, deve ser registrada. E a mão que o salvou, o Horto de Deus, merece uma matéria.

Com gravíssimas dificuldades financeiras e sem nenhum apoio dos governos, embora não faltem falsas promessas de ajuda de políticos oportunistas e de prefeitos de turno, a entidade tem sido responsável pela recuperação de inúmeros dependentes químicos. Os governos não se dão conta de que o trabalho dessas instituições repercute diretamente na qualidade da segurança pública e no custo da saúde. Elas rompem o círculo vicioso das drogas e criam o círculo virtuoso da recuperação e da ressocialização.

Reuni-me com internos do Horto de Deus. A conversa, franca e direta, foi ao cerne do problema, desfez inúmeros equívocos e me transmitiu a sinceridade afiada daqueles que conheceram o fundo do poço. Ao contrário, por exemplo, dos que defendem a descriminalização das drogas e proclamam o caráter supostamente inofensivo da maconha, todos afirmaram que o primeiro baseado foi o passaporte para as drogas mais pesadas. T. K. M., de 21 anos, fumou seu primeiro cigarro de maconha aos 12. Com 16 anos já tinha mergulhado na cocaína. Chegou à comunidade terapêutica dominado pela dependência do crack. Recupera-se bem, resgatou valores e recuperou a esperança. "Agora eu sonho com o futuro. Antes vivia só para as drogas." Seus olhos têm brilho. Um belo exemplo do que pode fazer um bom trabalho de recuperação.

Debates no Congresso Nacional sugerem que as comunidades terapêuticas, bem como as demais instituições idôneas que trabalham na recuperação de adictos, possam, num futuro próximo, receber recursos provenientes do Fundo Nacional Antidrogas e do Sistema Único de Saúde (SUS). Seria uma providência inteligente. É sempre melhor apoiar o que já funciona, e bem, do que cair na tentação de criar novas estruturas. Na verdade, as comunidades terapêuticas no Brasil, hoje, são responsáveis por boa parte da assistência ao dependente e a seus familiares.

O governo da presidente Dilma Rousseff precisa olhar o trabalho das comunidades terapêuticas com seriedade. Elas são, de fato, as grandes parceiras no cerco ao submundo das drogas. Impõe-se um decidido apoio às entidades idôneas que batalham pela recuperação dos dependentes. Afinal, um adicto recuperado é o melhor aliado na luta contra as drogas.

DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO

CHINA

ANCELMO GÓIS

Passaporte vermelho
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 10/01/11

Foi numa cerimônia no Rio, em 2006, que o embaixador Jerônimo Moscardo (ex-ministro da Cultura) sugeriu que o Itamaraty concedesse aos imortais da ABL, “em caráter excepcional”, o tal passaporte vermelho que Pelé e os filhos de Lula têm. Argumentou que os acadêmicos fazem uma verdadeira diplomacia cultural. 

Segue...

A ideia prosperou no Itamaraty até ser abatida pelos próprios acadêmicos. Numa reunião plenária da ABL, o historiador José Murilo de Carvalho chegou a dizer que teria vergonha de passar na frente dos outros ou de ser visto numa fila com um documento desses na mão.

Lá vem a noiva
Sábado, no casamento de Natália Jereissati, filha de Tasso Jereissati, a senadora Patrícia Saboya, 48 anos, elegante, num vestido tomara que caia, sentou-se ao lado do ex-presidente FH, 79 anos. Foi o suficiente para o pai da noiva mexer: 
-— Patrícia, desde que você se sentou aí o presidente não se concentra em mais nada. 

Salve, Gil
A francesa Dominique Dreyfus, pesquisadora da MPB, prepara para a TV de seu país um documentário sobre Gilberto Gil, abordando a passagem do artista pelo Ministério da Cultura. 

Contas a pagar
A ministra Ana Hollanda encontrou despesas a pagar no Ministério da Cultura que beiram a casa dos R$500 milhões.



 Fruta do ano 

Uma feirante de Copacabana decidiu cobrar R$0,50 pela prova de lichia, a frutinha gostosa. É que muitos clientes pedem para provar e depois não compram. Faz sentido.

Nem Shell, nem Esso
A OGX de Eike sempre ele Batista é a empresa privada que mais investe em exploração do petróleo no país. Pela conta da ANP, ano passado (até o terceiro trimestre), os investimentos em exploração no país totalizaram R$8,4 bilhões.

A lista
O maior investidor, com 59% do total, é, claro, a Petrobras. Depois vem a OGX, com 14% (R$1,2 bilhão), seguida da espanhola Repsol, com 11%, e, logo depois, a americana Anadarko, com 6%. 

Paraíso pirata
O número dá só uma ideia do tamanho da pirataria no Brasil. Ano passado, foi apreendido mais de 1,6 milhão de CDs piratas com programas de computador. Um aumento de 42% em relação a 2009. 

O médico Luiz Bonfim assume a presidência da Sociedade de Anestesiologia do Rio dia 14. 

Nilze Carvalho lança o CD “O que é meu” no Teatro do Sesi, amanhã, às 19h.

Oh, Boy! encerra o Fashion Business com festa, dia 13, no Picadeiro da Hípica.

“Chico Xavier” abre a mostra Cinema Nacional Legendado & Audiodescrito, dia 15, no CCBB.

O projeto República do Samba homenageia Zé Keti na Casa de Laurinda, dia 22, às 17h.

O Vinoclub Bistrô faz parceria com Grand Cru em sua carta de vinhos. 

Dia 12, será encenada a peça “Tem-po de solidão”, de Márcia Zanelatto, no CCBB, lançando o IV Brasil em Cena.

Apagão

Sábado, no lançamento da turnê “Marco Zero”, em comemoração aos 30 anos de carreira da cantora Elba Ramalho, o Vivo Rio ficou às escuras. Elba não se abalou. Puxou, à capela mesmo, iluminada somente pela lanterna de um contrarregra, canções como “De volta para o aconchego”, “Chão de giz” e “Banho de cheiro”.

Emoção
A plateia foi às lágrimas. A luz só voltou depois do bis.

País do futuro

Este ano completa 70 anos de publicação o livro “Brasil, um país do futuro” de Stefan Zweig. A data será comemorada sexta, dia 14, em Petrópolis, com uma mostra multimídia sobre o escritor austríaco, na casa em que ele morou.

Pai
Nestas andanças em Miami, Aécio está acompanhado da filha Gabriela.

Ronaldinho é Fla

Veja como a novela Ronaldinho Gaúcho mobiliza todos. Sábado, já perto da meia-noite, no bar (apinhado) Casa Brasil, na Praça São Salvador, em Laranjeiras, uma tricolor começou a discursar contra Ronaldinho Gaúcho, provocando a maioria rubro-negra em volta.

No que...
O bar quase inteiro, acredite, começou a cantar, no ritmo de “Poeira”, de Ivete Sangalo: 
— Inveja-aa!/Inveja-aa!/Iinveja!/Morre de inveja!... Até os garçons cantaram. Há testemunhas.

JAIR BOLSONARO

Equívoco em campanha
JAIR BOLSONARO
O GLOBO - 10/01/11


No final de novembro de 2010, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara acolheu representantes do MEC e do movimento GLBT, realizando balanço sobre material de combate à homofobia a ser distribuído aos alunos da rede pública do primeiro grau em 2011. Um dos audiovisuais, intitulado "Encontrando Bianca", é um verdadeiro estímulo ao homossexualismo, por mostrar um jovem gay que, depois de aparecer com as unhas pintadas na escola, exige ser chamado de Bianca, bem como quer fazer uso de banheiro feminino.

Na mesma sessão, o atual secretário de Alfabetização e Diversidades do MEC disse que sua equipe passou três meses discutindo quantos centímetros a língua de uma menina poderia adentrar a boca de outra para o beijo ser considerado lésbico. Nota-se, claramente, que tal kit está muito mais para estimular homossexualismo do que combater homofobia, além de, diretamente, tornar nossos filhos e netos presas fáceis para pedófilos que rodeiam nossas escolas.

Profissionais do MEC e do grupo GLBT pesquisaram nossos jovens em 11 capitais, sem que os pais soubessem, e chegaram às seguintes conclusões: 1) existem, no primeiro grau, mais garotos gays que meninas lésbicas; 2) poucos alunos sabem o que significa a sigla GLBT; e 3) os símbolos religiosos devem ser abolidos das escolas, já que as mesmas são laicas.

Tais diretrizes sepultam qualquer preocupação com atos de homofobia e induzem, nas crianças, o entendimento de que ser gay, além de legal, é motivo de orgulho para sua família. No auge da palestra, o relato da afirmação de um garoto de 10 anos: "Ver dois caras se beijando é supernojento." Na sua inocência, o garoto causa indignação às dezenas de homossexuais que prestigiam a palestra do secretário de Alfabetização.

Os grupos homossexuais não são fracos ou indefesos como querem parecer, pois nunca lhes faltaram recursos públicos para suas paradas, inclusive com um deputado emprestando sua assinatura em emenda ao Orçamento de 2011 com a destinação de R$11 milhões para o grupo GLBT.

Já está acordado com o MEC que homossexuais serão responsáveis pela fiscalização da utilização do denominado "material didático" nas escolas, isto sem que os pais possam ter ingerência, já que estes são, segundo esses pesquisadores, os grandes inibidores da verdadeira sexualidade dos seus filhos. Como se não bastasse o festival "florido" da comissão, efusivas palmas ocorreram quando a presidente da Redtrans afirmou: "...minhas melhores professoras foram justamente as prostitutas."

A educação brasileira, tão mal das pernas e de notas, ainda que sob pretexto de combate a atitudes reprováveis, não pode ser atacada por grupos que cometem um mal ainda maior - no presente caso, estimulando comportamentos inadequados em quem ainda nada sabe sobre sexo. Se a proposta é saudável, basta disponibilizá-la na internet, sem necessidade de esconder dos pais seus cartazes, audiovisuais e cartilhas.

Por divulgar esse absurdo material junto à imprensa, que causou mal-estar nos gays, lésbicas, bissexuais e travestis, passei a ser acusado de homofóbico, fato que me dá mais forças para buscar o impedimento de tal propaganda nas escolas, em defesa da família e dos bons costumes.

JAIR BOLSONARO é deputado federal (PP-RJ).

JAPA GOSTOSA

RAUL VELLOSO

Por enquanto, tudo bem
RAUL VELLOSO
O GLOBO - 10/01/11


Depois de vários anos de queda sistemática da razão entre a dívida pública e o PIB, a ameaça de descontrole na evolução dessa razão voltou a rondar as análises sobre o assunto. Nesse contexto, tem-se lançado mão de receitas não recorrentes, como a antecipação de dividendos de empresas estatais, e até mesmo de formas pouco convencionais de contabilização de receitas não financeiras, como no caso da recente capitalização da Petrobras, com o óbvio inconveniente de colocar em risco a credibilidade dos demonstrativos oficiais.

Fala-se em atingir a meta de 3,1% do PIB para o superávit primário global em 2010, o que asseguraria uma evolução favorável da razão dívida-PIB. Contudo, mesmo se considerarmos a hipótese de cálculo alternativo de maior valor, entre as que circulam nos departamentos de pesquisa dos mercados financeiros, espera-se saldo não maior do que 2% do PIB. No mundo fiscalmente desorganizado de hoje, poucos ligam para esse tipo de problema. Só que o cenário sempre vira.

Existem razões conjunturais e de fundo para a queda dos superávits fiscais. No mundo anterior à crise americana, e puxadas pelo boom internacional, as receitas públicas cresciam acima das despesas. A crise recente levou à queda imediata e generalizada da atividade econômica e da arrecadação de impostos. E, como o crescimento dos gastos públicos (em parte para atenuar o impacto da crise) se acentuou, os superávits desabaram. Para voltar aos superávits anteriores, em teoria a saída é simples. Num quadro de expansão de gastos, as receitas teriam de subir mais que as despesas, o que pode exigir novos impostos. Ou, então, atua-se exclusivamente do lado dos gastos.

Na prática, nada disso é trivial. Primeiro, porque há muito deixou de haver clima propício ao aumento de qualquer imposto. Mesmo nos seus cem dias iniciais de glória o novo governo corre o risco de uma forte mobilização popular anti-CPMF, ainda que tente recriá-la para uma área tão nobre como a de saúde. Segundo, porque a expansão permanente dos gastos correntes está na essência da atuação dos governos, há muitos anos. Mexer nisso é tocar em vespeiro político, ainda que o modelo de crescimento do gasto público corrente, escolhido pelo mundo político para puxar a carruagem da economia brasileira, encerre uma contradição fundamental.

Na raiz da inconsistência está o velho conflito entre a decisão de consumir e a de investir. A opção pelo crescimento do consumo (ou pela queda da taxa de poupança pública), que se está fazendo, em princípio envolve investir menos (por haver menos recursos para tal fim) e implicaria, portanto, que a economia crescesse menos, algo de difícil aceitação pelos políticos. Só que, mais recentemente, a economia tem crescido até mais, mesmo após forte aumento dos gastos correntes. Como se explica isso?

Na verdade, a puxada no consumo, em si, atrai investimento, a fim de atender à maior demanda. Mas no curto prazo o aumento do investimento só se viabilizará se houver ingresso suficiente de poupança de fora, o que requer apreciação cambial, altas importações e déficits externos. Na prática, então, estaremos apenas substituindo poupança interna - pública, no caso - por poupança externa, à custa de efeitos colaterais indesejáveis, como o processo de desindustrialização em curso.

Esse se torna inevitável, pois em algum setor terão de ocorrer déficits externos, sem o que não haverá entrada de poupança externa. E, quanto mais relevante for a área de commodities, que exporta elevados excedentes de produção sobre o consumo interno e é vencedora na geração de divisas, maior a necessidade de "desindustrialização" no resto da economia.

Com base em estimativa precária, a poupança em conta-corrente das administrações públicas (União, Estados e Municípios) se tornou negativa em 2009, depois de ter sido fortemente positiva nos anos setenta. Ou seja, em síntese, o aumento da taxa de crescimento do PIB se viabilizou com a ajuda do quadro externo favorável dos últimos anos (em que pese a crise americana).

Outro subproduto indesejável do modelo de crescimento dos gastos públicos correntes é a necessidade de subir a taxa de juros Selic de tempos em tempos para conter pressões inflacionárias. Isso ocorre mesmo diante da ampliação da oferta de bens que vêm de fora. Gastos públicos correntes mais elevados implicam maior demanda sobre todos os setores da economia, mas especialmente sobre o de bens e serviços não comercializáveis com o exterior, notadamente serviços. E como, por definição, esses não se importam, quanto maior for a demanda, maior a pressão sobre a taxa de inflação.

Com ambiente externo favorável, vai-se levando. E quando o quadro externo mudar?

Se hoje há subprodutos indesejáveis do ingresso atípico de poupança externa, a sua falta significará a necessidade de gerar maior poupança aqui dentro, a começar pelo setor público. O risco é que nessa altura a despesa esteja mais rígida do que nunca e o sacrifício para fazer o ajuste, maior ainda.

RAUL VELLOSO é economista.

CLÁUDIO HUMBERTO


Embaixada em Paris será destino de Jobim
O ministro Nelson Jobim (Defesa) tem demonstrando que ama tanto Paris quanto os caças Rafale, que a França tenta empurrar ao Brasil por R$ 20 bilhões. Jobim ama tanto tudo aquilo que agora quer ser nomeado embaixador brasileiro em Paris, quando em abril deixar o cargo de ministro. É o prazo que a presidenta Dilma Rousseff estabeleceu para bater o martelo na compra bilionária dos caças.


Conquista ameaçada

Todos os embaixadores são profissionais de carreira. Nelson Jobim indicado representaria o fim dessa conquista da diplomacia brasileira.


Honra ao mérito

Por sua dedicação aos franceses, Nelson Jobim já faz jus a Legião de Honra, maior honraria deles, e virar embaixador da França em Brasília.


Vale-tudo

Para apressar Dilma na compra dos caças, Nelson Jobim agora alega que "em 2016 começam a vencer os ciclos de vida dos Mirage-2000".


Mais uma lorota

Fontes da Aeronáutica desmentem Jobim: os Mirage 2000 da FAB foram recém-repotencializados, com novas armas, aliás, a custo alto.


PMDB ameaça reagir a proibição de concessões

O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) mexeu em vespeiro, ao afirmar que deveriam ser proibidas concessões de emissoras de rádio e tevê para políticos. Caciques do PMDB desconfiam que o partido é o alvo preferencial do ministro, e encontram no episódio mais um pretexto para se insurgirem contra o governo Dilma. O PMDB sente falta dos tempos que controlava o ministério, agora entregue ao PT.


Jeitinho

A lei já restringe ao controle de emissoras por políticos, que se afastam quando eleito e as empresas são administradas por "laranjas".


Dilma por trás

A cúpula do PMDB achou, em princípio, que o ministro Paulo Bernardo fala por ele mesmo, mas concluíram que é Dilma quem pensa assim.


Rei do nepotismo

O governador do Acre, Tião Viana, nomeou quatro primos e um concunhado além da mulher do seu vice-governador do Acre.


Vai fazer muita falta

O ministro Ubiratan Aguiar vai antecipar sua aposentadoria no Tribunal de Contas da União. E a Câmara dos Deputados terá mais um cargo nas negociações com o Planalto para eleição da mesa diretora, dia 1º.


Eu tenho a força

O futuro presidente da Anatel, João Resende, se vangloria em noitadas regadas a vinho, em Brasília, que está para o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) como Paulo Okamoto, ex-Sebrae, estava para Lula.


Atitude acertada

Edison Lobão (Minas e Energia) agiu certo: defendeu Guido Mantega (Fazenda) na presidência do conselho da Petrobras, alegando que a função é incompatível com quem detém mandato. Lobão é senador.


Líder por acaso

Campeoníssima de votos, a deputada Ana Arraes (PE) seria a líder natural do PSB na Câmara. Mas abriu mão da função para não constranger o filho, governador Eduardo Campos (PE).


FRASE DO DIA


"Devolvo o antigo também, sem nenhuma escrita nele"
Marcos Cláudio, enteado de Lula, anunciando a devolução do passaporte diplomático

PODER SEM PUDOR

A cruz pefelista
O mineiro Aureliano Chaves escolheu encerrar em Três Pontas, cidade onde nasceu, a sua natimorta campanha para presidente de 1989. O clima era de velório, na praça e no palanque. O conterrâneo Oscar Dias Corrêa Jr reparou na enorme cruz da igreja próxima e não resistiu à comparação com o candidato do PFL, que tinha peso a mais e votos de menos:
- Pelo tamanho da cruz, eu tendendo porque ela era tão pesada... 

FUTURO MINISTRO

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Dilma vai ter que enfrentar 12 projetos polêmicos

Folha: SP promete só uma nova linha de metrô até 2014

Estadão: Indústria brasileira perde R$ 17,3 bilhões com importação

JB: Talento para decifrar Lobão

Correio: Vem aí uma cruzada política contra o crack

Valor: Americanas vai incorporar B2W em negócio de R$ 1,7 bi

Estado de Minas: A nova invasão chinesa

Jornal do Commercio: Ladrões fazem família refém em Candeias

Zero Hora: Indústria gaúcha prevê investir R$ 3,6 bi no ano

domingo, janeiro 09, 2011

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Lula de cuecão na varanda! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo passou o fim de ano em Fortaleza e teve uma vida sexual super agitada: comeu três caranguejos! E uma outra foi alugar casa na praia e perguntou: "Tem rede?". "Tem, se a senhora trouxer." E aquela biba tava tão alucinada no Réveillon que a amiga gritou: "Volta pro pão, carne louca".
E não existe nada mais mineiro que esse cartaz num boteco em Paraguaçu: "É proibido falar bobagem!"
E em Campinas tem um proctologista chamado doutor Dédalo. Já imaginou: "Ah, hoje eu vou fazer exame de próstata no doutor Dédalo". DÉDALO DE OURO! Rarará!
E o Lula? Vai virar sindico em São Bernardo. E lançar mais um PAC: Programa de Ajuste do Condomínio! E será que a dona Marisa vai aguentar o Lula de cuecão e regata de metalúrgico? O Lula tá com síndrome de abstinência: fica brincando de reunião ministerial com os netos.
E o chargista Pelicano mostra o Lula num boteco tomando umas quando o celular toca: "Deve ser a Dilma". Que nada! Era a voz da dona Marisa: "Quer fazer o favor de vir jantar?". Rarará!
E o caso Battisti? Por que o Lula não extradita o Sarney? Pra ver se o Berlusconi aguenta. Berlusconi, não. Berluscome. Berluscome todas! E eu troco esse Battisti por dois sapatênis da Prada!
E o site Comentando revela a biografia da Paquita do Temer: "Ela disputou o Miss Paulínia, o Miss Campinas, o Miss São Paulo, mas ganhou o MISSchel Temer". Rarará.
Casar com uma miss loira 43 anos mais nova é uma TEMERIDADE! Rarará! A Dilma toma posse, o Lula toma cachaça e o Temer toma Viagra! E eu já tô com o meu ingresso pro show da Amy WineWhiskyVodkaHouse! Rarará!
O brasileiro é cordial! A volta do Gervásio! Mais um cartaz na empresa em São Bernardo: "Aqui não é circo pra ficar de brincadeira e risadinha, se eu pegar alguém aqui com palhaçada, vou amarrar o hiena mole e passar pena de pomba no pé até sair ferida. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Já imaginou se o Lula encontra com o Gervásio em São Bernardo? "Se eu pegar o Lula de cuecão fazendo discurso na varanda do prédio, vou costurar a boca do sapo barbudo até ele engolir a língua toda". Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CELSO MING

Pouco progresso
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 09/01/11


Há mais a levar em conta na evolução da economia dos Estados Unidos do que apenas a trajetória do índice de desemprego. E os Estados Unidos ainda são a principal locomotiva da economia global.

Sexta-feira, o Departamento do Trabalho americano anunciou o que, em princípio, poderiam ser boas notícias: a criação de 103 mil postos de trabalho em dezembro e o mergulho do índice de desemprego de 9,8% em novembro para 9,4% em dezembro.

No entanto, uma leitura mais atenta dos levantamentos mostrou duas coisas. Primeira, que as novas contratações ficaram aquém do esperado, abaixo de 150 mil vagas. E, segunda, houve uma forte redução da força de trabalho, aparentemente por fatores também negativos.

É preciso explicar melhor esse segundo ponto. Para que alguém integre as estatísticas de desemprego precisa estar à procura de emprego. E, nos últimos meses nos Estados Unidos, um enorme contingente da população ativa desistiu de procurar trabalho. Não há levantamentos que mostrem o que está acontecendo, mas dá para imaginar: muitos se aposentaram, outros mais estão vivendo de reservas pessoais e sabe-se lá quantos estão vivendo ao deus-dará.

Uma hora depois do anúncio feito pelo Departamento de Trabalho, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, em depoimento no Comitê Orçamentário do Senado, lamentou o ritmo tartaruga da criação de empregos. "A essa velocidade, podem ser necessários cinco anos para normalizar o mercado de trabalho", disse. E, no entanto, outros indicadores demonstram que há uma expressiva recuperação da atividade econômica dos Estados Unidos.

Reforça-se, assim, a hipótese de que a produção nos países ricos será retomada sem contrapartida de criação de empregos. Ou seja, há um forte aumento da produtividade do trabalho ou porque, por medo do desemprego, o empregado está trabalhando mais com o mesmo salário; ou porque cresceu a utilização de tecnologia da informação, que é poupadora de mão de obra.

Do ponto de vista imediato, de grande interesse para o Brasil, define-se que o Fed não terá nenhuma razão especial para adiar ou rever o chamado afrouxamento quantitativo. Trata-se do compromisso de recomprar US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro, a um ritmo de US$ 75 bilhões por mês, com simples emissão de moeda, para estimular o crédito e irrigar a economia americana.

É uma operação que vai contribuir para desvalorizar ainda mais o dólar nos mercados de câmbio e para inundar com mais recursos os países emergentes, entre os quais o Brasil. O resultado será a valorização do real e a perda de competitividade do setor produtivo nacional. Enfim, reforçam-se as condições para a guerra cambial que vem sendo denunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Como essa operação monetária acontecerá em clima de recuperação da economia americana, não dá para desprezar outro efeito: elevação da demanda por matérias-primas, petróleo e alimentos. Esse aumento da procura mais a desvalorização do dólar estão montando um cenário de novas escaladas de preços das commodities. De um lado, reforçarão as exportações do Brasil; de outro, contribuirão para a esticada da inflação.

Advertências

Sexta-feira, os presidentes dos dois mais importantes bancos centrais do mundo fizeram dramáticas cobranças de disciplina fiscal.

Olhem o rombo

Ben Bernanke, o presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), advertiu no Senado que "as autoridades americanas não podem ignorar os elevados déficits dos Estados Unidos e seus efeitos negativos sobre a economia no futuro. (...) Quanto mais esperarmos para agir, maiores os riscos e mais dolorosa será a inevitável mudança no orçamento".

Não cubro irresponsabilidade

Pouco antes, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), avisou as autoridades dos países da área do euro que "a responsabilidade na política monetária não pode ser substituto para a irresponsabilidade dos governos". Como alguns países estão fazendo reformas e outros estão atrasados, Trichet observou que as diferenças de competitividade entre países da área do euro estão se ampliando.

SUELY CALDAS

Dilma e Lula em paralelo
 Suely Caldas
O ESTADO DE S. PAULO 09/01/11

Os últimos atos de Lula foram livrar o ativista italiano Cesare Battisti da extradição e a ex-ministra Erenice Guerra de penalidades em sindicância que a absolveu. O primeiro de Dilma Rousseff foi demitir apadrinhados do PMDB de cargos cobiçados no Ministério da Saúde e na direção dos Correios. Diferenças? De estilo, sem dúvida - os dois têm perfis opostos. Mas não só.
Sobressaem nesses primeiros dias de gestão o empenho da presidente em provar ao País que não é um poste - do que foi acusada - e que tem a personalidade forte de uma mulher que não chegou ao poder para ornamentá-lo, tampouco esquentar a cadeira para Lula. Dilma tenta mostrar que tem convicções e determinação para concretizá-las. Para acertar ou errar? O futuro dirá.
Depende de seu programa de governo, ainda nebuloso e cheio de incertezas, e de enfrentar com habilidade, e também coragem, os que fingem ser aliados para se dar bem e fazem da chantagem instrumento de barganha para conseguir o que querem.
Com eles Lula foi complacente, generoso até. Passou oito anos acariciando cabeças de corruptos, culpando a imprensa por divulgar fraudes, distribuindo cargos técnicos a políticos sabendo que ali estavam para tirar lascas de poder para seus partidos e comprometendo a qualidade de uma gestão que deveria focar o bem público.
Em seus dois discursos mais relevantes (na vitória eleitoral e no ato de posse), em que definiu mais linhas de conduta do que o conteúdo de um programa de governo, Dilma Rousseff avisou: "Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para atuarem com firmeza e autonomia." O País torce para ela cumprir o prometido, combater e punir a corrupção e não fazer de seu discurso uma banal peça de retórica que logo será esquecida. Nos primeiros dias de governo, em 2003, Lula levou o ministério inteiro ao município mais pobre do País, para "conhecerem de perto a miséria". Em pouco tempo os ministros esqueceram o que viram, mas com este ato, Lula marcava sua linha de percurso dos próximos oito anos: a paixão pela viagem e pelo monólogo em discurso e a aversão pela gestão cotidiana do País.
Tratou de comprar o "aerolula" e saiu pelo Brasil afora e por todos os continentes do mundo. Só para o exterior ele viajou 252 vezes. Em oito anos de governo operou como um animador de programa de auditório, que faz rir, busca popularidade e aplausos, fala o que quer e o que a plateia quer ouvir - inclusive inverdades. Para tocar o cotidiano do País de Brasília ele tinha José Dirceu e Antonio Palocci, num primeiro momento, e depois a própria Dilma e Paulo Bernardo.
Nessa primeira semana Dilma se recolheu ao gabinete, não deu entrevistas, não apareceu em público e tratou de começar a organizar e sistematizar o governo. Combinou linhas de ação com ministros, reuniu o conselho político para tentar acalmar PT e PMDB, às turras pela disputa de cargos de segundo escalão (cumprirá a nomeação de técnicos ou cederá ao fisiologismo?).
Chamou raposas do Congresso para conversar, preocupada com a eleição de um petista para a presidência da Câmara e com a votação do salário mínimo. Ao contrário de Lula, ficou longe dos holofotes.
Mas Dilma continua devendo ao País seu programa de governo. Se ela fala de austeridade fiscal e privatização de aeroportos, certamente não será mera continuidade do governo Lula. Embora seja tema de consenso no governo, o Banco Central parece ter tido plena liberdade para decidir medidas de efeito cambial na última quinta-feira, sem interferência, como ela prometeu ao assumir.
Ela teve mais de dois meses para preparar as primeiras propostas de governo, aquelas que precisam ser divulgadas no calor das urnas para ganhar apoio popular. Não há uma só definição sobre as reformas (política, tributária, previdenciária, trabalhista e as microrreformas). Não fazê-las foi enorme falha de Lula, um decepcionante atraso de oito anos. Dilma não pode repetir o erro.
Jornalista e professora de Comunicação da PUC-Rio

FERREIRA GULLAR

Quando dois e dois são cinco
Ferreira Gullar
FOLHA DE S. PAULO - 09/01/11

Olho para ela e pergunto: essa senhora é a presidente do Brasil ou se trata de personagem de novela?


Faz tempo que não toco, aqui, em assuntos políticos e, se volto ao tema hoje, é para refletir, junto com você, leitor, sobre um fato para mim inusitado. Certamente nem todos concordarão comigo ou simplesmente preferirão desconsiderar esse tipo de perplexidade. De qualquer modo, se eu estiver equivocado, peço-lhe desculpas, mas, sinceramente, neste caso, não opino, constato e com espanto. Constato o seguinte: a eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República não me parece real.

Talvez não seja eu o único a pensar assim e que não só a mim a eleição dela pareça inusitada. Tendo a admitir que não. Pode ter ocorrido que, na tropelia da disputa política, meses de propaganda, declarações, acusações, desmentidos, as pessoas se deixaram levar pela paixão e não pararam para refletir sobre o que acontecia. Disputa seja na política seja no futebol, tende a nos cegar, a nos impedir de refletir e ponderar.

Não me excluo disso, tanto que só depois que a coisa se consumou, que os discursos cessaram, os debates acabaram e a Justiça Eleitoral a proclamou presidente eleita do Brasil é que me dei conta de quão surpreendente era tudo aquilo -isto é, de quão surpreendente é termos Dilma Rousseff como presidente do Brasil e que irá nos governar pelos próximos quatro anos.

Se quiser entender meu espanto, siga este raciocínio: Dilma Rousseff nunca pretendeu candidatar-se a nenhum cargo eletivo. Embora tenha entrado para a política muito jovem, na época da ditadura, e continuado sua militância após a volta da democracia, jamais disputou eleição alguma.

Isso não teria importância em alguém que sempre se manteve à margem da política, o que não é o caso dela; daí a conclusão de que, se nunca se candidatou, foi porque essa não era a sua praia. Em vez disso, estudou economia e se contentou em ocupar cargos oficiais na área de sua especialização, chegando a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República.

Mas, de repente, essa pessoa que nunca disputou eleição nem para vereadora é lançada candidata à presidência da República. Acredita você que foi por vontade dela? Que um dia acordou e disse a si mesma: "Sabe de uma coisa, vou me candidatar a presidente do Brasil!". Você não acredita nisso, claro, nem eu tampouco. O que aconteceu então?

Todo mundo sabe o que aconteceu: foi Lula quem decidiu isso e impôs a ela a decisão. Como acha você que terá reagido Dilma, ao ouvir de Lula a ideia de candidatar-se ao mais alto cargo eletivo do país, ela, que nunca se candidatou a cargo algum? Estou certo de que pediu um tempo para pensar e mal conseguiu dormir aquela noite. "Lula pirou", terá dito ela a si mesma, imóvel na cama, olhando para o teto. "Eu, presidente do Brasil? É maluquice!"

Claro, estava perplexa, mas, certamente, fascinada pela ideia, como Cinderela ao ver que o sapato da princesa buscada poderia caber em seu pé. Mas tinha dúvida: "Caberá mesmo?". Aquilo mais parecia sonho que realidade.

O mesmo espanto senti eu e muita gente mais quando a coisa se revelou. Lula veio a público dizer que Dilma seria a candidata sua e do PT à Presidência da República. Não dava para acreditar. O PT também reagiu, tentou convencer Lula de que aquilo era um disparate, mas não conseguiu. Como sempre, prevaleceu a vontade do líder absoluto e incontestável.

Tudo isso se sabe, claro, mas pretendo é que avalie bem o que ocorreu. Vamos adiante: porque nunca disputara eleições, era natural que não tivesse eleitores, muito menos para ganhar um pleito presidencial -ou seja, conquistar os votos de mais da metade de 130 milhões de eleitores. E chegou lá graças a Lula, que, para elegê-la, usou toda a máquina estatal e desconsiderou a lei eleitoral.

O resultado é que temos, diante de nós, agora, uma presidente da República que é uma surpresa até para si mesma. Eleita sem ter votos! É quase como um suplente de senador.

Olho para ela e me pergunto: essa senhora é de fato a presidente do Brasil ou se trata de uma personagem de novela? Acredito até que ela, às vezes, se belisca para ver se é mesmo verdade. O que não significa que fatalmente fará um mau governo, já que tudo é possível neste mundo surrealista latino-americano. Desejo-lhe boa sorte.

GOSTOSA

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Perspectivas para as férias
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/01/11
Saio de férias hoje e, se tudo correr como previsto, só volto a aparecer por aqui no dia 20 de fevereiro. Ou então nunca mais, se desta feita eu conseguir que Vavá Major me ensine a não fazer nada. Major era peixeiro com banca estabelecida no Mercado, mas, assim que completou o tempo mínimo, requereu aposentadoria, vendeu a banca e voltou para casa, no Alto de Santo Antônio, onde agora se dedica a não fazer nada. A primeira vez em que o vi depois dessa mudança foi numa visita que ele me fez. Não, não era verdade o que diziam, não era verdade que ele não fizesse mais absolutamente nada. Naquela hora mesmo, estava me visitando, isso não era fazer alguma coisa?
- Esse povo daqui fala muito e é descompreendido da filosofia, não aparece um bom filósofo aqui desde que Cuiuba morreu - disse ele. - Eu sinto falta.
- Ah, eu não sabia que tinha filosofia nessa sua situação.
- Mas é claro! Eu posso não ter estudo, mas sempre escutei os antigos. Então minha filosofia não é não fazer nada, isso é intriga dos invejosos. Minha filosofia é sem labuta e sem aporrinhação.
- Esse é seu lema?
- É o meu lema filosófico. Cada coisa que aparece para eu fazer, eu examino e faço duas perguntas. Dá labuta? Dá aporrinhação? Deu labuta ou deu aporrinhação, não é comigo, estou aposentado. Quem quiser que vá labutar e se aporrinhar, eu não.
- Mas, Major, me disseram que você não topa nem jogar dominó.
- Dá aporrinhação! Você quer mais aporrinhação do que esses jogadores que ficam contando lorota depois que ganharam na sorte? E perder também aporrinha, estou fora.
Confessei-me seduzido pela filosofia dele e pela competência com que ele a aplica. Não é coisa simples, observou ele, requer muito descortino e atenção, porque a todo momento aparecem labuta ou aporrinhação, onde menos se espera. Na dúvida, o melhor é não topar atividade nenhuma sem cuidadoso exame e muito tempo para ponderar, além de olho vivo onde quer que se ande. Não tive como não concordar e perguntei a ele se não era possível me passar sua experiência, me dar algumas aulas, por assim dizer. Negativo, disse ele, para se despedir afavelmente logo em seguida. A amizade continua firme, mas esse negócio de aula dá labuta.
Este ano não vou insistir em que ele me dê as aulas, mas vou ver se consigo permissão para acompanhar sua performance enquanto ele não faz nada. Mas talvez ele ache que, mesmo que não dê labuta, pode dar aporrinhação, de maneira que estou jogando com algumas opções. O leque é grande e primeiro me ocorreu saber de Xepa se sua canoa nova já chegou e, caso afirmativo, se vai dar para a gente sair e fazer uma pescariazinha de tatu, como ele garantiu que tem acontecido na ilha. Com esse último, que foi Lozinho de Maroca que fisgou, já são seis tatus somente este ano, me informou ele. Mas não, infelizmente ele não podia me levar para pescar uns tatus com ele, agora o IBAMA já está alerta e quem ferrar tatu vai preso, esse IBAMA vive atrasando o progresso.
O IBAMA, porém, não se mete nas múltiplas atividades de Zecamunista, que, neste momento, está começando a pôr em prática seus planos de valorização da terceira idade. Admito que, de início, desconfiei disso, em vista do rumoroso episódio da viúva Gonçalves. A viúva Gonçalves, bem madura herdeira de um próspero comendador, foi durante muito tempo cortejada por Zeca, que alegava estar fazendo um trabalho de conscientização com ela, destinado a convertê-la, segundo palavras dele, em mais uma burguesa progressista. Esse trabalho de conscientização, segundo contam, se realizava basicamente à noite, na casa da viúva e, aparentemente, era empresa muito esforçada, porque dizem que, nas horas das lições, o silêncio em torno se enchia de ais, uis e gemidos variados, certamente oriundos da contundência com que Zeca expunha suas ideias. Há quem afirme maldosamente que ela financiava as expedições de pôquer dele, mas não se tem confirmação, cala-te, boca, não adianta revolver o passado, nada nele desmerece as iniciativas de Zeca para a terceira idade. Aliás, a designação que ele usa é outra.
- Terceira idade, não! - bradou ele no bar de Espanha. - Não admito essa frescura, isso é deboche!
- Mas todo mundo usa essa expressão.
- Todo mundo é a massa alienada pela propaganda capitalista! Terceira idade, não! Pior ainda, melhor idade! E a pior de todas: feliz idade! Eu passo a foice e o martelo no primeiro que me disser que eu estou na feliz idade! Se não querem dizer velhice, usem o adjetivo certo, quem já entrou nessa idade sabe qual é.
- Eu não sei.
- Bote a mão na consciência, só pode ser indigna idade! Aí eu aceito, é a expressão da verdade e qualquer velho coroca jura pelo seu fraldão que é o certo. Indigna idade, isso é o que ela é, tem que reconhecer a realidade e eu estou promovendo esse reconhecimento. Amanhã mesmo chega um ônibus cheio de mulher-dama, proletárias do amor que eu contratei em Salvador. É para a Primeira Semana pela Defesa da Indigna Idade. A única maneira de encarar a indigna idade é cometer indignidades. Você é casado, mas eu não tenho nada com as instituições burguesas, sou pelo amor livre. Vai querer aí um vale-rapariga?
- Não, obrigado - disse eu. - Dá labuta.
JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Primus inter pares
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 09/01/11

Luis Inácio Lula da Silva não precisou nem de uma semana para demonstrar ao país e ao mundo que, apesar de alardear ser uma pessoa de origem humilde, um homem do povo igual a todo mundo, julga-se, na verdade, no mínimo, um legítimo primus inter pares, o primeiro entre iguais, merecedor, portanto, de privilégios e regalias especiais. O ex-presidente está realmente convencido, do alto de seus oitenta e tanto por cento de aprovação popular, de que conquistou a condição incontrastável de líder supremo dos brasileiros. Alguém que tudo pode, a quem tudo é permitido.

Qualquer homem público com algum sentido de decoro, com alguma noção de limites de comportamento, com algum pudor no trato com o bem comum, jamais se teria permitido dar os maus exemplos protagonizados por Lula na sua penosa transição para a condição de ex: o uso de dependências das Forças Armadas para gozar, com a família, de alguns dias de lazer à beira-mar e a concessão a dois filhos seus, pelo Itamaraty, nos últimos dias de dezembro, de passaportes diplomáticos válidos por quatro anos.

Dois ou três dias depois de ter passado a faixa presidencial a sua sucessora, Lula e família desembarcaram no aprazível recanto do Forte dos Andradas, dependência do Exército situada numa das pontas da praia do Tombo, no Guarujá. Como presidente, ele já havia estado lá um par de vezes, para curtos períodos de descanso. A reação geral foi imediata: um ex-presidente tem direito a essa regalia? Consultado o Ministério da Defesa, o ministro Nelson Jobim mandou dizer que Lula estava no Forte dos Andradas como seu convidado. Então, é isso.

Mais ou menos ao mesmo tempo vazou a notícia de que, ao apagar das luzes de 2010, e do mandato de Lula, seus filhos Marcos Cláudio, 39, e Luiz Cláudio, 25, e ainda um neto, foram contemplados pelo Itamaraty com a concessão de passaportes diplomáticos. Esse é um privilégio a que têm direito algumas altas autoridades públicas e seus dependentes, desde que tenham até 21 anos de idade, ou sejam portadores de algum tipo de deficiência. Como nenhum dos dois filhos do ex-presidente se enquadra nessas condições, questionado pelos jornalistas o Itamaraty explicou que a concessão foi autorizada pelo ex-chanceler Celso Amorim "em caráter excepcional", atendendo a "interesse do país". Ninguém se deu ao trabalho de explicar que "interesse" seria esse, mas fontes da Chancelaria revelaram que o pedido dos passaportes fora feito pelo então presidente diretamente ao ministro, poucos dias antes.

Por que não? Que há de mal nisso? Afinal, Lula não pode? Que pode, pode. Está visto. Mas não deve. E quem não entende por que, não tem o direito de reclamar da lassidão ética que corrompe a atividade política em todos os níveis de governo e dos enormes prejuízos que isso acaba significando para a cidadania. O comportamento de Lula é um péssimo exemplo para o país por pelo menos uma boa razão, além da óbvia questão ética: eterno defensor e protetor dos fracos e oprimidos, o combate aos privilégios dos poderosos sempre foi bandeira política de Lula e do PT. É difícil de justificar, portanto, que o ex-metalúrgico, que hoje tem condições financeiras para pagar do próprio bolso uma semana de férias para toda a família em qualquer resort elegante do Brasil ou do mundo, inclusive nas condições de segurança e privacidade a que, estas sim, ele e seus familiares têm todo o direito - se valha dos privilégios inerentes à Presidência da Republica depois de deixar o cargo. Só mesmo um desvio de conduta explica a tranquilidade com que, no caso das férias no forte, Lula botou na conta da viúva o custo do auto-outorgado privilégio.

O novo chanceler, Antonio Patriota, evitou diplomaticamente comentar a questão dos passaportes. Já o assessor para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia - uma das incômodas heranças que Lula deixou para Dilma -, com o habitual sarcasmo, e à falta de melhor argumento, classificou o assunto como "de uma irrelevância absoluta".

Se esse é o saldo de uma semana de Lula sem a faixa presidencial, não é difícil imaginar o que ainda está por vir.

DORA KRAMER

Questão de estilo
Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO - 09/01/11

"O que vocês estão achando?" Por "vocês" entenda-se a imprensa como sujeito da indagação recorrente de ministros do governo Dilma Rousseff e que traduz a preocupação com a receptividade à presidente nestes primeiros dias.

Há entre eles uma evidente expectativa quanto à distensão do ambiente animoso que permeava as relações do antecessor com os meios de comunicação, notadamente os mais críticos, e uma inquietação a respeito do tempo de duração daquilo que auxiliares de Dilma chamam de "lua de mel".

Constatam que a presidente tem provocado boa impressão e reconhecem que isso decorre dos excessos verbais do ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Em público, Lula só recebe elogios da equipe da nova presidente, como se pôde constatar em todos os discursos de posse (incluído o de Dilma) dedicados, com raras exceções, a celebrar a figura do antecessor.

Reservadamente, porém, revela-se a avaliação interna de que, a despeito de todas as vitórias conquistadas, o estilo do ex-presidente cansou. "Ninguém aguentava mais", admitem dois novos frequentadores do Palácio do Planalto.

Note-se que isso não significa que Lula seja deixado de lado. Ele continua a ser personagem central do projeto de poder do PT e a atuação dele é considerada imprescindível no embate político com a oposição, especialmente em épocas de disputas eleitorais. Seja como candidato, articulador ou animador.

Mas para o bom andamento dos trabalhos governamentais considera-se essencial que o ex-presidente prolongue ao máximo a quarentena. A presença de Lula no noticiário atrapalha Dilma.

Prova é a notícia da concessão de passaportes diplomáticos a dois filhos e a um neto do ex-presidente, sob a alegação de que isso atende aos "interesses do País", obrigando o governo a começar sob a égide da improbidade cometida pelo antecessor.

Obviamente interessa apenas à família da Silva, mas, assim como vários outros episódios demonstraram ao longo de oito anos, é do estilo de Lula considerar irrelevante o preceito da impessoalidade consagrado na Constituição como exigência para o exercício das funções públicas.

Dizem os auxiliares que com Dilma não há risco desse tipo. Até porque há a consciência de que, diferentemente de Lula, ela não conta com o anteparo da trajetória histórica, da capacidade de mobilizar emoções e da habilidade em usar a origem humilde para transformar as críticas aos seus atos em "preconceito", para sair sempre ilesa das situações difíceis.

Sendo assim, será muito mais cobrada por resultados, não poderá mascarar a falta deles com lances de natureza emocional. Inclusive por uma questão de personalidade.

Entre suas características sua equipe inclui a discrição pessoal, formalidade, disciplina, racionalidade, pontualidade, vocação para detalhes, gosto por assuntos administrativos e cobrança de metas.

O oposto do antecessor. Na primeira semana, por exemplo, a agenda presidencial divulgada foi cumprida à risca e os compromissos todos mantidos nos horários.
No quesito aparições externas, dizem os auxiliares que Dilma fará discursos apenas quando for necessário e nunca de improviso. Suas falas serão elaboradas sob a supervisão do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Entrevistas coletivas, só raramente. A presidente pretende estreitar suas relações com a imprensa por meio de encontros com grupos de jornalistas e até conversas informais em que as declarações não necessariamente são utilizadas de maneira oficial.

A relação com os partidos também será mais "litúrgica". Do chamado varejo (as demandas de parlamentares) cuida o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Da "grande política", Palocci.

Uma peculiaridade: o argumento partidário não sensibiliza a presidente. Isso inclui PT e aliados. Traduzindo: Lula às vezes não gostava de algum ministro, estava insatisfeito com o desempenho ou mesmo aborrecido com condutas erráticas, mas relevava por causa de conveniência partidária.

Com Dilma Rousseff, asseguram assessores, prevalece a qualidade do serviço, e por isso é que se diz que o atual ministério é "datado" em um ano de tolerância.
A conferir.