Bob Jefferson apoiou governo tucano
Combateu Partido dos Trabalhadores
Apareceu de mãos dadas com Lula
Agora, se alinha a Bolsonaro
“Jair Bolsonaro precisa demitir os 11 ministros do STF. Se não o fizer, cai.”
O terrível, e maluco, vaticínio foi feito por Roberto Jefferson, personagem peculiar da política brasileira.
Meio sumido desde que andou preso, protagonista do mensalão, Bob Jefferson reapareceu com a tocha acesa graças à recente aproximação de Bolsonaro com o Centrão. Virou líder da tropa de choque que defende com unhas e dentes o governo.
Curioso é que ele cumpriu o mesmo papel, há 20 anos, no governo Collor. Naquela época, enquanto diziam caçar marajás do serviço público, se locupletavam na corrupção. Durante o processo de impeachment, Bob bradava, espumando de raiva. Nada adiantou.
Perdeu, mas não caiu. Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, Bob Jefferson passou a apoiar firmemente o governo tucano. Defendeu o Plano Real e combateu ferozmente o PT. Dono de excelente discurso, irônico, emparedava a esquerda.
Quando mudou o governo, eis que Bob Jefferson aparece de mãos dadas com Lula. Sim, com Lula. E feliz da vida passeava com Zé Dirceu. Incrível. Rapidinho colocou seu partido, o PTB, na base do governo vermelho. Parecia amigo de infância do PT.
Surpreendentemente, porém, ele denuncia a existência do esquema de compra de votos no Congresso. Estourou o mensalão. Cassado pela Câmara dos Deputados, tomou 7 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal.
Adoecido por grave moléstia, afastou-se uns anos, ficando distante do período Dilma e Temer. Voltou à ativa nas eleições presidenciais de 2018, quando fez de tudo para eleger… Geraldo Alkmin. Não vingou. Recolheu-se.
Aguardou como um sábio o momento do retorno. Num certeiro golpe, empunhou uma metralhadora para se alinhar com Jair Bolsonaro. Logo de cara, passou a acusar FHC de gênio do mal.
Este é Bob Jefferson. O ex-deputado faz parte de um time especial, super capacitado, de políticos que adula e serve ao poder –e dele se serve– qualquer que seja o titular na cadeira do Planalto. São os camaleões profissionais da política nacional. Não se trata de baixo clero. São pesos pesados, foram ministros, ou os indicaram.
Entra governo, sai governo, e eles estão lá. Pouco importa a ideologia, esquerda ou direita, tanto faz o partido ou o programa. Isso é o de menos: importante é estar ao lado do governo federal. E dele, óbvio, se beneficiar. Em nome, claro, do povo.
Os camaleões da política viraram uma receita inequívoca de sucesso. Esta é a desgraça da política brasileira, o pecado original da República instalada após a Constituição de 1988. Uns o denominaram de presidencialismo de coalização, outros de cooptação. Por mim, mais apropriado seria: presidencialismo de corrupção.
Sinceramente, eu acreditava que Bolsonaro, logo ao montar seu governo, escaparia dessa cilada montada no Congresso. Afinal, ele viveu lá longos 28 anos. Conhece as virtudes e a podridão existentes naquela Casa. Bastaria ter negociado, claramente, com os grandes partidos, com eles compondo, abertamente, espaços do poder. Mas não.
Mal tomou posse, partiu para a porrada. Pouco se importou com apoios sociais, políticos ou institucionais. Bateu, como nunca ninguém o fez, na mídia televisiva e na imprensa escrita. Agradou, é verdade, ao seu exército. Elevou perigosamente, porém, o número de inimigos.
Resumindo: Bolsonaro não entendeu, ou não aceitou, que vencer uma eleição é diferente de governar uma nação. Aos trancos e barrancos, durante um ano foi temperando a esperança do brasileiro acreditando, talvez, que a economia fosse sua âncora firme. Até que chegou a pandemia.
Acuado pela política e transtornado pelo coronavirús, Bolsonaro viu aumentarem as encrencas contra si. Perdeu capital político, erodiu sua imagem. Tudo piorou. Daí recorreu ao Centrão, fazendo acordos por debaixo do pano, preocupado em salvar sua pele. Caiu na mão dos camaleões.
Não consigo imaginar o final dessa história. Talvez Roberto Jefferson o saiba.
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