segunda-feira, março 05, 2018

O cliente é a alma do negócio - MARCIA DESSEN

FOLHA DE SP - 05/03

Dizem que propaganda é a alma do negócios; não sei não... nós, consumidores, mandamos no jogo


Já reparou na quantidade gigantesca de propaganda que nos bombardeia todo santo dia? Os especialistas em marketing acreditam que a propaganda é a alma do negócio, e, se assim é, nada melhor que uma bela campanha publicitária para influenciar o mercado consumidor e alavancar as vendas.

Quando o assunto é produto, o nome, a embalagem, a exibição nas gôndolas dos supermercados, tudo conta, para influenciar nossa decisão de compra. Muitas vezes compramos coisas de que não precisamos só porque a embalagem é bonitinha, ou porque está na prateleira bem na sua frente, onde seu olhar alcança com facilidade.

Quando o que se vende é um serviço, nos impressionam ao oferecer uma experiência única, a oportunidade de receber um atendimento especial, de nos sentirmos importantes e bem tratados.

Conhece a tática do compre hoje e comece a pagar somente daqui a três meses? E o famigerado pagamento em dez vezes sem juros? Já viu “oferta válida somente neste fim de semana” ser prorrogada inúmeras vezes? Tem também a tática do leve três e pague dois, principalmente quando o produto está perto da data de validade.

Quando o estoque de carros das montadoras está elevado, ofertas sedutoras de seguro, licenciamento e IPVA grátis. Feirão de imóveis com IPTU e condomínio do primeiro ano quitado, outra novidade da crise no mercado imobiliário. Sorteios de carros e viagens incentivam as compras nas principais datas de consumo, como Natal, Dia das Mães, Dia da Criança, Dia dos Namorados.

Aliás, essa invenção de datas comemorativas nada mais é do que mais um truque de marketing para esquentar as vendas e constranger o consumidor. Ai de quem esquecer o presente para o filho ou o namorado ou não tiver dinheiro para comprar!

O alcance da internet e das redes sociais revolucionou ainda mais o conceito de marketing. Os sites de busca sabem onde estamos, tudo o que já pesquisamos, filmes a que assistimos, as músicas preferidas, compras que fizemos, chega a ser assustador.

Privacidade? Coisa do passado.

Marketing é uma ciência. Cursos de graduação, pós-graduação e especialização formam profissionais em conceitos e técnicas com um único objetivo: chegar até nós, consumidores. Há centenas de livros sobre o assunto. As propagandas, cada vez mais agressivas, usam estratégias sedutoras para atrair o consumidor.

O outro prato da balança, o prato do consumidor, praticamente vazio. Que treinamento nós temos para aprender a negociar, tomar decisões assertivas, não cair em tentação ou se deixar seduzir por merchandising barato? Além do Código de Defesa do Consumidor e de alguns sites nos quais é possível buscar proteção contra abusos, reclamar, botar a boca no trombone, o que temos?

Nosso próprio arbítrio, essa é a principal e talvez a única arma a nosso favor. Autoconhecimento, autocontrole, a razão prevalecendo sobre a emoção.

As muitas artimanhas mercadológicas tentam atrair nosso lado emocional, cientes de que temos necessidades não atendidas, frustações que precisam ser compensadas, a sensação de
poder deliciosamente vivenciada quando finalmente conseguimos comprar o que os amigos e vizinhos já tinham.

Consumidor satisfeito e fiel, “fidelizado”, como somos identificados pelos grandes conglomerados, é o coroamento da estratégia de marketing, evidência mais concreta de que alcançaram os objetivos.

Até o governo conta com o aumento do consumo para aquecer a economia, adotando políticas públicas para incentivar o consumo. Nós, consumidores, somos o motor da economia do país.

Já que somos tão importantes, vamos nos apropriar desse valor e aprimorar nossas escolhas. Valorizar cada centavo gasto tomando decisões conscientes, fechando negócio com empresas que reconhecem nossa importância, que nos respeitem com oferta de produtos e serviços de qualidade, com boa relação
custo-benefício.

E, sobretudo, que sejam éticos, ao longo de toda a cadeia produtiva e, especialmente, no relacionamento com seus clientes, cientes de que somos mais importantes do que os produtos e serviços que vendem. O cliente é a alma do negócio!


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