O GLOBO - 29/04
Se você já comprou on-line, sabe como funciona: escolheu um produto, viu quanto custava e fez a compra. Enquanto tudo acontecia, um algoritmo provavelmente definiu o preço que você pagou. Esses programas hoje são importantes para o comércio on-line. A quantidade de produtos é imensa. Na Amazon, por exemplo, são mais de 600 milhões diferentes à venda. Seria impossível contar só com a ação humana, por isso um terço dos preços do site é atualizado por algoritmos.
O problema é que podem custar caro nas suas compras, segundo quatro economistas italianos — Emilio Calvano, Giacomo Calzolari, Vincenzo Denicolò e Sergio Pastorello. Algoritmos de preços podem agir às vezes como vendedores mal intencionados, combinando com os concorrentes para aumentar os preços, sugere um trabalho do quarteto, publicado em fevereiro pelo Centre for Economic Policy Research.
Algoritmos de preços são conjuntos de regras, em geral muito simples, que usam tentativa e erro para obter uma venda. Como um vendedor que tenta seduzir o cliente, esses robôs tentam seguidas estratégias de preços, com dados como os preços dos concorrentes, tentando oferecer um valor atraente para o comprador e o máximo de lucro para o vendedor.
A ideia é usar as estratégias que funcionam melhor. Se uma fracassa, simplesmente tentam de novo com outra até acertar. Mas, no meio do processo, o estudo demonstrou que podem se dar conta que o melhor para lucrar mais é cobrar mais caro em vez de fazer uma guerra de descontos.
Para testar a teoria, os economistas criaram dois robôs de preços e deixaram que um interagisse com o outro. Isto é, quando um baixava o preço, o outro reagia, baixando ainda mais, e quem ganhava era o consumidor. Mas, quando um dos algoritmos mudou de comportamento, o outro parou de dar descontos e o acompanhou. Os preços subiram e voltaram aos níveis do começo do experimento.
Pelo movimento dos preços, a manipulação foi evidente, mas, segundo os pesquisadores, não há traços de como aconteceu. Nenhum dos algoritmos quebrou qualquer regra ou se comunicou um com o outro, os dois apenas reagiram a leis básicas sobre como se formam os preços, escolhendo a estratégia que levava a mais ganhos.
Até agora, estranhas subidas de preços tinham chamado atenção da internet, como uma árvore de Natal de plástico comum à venda por US$ 10 mil no site da Amazon, mas eram consideradas falhas de programação. O estudo sugere outra explicação: talvez algoritmos, competindo, possam elevar preços ao infinito. Mas é uma hipótese em aberto.
Alguns economistas defendem que é impossível algoritmos formarem um cartel, já que não se comunicam. Mas, em um artigo publicado no começo do ano no Oxford Journal of Legal Studies, dois professores de Direito, Ariel Ezrachi e Maurice E. Stucke, citam casos, no Chile e na Alemanha, em que os preços subiram sem combinação prévia quando o governo publicou o valor da gasolina em cada posto. A medida devia incentivar a concorrência, mas, vendo o preço dos outros, cada posto aumentava o seu. Algo parecido ocorreu no experimento dos quatro italianos.
Não se trata de imaginar programas malignos, criados para lesar consumidores. Para as empresas, algoritmos só tomam decisões melhores do que humanos sobre os preços. O problema, os dois estudos sugerem, é quem pode acabar pagando por isso. Seu bolso.
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