REVISTA ISTO É
Por que nenhuma outra mulher conseguiu ou consegue governar tão bem e tão certo como a “Dama de Ferro”, ex-primeira-ministra do Reino Unido
ALTIVEZ Thatcher, aos 81 anos, diante da estátua erguida em sua homenagem: três mandatos consecutivos como primeira-ministra (Crédito: Divulgação)
SEM SAÍDA Titubeios no vaivém do Brexit e “moções de desconfiança”: Theresa May está longe de ser Margaret Thatcher (Crédito:Kirsty Wigglesworth)
Desculpem-nos as mulheres que estão ou que estiveram no poder em seus respectivos países, mas a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher continua a ser insuperável como líder e governante. Melhor: sequer é igualável. A baronesa Thatcher de Kesteven chegou em 1979 a Downing Street 10, há quatro décadas portanto, e lá permaneceu por três mandatos consecutivos. Uma de suas primeiras e incisivas declarações já mostrava quem era ela: “se você quer que alguém apenas fale alguma coisa, peça a um homem; se você quer que alguém de fato faça alguma coisa, peça a uma mulher”. Inglaterra e mundo ficaram boquiabertos, dava-se a extrema valorização feminina, e isso à época em que a cediça expressão “empoderamento” sequer tinha nascido, apesar da revolução dos costumes na década anterior – as feministas, geralmente de esquerda, equivocadamente insistem em desprezar o nome de Thatcher pelo motivo de ela ter sido intransigente adepta do saudável liberalismo.
Em que ponto e por qual motivo Thatcher supera outras mulheres politicamente poderosas? Pois bem, em elegância, classe, sobriedade e compostura… olhemos a baronesa… por exemplo, ela cumprimentava adversários e aliados com igual distanciamento (a régua era o seu braço estendido), a demonstrar que publicamente a efusividade não é de bom tom. O seu sorriso? Trincadura em geleira. Os seus colares de pérolas anunciavam que ali havia nobreza. O escritor Vladimir Nabokov dizia que é possível ter-se estilo até ao se abrir uma lata de sardinhas. É isso: Thatcher tinha estilo. Mas saiamos agora do pessoal, deixemo-la reservada, vamos ao ar que Thatcher respirava: a política. Resumindo em frases a sua superioridade, lembremos de seu lema: “I am not a consensus politician, I am a conviction politician” (“eu não sou uma política de consenso, eu sou uma política de convicção”)
Desculpem-nos as mulheres que estão ou que estiveram no poder em seus respectivos países, mas a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher continua a ser insuperável como líder e governante. Melhor: sequer é igualável. A baronesa Thatcher de Kesteven chegou em 1979 a Downing Street 10, há quatro décadas portanto, e lá permaneceu por três mandatos consecutivos. Uma de suas primeiras e incisivas declarações já mostrava quem era ela: “se você quer que alguém apenas fale alguma coisa, peça a um homem; se você quer que alguém de fato faça alguma coisa, peça a uma mulher”. Inglaterra e mundo ficaram boquiabertos, dava-se a extrema valorização feminina, e isso à época em que a cediça expressão “empoderamento” sequer tinha nascido, apesar da revolução dos costumes na década anterior – as feministas, geralmente de esquerda, equivocadamente insistem em desprezar o nome de Thatcher pelo motivo de ela ter sido intransigente adepta do saudável liberalismo.
Em que ponto e por qual motivo Thatcher supera outras mulheres politicamente poderosas? Pois bem, em elegância, classe, sobriedade e compostura… olhemos a baronesa… por exemplo, ela cumprimentava adversários e aliados com igual distanciamento (a régua era o seu braço estendido), a demonstrar que publicamente a efusividade não é de bom tom. O seu sorriso? Trincadura em geleira. Os seus colares de pérolas anunciavam que ali havia nobreza. O escritor Vladimir Nabokov dizia que é possível ter-se estilo até ao se abrir uma lata de sardinhas. É isso: Thatcher tinha estilo. Mas saiamos agora do pessoal, deixemo-la reservada, vamos ao ar que Thatcher respirava: a política. Resumindo em frases a sua superioridade, lembremos de seu lema: “I am not a consensus politician, I am a conviction politician” (“eu não sou uma política de consenso, eu sou uma política de convicção”)
ERRO Dilma enfiou o Estado na economia e causou danos irreparáveis: equivocada desde a época de Vanda (Crédito:DIDA SAMPAIO)
Thatcher pegou em 1979 um Reino Unido esfacelado, ainda em decorrência do pós-guerra: a economia britânica crescia anualmente abaixo dos 3% e a inflação sapateava acima dos 13%. O desemprego disparara, mineiros cruzavam os braços, nem o mais otimista dos jogadores de bridge (ainda que fosse ele o personagem Phileas Fogg de “A volta ao mundo em 80 dias”) ousava apostar em recuo da recessão. O que não faltavam eram crises externas, choques do petróleo, belicismo no Oriente Médio. Thatcher, afirmando que “a primeira-ministra jamais volta atrás”, respondia às críticas levando o liberalismo ao extremo, promovendo um ambicioso projeto de privatizações, enxugando a máquina pública, soltando o mercado e a competitividade empresarial, retirando radicalmente a intromissão do Estado na área econômica. Thatcher moeu o sindicalismo. Em menos de uma década, o Reino Unido ostentava ao mundo um crescimento anual superior a 6% e a inflação despencara para 4,9%. Ela tinha de fato convicção, não nascera para ter nas mãos o calo cômodo dos consensos. Margaret Thatcher, a Dama de Ferro do Partido Conservador conforme a apelidara a imprensa oficial da extinta URSS, cumprira o que prometera quando girou a maçaneta de Downing Street 10: “entrei no governo para transformar o país, de uma sociedade dependente em uma sociedade autoconfiante, de uma nação viciada no ‘dê para mim’ em uma nação do ‘faça você mesmo’
BUROCRACIA Bachelet foi mestre em como fazer desmoronar a economia chilena em cinco meses de governo: estatização (Crédito:ZUMApress.com)
Para nós, aqui, de outro continente e sem a experiência de um verdadeiro liberalismo (temos o Paulo Guedes, legítima Escola de Chicago, se Bolsonaro e filhos pararem de atrapalhar), talvez seja difícil compreender que Thatcher (fatores pessoais à parte como o temperamento) somente conseguiu tanto êxito justamente por ser liberal. Tome-se o Brasil como amostra, a gestão de Dilma Rousseff, com o Estado mandando na economia a ponto de nocautear a Petrobras e quase quebrar setores como os da energia e telefonia. Dilma não possuía nem a vocação ao consenso nem a convicção da qual falava a Dama de Ferro, falecida em 2013 – e, se teve alguma, foi nos tempos do terrorismo com o codinome Vanda, e ainda assim convição errada porque sabidamente comunista e totalitária. Lembremos também o caso do Chile, quando presidido pela socialista Michelle Bachelet: em cinco meses a economia do país desmoronou e a sociedade se desorganizou carente de autoridade. A Previdência, estatizada, faliu. O Estado agigantou-se, invadiu o campo econômico e o esmagou.
“Não sou uma política de consenso; sou uma política de convicção” Margaret Thatcher, em 1979
saída para o avanço civilizatório é pelo conservadorismo liberal (não confundir com o reacionarismo de Bolsonaro e do arremedo de filósofo Olavo de Carvalho), e basta olharmos o planeta para dirimirmos dúvidas. Como explicar então que duas governantes do mesmo partido cheguem a resultados tão díspares? É o caso de Thatcher e da atual primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, empossada em 2016, também pelo Partido Conservador. Para responder essa questão, ouçamos o coral de trezentas vozes da Oitava Sinfonia de Gustav Mahler. Uma voz, uma única voz, pode ser melhor do que todas as outras, apenas porque nasceu superior. Assim é na política, conta a individualidade do temperamento. May se emaranhou em seu eterno vaivém sobre o Brexit e em quase tudo titubeia (feito Angela Merkel, à frente da Alemanha, no campo dos costumes). May é fraca na leitura política e deu o exíguo prazo de dois anos para a transição de saída do Reino Unido. Mais: perdeu apoio quando convocou eleições legislativas antecipadas e carrega o vexame de ter acumulado “moções de desconfiança”.
May é mais consenso, menos convicção. É uma voz. A Dama de Ferro era todo o coral.
Para nós, aqui, de outro continente e sem a experiência de um verdadeiro liberalismo (temos o Paulo Guedes, legítima Escola de Chicago, se Bolsonaro e filhos pararem de atrapalhar), talvez seja difícil compreender que Thatcher (fatores pessoais à parte como o temperamento) somente conseguiu tanto êxito justamente por ser liberal. Tome-se o Brasil como amostra, a gestão de Dilma Rousseff, com o Estado mandando na economia a ponto de nocautear a Petrobras e quase quebrar setores como os da energia e telefonia. Dilma não possuía nem a vocação ao consenso nem a convicção da qual falava a Dama de Ferro, falecida em 2013 – e, se teve alguma, foi nos tempos do terrorismo com o codinome Vanda, e ainda assim convição errada porque sabidamente comunista e totalitária. Lembremos também o caso do Chile, quando presidido pela socialista Michelle Bachelet: em cinco meses a economia do país desmoronou e a sociedade se desorganizou carente de autoridade. A Previdência, estatizada, faliu. O Estado agigantou-se, invadiu o campo econômico e o esmagou.
“Não sou uma política de consenso; sou uma política de convicção” Margaret Thatcher, em 1979
saída para o avanço civilizatório é pelo conservadorismo liberal (não confundir com o reacionarismo de Bolsonaro e do arremedo de filósofo Olavo de Carvalho), e basta olharmos o planeta para dirimirmos dúvidas. Como explicar então que duas governantes do mesmo partido cheguem a resultados tão díspares? É o caso de Thatcher e da atual primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, empossada em 2016, também pelo Partido Conservador. Para responder essa questão, ouçamos o coral de trezentas vozes da Oitava Sinfonia de Gustav Mahler. Uma voz, uma única voz, pode ser melhor do que todas as outras, apenas porque nasceu superior. Assim é na política, conta a individualidade do temperamento. May se emaranhou em seu eterno vaivém sobre o Brexit e em quase tudo titubeia (feito Angela Merkel, à frente da Alemanha, no campo dos costumes). May é fraca na leitura política e deu o exíguo prazo de dois anos para a transição de saída do Reino Unido. Mais: perdeu apoio quando convocou eleições legislativas antecipadas e carrega o vexame de ter acumulado “moções de desconfiança”.
May é mais consenso, menos convicção. É uma voz. A Dama de Ferro era todo o coral.
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