Veganos sexuais recusam fazer sexo oral em quem coloca um bife na boca. Que nojo!
O mundo contemporâneo é ridículo. No futuro, nossos descendentes olharão para nós e rirão de nosso ridículo. Querem alguns exemplos, para começar a semana bem?
Existem pessoas que sonham com um mundo em que a alimentação seria tão pura que as frutas disponíveis para venda seriam colhidas por macaquinhos —disse certa feita um amigo meu filósofo amador e corintiano. Imaginem que coisa mais linda: toda uma indústria de alimentação cuja fonte fossem colônias de macaquinhos livres colhendo livremente frutas livres!
Aliás, essa ideia surgiu numa conversa em que o tópico era uma manifestação de veganos em frente a uma grande catedral numa cidade europeia muito chique. Um telão mostrava imagens de animais sendo mortos em matadouros. Ao lado, barraquinhas trabalhavam pela causa dos macaquinhos livres colhendo frutas livres e acima um banner de uma importante marca de tecnologia. As pessoas, todas europeias chiques, do tipo que salva o mundo plantando uma horta orgânica na sua varanda, pareciam não saber que o veganismo é uma indústria gigantesca cujo objetivo é ter lucro com essa gente riquinha. Veganismo é big business.
Uma derivação desse grupo são os veganos sexuais. Estes, enojados com pessoas que são cruéis o bastante para chacinar vaquinhas inocentes, recusam fazer sexo oral em quem coloca um bife na boca.
Olhe lá o que você anda colocando na boca, tá?!
Outro exemplo do mundo contemporâneo ridículo: campanha contra mulheres fazerem sexo de quatro. Sim, você leu certo. Já tivemos a chance, noutro momento, de prever esse movimento contra mulheres fazerem sexo de quatro. Como sempre digo, basta imaginar coisas ridículas e você tem uma enorme chance de virar profeta hoje. A ideia é que ficar de quatro no sexo é submissão. No pé que as coisas vão, o desejo sexual será colocado na lista de coisas ruins como o tabaco e o bife. Pedir pra puxar o cabelo, então, nem pensar. Seria transar de quatro uma violência de gênero?
Nossa lista avança. Coaching de gratidão financeira. Se já não bastasse o povo que fala “gratidão”, ou pior, “gratiluz”, e que afirma que aprendendo a ser grato você dormirá melhor à noite, agora surge no mercado de coaching o pessoal que ensina a gratidão financeira. Segundo nossos profissionais que ensinam a você ser uma pessoa bem-sucedida berrando fórmulas, dizendo “obrigado” ao dinheiro (será mesmo? Custo a crer...), você ganhará mais dinheiro.
Veja: devemos sim ser gratos a quem nos dá a chance de trabalhar e ganhar dinheiro. Devemos sim saber que, mesmo sendo competentes, existe uma dimensão de contingência que depende da sorte, do azar e de pessoas com boa vontade para nos ajudar.
Devemos ser gratos. Mas, se alguém te cobra pra te ensinar a ser grato e diz que sendo grato você ganhará mais dinheiro, cuidado! Você deve estar diante de alguém que fará você perder dinheiro. Ele deverá sim agradecer a sua ingenuidade. E o “tricoaching”? Coaching com tricô...
Semelhante ao absurdo acima é você gastar dinheiro para aprender a se despedir de camisas, calcinhas, cuecas e sapatos. E não se esqueça dos cintos, coitados! Se você não consegue jogar fora coisas velhas que não servem mais para nada, contrate um coach que ensinará a agradecer tudo o que sua calcinha fez por você. Reconheça, antes de jogá-la fora, o quanto ela foi essencial para você descobrir que gostava, antes de proibirem, de fazer sexo de quatro. Seja sincero com sua cueca ao reconhecer que você brochou tantas vezes na vida, mas que nada disso foi culpa dela, coitada. Chore sinceramente diante do saco de lixo em que você está a ponto de jogá-la.
E, para completar nossa seleção de coisas ridículas desta segunda-feira, vamos refletir um pouco sobre um novo conceito fundamental para a vida afetiva: responsabilidade afetiva. Conhece? Se não conhece, você deve praticar com frequência irresponsabilidade afetiva.
Ser responsável afetivamente é não fazer ninguém sofrer por amor. Sei. Sendo você uma pessoa inteligente, e com experiência de vida, já sacou que ninguém ama sem sofrer. Desde o alto paleolítico, naquela época em que as pessoas de 15 anos não achavam que entendiam mais das coisas do que as de 50, já se sabia que amar é sofrer. Responsabilidade afetiva é você ter uma desculpa chique pra projetar sobre o outro suas neuras afirmando que, se ele não faz o que você quer, ele é um irresponsável afetivo. Uma forma de covardia afetiva gourmet. Ridículo.
Luiz Felipe Pondé
Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
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