Ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Regina Duarte permanece nas águas turvas do governo Bolsonaro agarrando-se a jacarés como se fossem troncos. Não podendo decretar o fim da guerra ideológica na Secretaria da Cultura, a atriz ajustou o seu discurso à ideologia do presidente.
Numa única entrevista, concedida à CNN, Regina Duarte justificou o seu silêncio diante da morte de baluartes da cultura —"Será que eu vou ter que virar um obituário?"—, cantarolou a marchinha preferida do ditador Médici —"Pra frente, Brasil"— contemporizou com a tortura e a morte nos porões da ditadura —"Sempre houve tortura, não quero arrastar um cemitério nas minhas costas"— e celebrou sua própria fritura —"Estou adorando estar aqui."
No seu discurso de posse, há dois meses, Regina Duarte disse ter aceitado ingressar no governo porque Bolsonaro lhe prometeu "carta branca" e uma Secretaria da Cultura de "porteira fechada". A exemplo de Sergio Moro, ela também acreditou em Papai Noel. Tornou-se uma espécie de Chapeuzinho Vermelho que a turma do Olavo de Carvalho e do Carlos Bolsonaro xinga de comunista.
Regina Duarte ainda não conseguiu compor a equipe dos seus sonhos. Deveria buscar a assessoria de uma criança de cinco anos. No teatro infantil, com seus enredos básicos, sua comédia ingênua e seus exageros trágicos, as crianças se integram com facilidade à catarse. Elas participam do espetáculo. Interferem na história, vaiam os vilões e torcem pelos herois.
Uma criança avisaria para a Chapeuzinho Vermelho, aos berros, que o Lobo Mau está prestes a atacar. Invadiria o palco para evitar o ataque. O que falta a Regina Duarte é uma criança de cinco anos capaz de saltar da poltrona do teatro e gritar, a plenos pulmões: "Fuja, Chapeuzinho!"
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