Toda campanha eleitoral tem um quê de teatro. Em 2018, Bolsonaro exagerou na teatralização. Fez isso, por exemplo, quando criticou o então rival tucano por se aliar ao centrão. "Obrigado, Geraldo Alckmin, por ter unido a escória da política brasileira", declarou na época. Agora, Bolsonaro enfia dentro do seu governo a escória.
Não é que a aliança com o rebotalho deixe Bolsonaro diferente. A questão é que Bolsonaro volta a ser quem ele era antes do teatro de 2018. O capitão já passou por sete partidos políticos. Entre eles o PP de prontuários notórios como Paulo Maluf, Arthur Lira e Ciro Nogueira —legenda com a qual se reencontra agora.
Na fase de composição da chapa, Bolsonaro buscou uma aliança com o PR de Valdemar Costa Neto, agora rebatizado de PL. Mas o ex-presidiário mensaleiro preferiu Alckmin. E Bolsonaro passou a cuspir no prato em que Valdemar não permitiu que ele comesse.
Ao escolher o partido pelo qual disputou a Presidência, Bolsonaro optou pelo PSL, um pedaço daquilo que chamava de escória. O PSL compôs, ao lado do centrão, a milícia parlamentar de Eduardo Cunha. Na apreciação das duas denúncias criminais contra Michel Temer, a bancada do PSL juntou-se à ala dos coveiros, ajudando a sepultar as acusações da Procuradoria.
Graças ao excesso de teatro, Bolsonaro cavalgou a Lava Jato como um jóquei antissistema, como se não carregasse sobre os ombros 28 anos de mandato. O reencontro de Bolsonaro com o centrão apenas reforça a noção de que, na política, o novo pode ser uma coisa muito antiga.
Depois da vitória eleitoral Bolsonaro teve a oportunidade de fazer algo diferente. Mas ele nem tentou. Agora, entrega cargos a apadrinhados de investigados. Como o deputado Sebastião Oliveira, do PL, que recebeu a visita dos rapazes da Polícia Federal um dia depois de copatrocinar a indicação do novo chefe do Dnocs, o Departamento Nacional de Obras contra Seca.
Sebastião Oliveira é varejado pela polícia porque o acusam de desviar algo como R$ 4 milhões das obras de uma rodovia. Bolsonaro não esboçou reação. Nada! Nem mesmo uma cara de nojo. Acabou o teatro. A aliança com o centrão devolve Bolsonaro às origens. Em tempo de isolamento social, o capitão reencontrou sua turma.
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