O Estado de S.Paulo - 07/02
Os últimos indicadores de atividade apontam para um desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 mais forte do que o consenso dos analistas está projetando e será justamente no terceiro trimestre, quando as eleições presidenciais estiverem caminhando para seu desfecho, que os brasileiros deverão sentir intensamente o impacto do crescimento mais acelerado da economia.
Nas últimas semanas, economistas do banco UBS, da Santander Asset Management e da consultoria MB Associados, por exemplo, elevaram suas projeções para o crescimento do PIB em 2018 após os dados mais recentes de atividade econômica, como a produção industrial de dezembro, que subiu 2,8% ante novembro, na maior alta desse indicador desde junho de 2013.
O UBS, por exemplo, elevou sua estimativa para expansão do PIB neste ano de 3,1% para 3,3%, a Santander Asset Management espera agora crescimento de 3,8% (ante 3,3% da projeção anterior) e a MB Associados melhorou sua previsão de desempenho do PIB de 2018 de 3,1% para 3,5%.
E uma nova rodada de revisão para cima das projeções do PIB deste ano poderá ocorrer com a divulgação, nesta sexta-feira, das vendas ao varejo de dezembro. Por enquanto, a mediana das estimativas dos analistas consultados na pesquisa Focus, do BC, aponta para uma alta de 2,70% neste ano. Mas certamente essa projeção deverá caminhar para, no mínimo, 3,0%.
Apesar das incertezas que um ano eleitoral traz, especialmente para as decisões de investimentos, são dois os motivos que alimentam essa melhora das projeções de crescimento da economia brasileira neste ano.
O primeiro é um efeito simplesmente estatístico: o desempenho mais forte do que o previsto para a economia no último trimestre de 2017 significa que o “carry over” (ou o carrego) para 2018 aumenta, ou seja, ao se terminar 2017 melhor, o ponto de partida da economia neste ano é mais alto. O efeito seria diferente se a atividade tivesse começado o ano mais forte e terminado no último trimestre mais fraca, resultando, estatisticamente, num vetor menos favorável para o desempenho do ano seguinte.
O segundo motivo que deve levar a uma revisão para cima nas projeções do PIB de 2018 é a sensível melhora no sentimento dos agentes econômicos, reflexo do aumento dos índices de confiança e das condições financeiras mais frouxas.
Em janeiro, segundo a FGV, o índice de confiança empresarial subiu para 94,9 pontos, maior nível desde abril de 2014, enquanto o dos consumidores atingiu 88,8 pontos, patamar mais alto desde outubro de 2014. E é esmagadora a aposta de que o BC vai reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual, para 6,75%, ao fim da reunião do Copom hoje.
A condenação unânime do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região poderá dar um impulso adicional à atividade econômica. Isso porque ao tornar o petista inelegível, a incerteza de investidores e empresários sobre o desfecho das eleições presidenciais não deve mais se arrastar até o 3.º trimestre. Ou seja, o “fator Lula” pode pesar menos sobre as incertezas da eleição. Com isso, as decisões de investimentos e, por tabela, o impulso ao crescimento, poderão acontecer mais cedo no ano.
A projeção de maior crescimento em 2018 deve desempenhar um papel relevante no desfecho da eleição, porém, ainda não na definição de candidaturas, especialmente aquelas que representam a continuidade da atual política econômica tocada pelo governo Michel Temer, uma vez que os efeitos mais fortes de atividade acelerada não devem ser sentidos até meados do ano. Mas a partir de julho, quando o impacto de melhores indicadores de emprego, de produção industrial, entre outros, começar a ser sentido, até refletindo integralmente na atividade o ciclo de corte de juros pelo BC, a economia deverá ser um cabo eleitoral precioso para o candidato de centro ou da atual base de apoio do governo.
A inflação, que poderia ser um grande vilão caso a economia voltasse a crescer de forma mais acelerada, não dá sinais de que sairá do controle. Afinal, mesmo que o PIB cresça mais forte do que o esperado neste ano, essa recuperação ainda é insuficiente para compensar o estrago causado pela recessão de 2015 e 2016.
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