Noutros tempos, os constrangimentos eram provocados por opositores. Hoje, Jair Bolsonaro é quem causa embaraços ao governo. Na articulação para aprovar a reforma da Previdência, o ministro Paulo Guedes afirma uma coisa e o presidente pratica o oposto. Em conversa com o blog, um integrante da equipe do ministro da Economia se queixou: "Numa hora em que todos se mobilizam por uma boa reforma, o presidente Bolsonaro oscila entre as miudezas e o mundo da lua."
O auxiliar de Guedes impressionou-se com o noticiário sobre um café da manhã que Bolsonaro ofereceu a deputados da bancada ruralista. O anfitrião pediu aos comensais apoio para salvar na Câmara o seu decreto sobre armas. "Quando foi para o mundo da lua, o presidente reiterou o lobby pela concessão de aposentadoria especial para policiais militares, federais e rodoviários federais, que já são privilegiados", lamentou o membro da equipe econômica.
Logo que a primeira versão do relatório da Câmara sobre reforma da Previdência veio à luz, há 20 dias, Paulo Guedes comentou o conteúdo em timbre corrosivo. Disse que os deputados renderam-se às "pressões corporativas" dos servidores do Legislativo. "Acho que houve um recuo que pode abortar a nova Previdência", declarou.
Agora, chamado pelos policiais de "traidor" Bolsonaro dobra os joelhos diante de sua corporação predileta, deixando seu ministro sem chão e sem língua. "Dizer o quê?", pergunta o auxiliar de Guedes, sob a proteção do anonimato.
Há um quê de burlesco na conjuntura brasiliense. O time de Paulo Guedes, mãos postas, reza em silêncio para que as articulações de Bolsonaro não prosperem. Na comissão especial, aprovou-se o texto-base sem o aditivo tóxico dos policiais. Mas Bolsonaro não se deu por vencido. Apela a deputados amigos que tentem desvirtuar o desejo do Posto Ipiranga por meio de emendas.
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