Há planos de saída ordenada do isolamento, em sentido contrário ao que defende o presidente
Se fez algum balanço da marcha rumo ao Supremo na quinta-feira, à frente de industriais que foram visitá-lo em audiência no Planalto, o presidente Bolsonaro, pelo seu estilo, não deu qualquer importância à sugestão que recebeu do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, de se aproximar de governadores e prefeitos para constituir um comitê ou gabinete de crise a fim de juntos coordenarem a saída do país do isolamento social, de forma organizada e em bases técnicas. Não deu importância, mas deveria dar.
Bolsonaro empacou na defesa intransigente do fim do isolamento sem quaisquer planejamento e cuidado, mas a realidade não dá alternativa melhor ao Brasil, como não deu nem está dando a outros países. O presidente demitiu o ministro anterior da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, porque ele não aceitava a proposta voluntarista do chefe, nomeou outro médico, Nelson Teich, cuja posição na essência não é diferente da do antecessor. Ambos têm diplomas e carreiras a preservar.
É inócua, por insustentável, qualquer tentativa de Bolsonaro de jogar responsabilidades sobre o Judiciário, o Legislativo, governadores e prefeitos. Os tribunais têm julgado o que chega à sua pauta; o Congresso vota os projetos de emergência, e governadores e prefeitos têm trabalhado sobre o problema da Covid-19, ao contrário do presidente, que só se dedica à obsessiva campanha do fim do isolamento já.
Apesar do Planalto, o federalismo brasileiro, sustentado na Constituição, defendida pelo STF, permite a existência de programas de monitoramento da epidemia e para um controlado e paulatino fim do isolamento social, como aconselham os especialistas. Em São Paulo, estado e cidade, a Covid-19 tem sido acompanhada dessa forma, assim como em estados do Nordeste, em que foi constituído um comitê comum com apoio em cientistas. No Rio também as medidas não dependem da vontade exclusiva do Palácio.
O presidente poderia se informar sobre como o colega americano Donald Trump foi mudando de posição diante da epidemia, à medida que corpos começavam a ser empilhados em caminhões frigoríficos estacionados perto de hospitais em Nova York. Mesmo Trump, que continua querendo que a economia americana volte a rodar o mais rapidamente possível, porque tentará se reeleger em novembro, apresentou um plano de fim do isolamento, sem datas, dividido por fases em que protocolos precisariam ser preenchidos para se passar à etapa seguinte. Há planos iguais no Brasil: o bloqueio de setores do estado e de cidades só é levantado se a evolução do número de óbitos, de infectados e de índices de ocupação de leitos nos hospitais da região for positiva.
É assim que precisa ser feito, e nunca devido a compreensíveis, mas equivocadas preocupações de empresários e do presidente. Não se pode equiparar “mortes” de CNPJs, imagem infeliz de um empresário que acompanhava Bolsonaro na ida intempestiva ao Supremo, com a perda de pessoas donas de CPFs para a Covid-19. Sem as pessoas não há empresas e economia.
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