Os militares morrerão por um governo alvo de investigação, imerso em isolamento?
Na linha do tempo, já é outro dia. O vídeo da reunião que expôs as vísceras de um governo em decomposição, principalmente pela atuação do presidente Jair Bolsonaro e os discursos do chanceler Ernesto (bobo da corte) Araújo e Abraham (pior ministro) Weintraub, foi entregue na sua integralidade e visto por algozes e réus. Permanecerá nos arquivos como uma marca definitiva de um time perdido, sem líder ou objetivo, eira ou beira. Um alto encontro de baixo propósito. Desdobramentos são, por enquanto, imperscrutáveis. Os fatos registrados podem dar em tudo, como identificar o crime de que é suspeito o presidente, ou nada, se o procurador-geral da República assim entender.
O segundo vendaval que atravessou a semana transportou o País, machucado por doença e mortes, a outra situação indefinida. Como ficamos depois do depoimento dos três ministros do governo Jair Bolsonaro, em cargos civis e políticos na Presidência, sobre as denúncias do então ministro da Justiça, Sérgio Moro. Já terão tido o seu efeito e será preciso superar a fusão que se tentou fazer de seu desgosto por esta convocação com a adesão das Forças Armadas aos propósitos pessoais do presidente da República.
Pularam o Rubicão e o mundo não acabou, como previam. Os seus desdobramentos, porém, ainda estão embaralhados.
Inspirados por um incendiário contumaz que habita o cerrado, fizeram tempestade em copo d’água. Exagero diante de um termo do jargão convocatório da Justiça, revelando insegurança e o infortúnio de estarem, como únicos avalistas, em um governo de que não se sabe, nem eles, absolutamente nada.
Entregaram o vídeo, que foi visto, deram seu testemunho e a investigação segue. Como ela, também segue procurando seu eixo o movimento dos militares diante de proposta de participação política mais efetiva e adesão incondicional ao presidente.
Baixou a temperatura na área militar, mas ainda há brasas acesas. O presidente Jair Bolsonaro mistura propositalmente os problemas para obter as soluções também misturadas, uma pela outra.
O governo não se curou da aposta no aprofundamento da divisão entre a reserva, os comandos e as tropas.
A intervenção militar que paira como ameaça não encontra ressonância, por enquanto. Os comandos não veem condição de participar de outros projetos que não sejam o combate à pandemia, interna e externamente, e sua sobrevivência. Mas o governo é autossuficiente e o código deste problema já se apagou.
As prioridades das tropas são as mesmas do conjunto do planeta, preservar a vida. É conhecida a posição de Bolsonaro sobre a covid-19, desdenha e desvia o assunto, e mantém sob pressão o comandante Edson Leal Pujol, do Exército.
O ambiente dos quartéis é propício ao contágio e já há mortes. É como se houvesse um confinamento de milhares de pessoas que se alojam, almoçam, dormem, viajam e trabalham juntas. O presidente pretende que sejam destemidos como seus ministros que considera exemplares, a quem dá fôlego e que o fazem rir. Gostaria, certamente, que todos seguissem Weintraub e Araújo. Não é por acaso que se conectaram os dramas da entrega do vídeo e dos depoimentos dos ministros.
O que agride, nesta estirpe mais chegada a Bolsonaro, cuja performance se espelha no mestre de todo o grupo, não é uma questão ideológica ou política. É a ausência de decência. Não se imaginam os militares seguindo uma liderança com este comportamento.
Morrerão por um governo alvo de investigação, imerso em isolamento político, cultural, social, embalado no discurso do achincalhe?
O mais provável, superada a valentia que antecedeu a decisão de depor ao Supremo, é que os ministros passem a viver mais a realidade.
E esta é o aumento das mortes pela covid-19, inclusive nos quartéis, e o presidente Jair Bolsonaro na mão do Centrão.
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