FOLHA DE SP - 13/05
Alguns assessores de candidatos deveriam ser mais precisos sobre a desvalorização cambial
O setor produtivo no Brasil enfrenta graves problemas no lado de fora da fábrica.
A infraestrutura deficiente, a estrutura tributária disfuncional, a baixa qualidade da educação, o alto custo do capital e a insegurança jurídica prejudicam as empresas há muito tempo. O resultado tem sido o baixo crescimento da nossa economia desde 1995, em comparação com os demais países emergentes.
Apesar dessa imensidão de problemas, alguns insistem no binômio juros-câmbio como o principal desafio para o país. Essa insistência é ainda mais curiosa tendo em vista que, há poucos anos, o governo expandiu o crédito subsidiado, com baixas taxas de juros, e o resultado não foi maior crescimento.
Além disso, a ausência de crise nas contas externas nos últimos 15 anos mostra que algo melhorou desde a adoção do câmbio flutuante. Até então, o governo fixava o câmbio e eram recorrentes as crises externas.
Existem duas principais formas de o governo desvalorizar o câmbio. A primeira é aumentar a poupança pública. Em tempos de crise fiscal, essa agenda teria a vantagem adicional de contribuir para a queda da taxa de juros.
A segunda é intervir diretamente no mercado de câmbio. Aqui começa a controvérsia. Essa política pode aumentar um pouco a taxa de crescimento desde que resulte em aumento da taxa de poupança.
O clássico modelo de Kaldor-Pasinetti descreve o mecanismo. A desvalorização cambial resulta em maior inflação. Caso os salários não sejam reajustados, a renda real dos trabalhadores cai para benefício dos lucros dos capitalistas (a denominação revela a velhice do modelo). Como os capitalistas poupam mais do que os trabalhadores, o resultado é o aumento da taxa de crescimento.
Alguns assessores de candidatos à Presidência defendem a necessidade de desvalorização cambial. Eles deveriam ser mais precisos sobre os instrumentos a serem utilizados, os resultados esperados e as evidências que suportam as suas conclusões.
O ajuste fiscal para estabilizar a dívida pública, que adicionalmente desvaloriza o câmbio, tem o apoio de economistas ortodoxos e alguns heterodoxos. Resta explicar a receita do ajuste, as medidas a serem adotadas, sobretudo para previdência, e mostrar que a conta fecha.
O mesmo apoio não ocorre com a intervenção no mercado de câmbio, cujo duvidoso e modesto sucesso depende do aumento da inflação, da redução do poder de compra dos salários e de muitas outras condições. Não parece a melhor estratégia.
Fica a dúvida: por que não começar por enfrentar os problemas que prejudicam o ambiente de negócios e que dificultam desnecessariamente a vida de nossas empresas?
Marcos Lisboa
Doutor em economia, foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda (2003 a 2005). Preside o Insper.
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