Não sei, não...
O presidente Jair Bolsonaro, como resta evidente, está mais interessado em desestabilizar um ministério que tem tido uma boa atuação — o da Saúde — e não dá a mínima bola para o da Cidadania, que está encarregado de tornar viável o pagamento de R$ 600 aos pobres e informais que perderam renda.
Por que é assim?
Poucos perceberam, mas o presidente se traiu — isto é, cometeu um lapso não exatamente de linguagem, mas de pensamento — e revelou sem querer o que, por óbvio, está proibido de dizer de maneira clara, consciente. Ao fazer, do domingo, uma vez mais, a pregação em favor do fim do isolamento social, Bolsonaro registrou, em tom claro de lamento, a existência no país de um povo "até pacífico demais, muitas vezes, né?"!
O que é, na boca de Bolsonaro, "um povo até pacífico demais, muitas vezes"? Será que ele deseja a, digamos, revolução?
A fala é perigosa. Afinal, o homem já havia confessado, em entrevista, que estava, no que dizia respeito ao fim do isolamento horizontal, esperando "o povo pedir mais"...
É evidente que o "povo" que Bolsonaro tem em mente não é formado pelos pobres de tão pretos e pretos de tão pobres a reivindicar, por aí, igualdade ou justiça social — e de modo organizado e não-pacífico, certo? Para estes, suponho, ele prescreve o remédio típico de um admirador de ditaduras.
Parece que o presidente apostou que as medidas de isolamento social iriam gerar revolta — e não se descarte, por certo, o aumento da tensão social. Mas eis que os brasileiros também desenvolveram um saudável medo de morrer...
Não obstante, a situação dos muitos pobres, que já era dramática, caminha para ser desesperadora. Daí que o sr. Onyx Lorenzoni deva começar a pagar imediatamente o que lhes deve.
Pergunto: em que medida aquele "pacífico até demais" embute uma espécie de cálculo? Será que há gente no governo a pensar que um arranca-rabo de classes seria oportuno?
Esse governo tem, por assim dizer, um RNA intelectual, não é mesmo? E é evidente que isso pauta as suas ações.
No dia 1º de abril, por exemplo, Carlos Bolsonaro, a maior influência intelectual do presidente Jair Bolsonaro, que ganhou um gabinete no Palácio do Planalto sem ter cargo oficial, escreveu no Twitter a seguinte maravilha:
"O desenho é claro: partimos para o socialismo. Todos dependentes do estado até para comer, grandes empresas vão embora e o pequeno investidor não existe mais. Conseguem a passos largos fazer o que tentam desde antes de 1964. E tem gente preocupada com a fala do Presidente."
A gente olha para o rapaz e percebe logo a mente atormentada de um intelectual que devorou uma vasta biblioteca sobre o que é socialismo, capitalismo, liberalismo...
Dado o que sabemos sobre a relação de ambos, ninguém tem o direito de achar que o pai pense coisa muito diferente.
Ah, sim: "Você errou, Reinaldo. Escreveu RNA em vez de DNA". Não errei, não. Como o novo coronavírus, o bolsonarismo tem RNA. Infecta células, que passam a trabalhar para ele, como zumbis, deixando por um tempo inativo o sistema imunológico do bom senso.
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