GAZETA DO POVO - PR - 07/02
Rodrigo Maia e seus colegas deputados precisam pensar menos em suas ambições eleitorais e mais nas reais necessidades do país
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao mesmo tempo em que dá repetidas declarações de apoio à reforma da Previdência, também dá mostras de que deseja tirar o corpo fora, antevendo a possibilidade de que não haja os 308 votos necessários para a aprovação da emenda constitucional que implanta as mudanças nas regras de aposentadoria. Informações de bastidores publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo indicavam que Maia poderia até engavetar o texto. Em resposta, durante a abertura dos trabalhos legislativos, ele prometeu manter o cronograma definido no ano passado – mas o mais provável, agora, é que o dia 19, a data inicialmente prevista para a votação, acabe se tornando o dia do início das discussões.
Segundo a Folha, Maia teria se irritado com uma frase do presidente da República, Michel Temer: “Eu fiz a minha parte nas reformas e na Previdência. Agora é preciso convencer o povo, porque o Congresso sempre ecoa a vontade popular”, disse Temer ao jornal O Estado de S.Paulo. Não há como não dar razão ao presidente neste aspecto. O governo já teve o grande mérito de colocar o tema em discussão, quando gestões anteriores ignoraram a bomba-relógio da Previdência ou fizeram alterações de menor impacto fiscal. A proposta inicial era bastante dura, mas continha alguma gordura que permitia concessões durante as negociações com o Congresso e era mais “igualitária” no sentido de atacar também os privilégios do funcionalismo público, que passaria a ter regras iguais ou bastante semelhantes às dos trabalhadores da iniciativa privada.
O que Rodrigo Maia deseja é não ficar com o rótulo de mau articulador
E o que o Congresso fez? Desidratou a reforma, de modo que o propósito inicial de eliminar privilégios ficou bastante prejudicado – as categorias que souberam gritar mais alto tiveram suas regras mantidas, enquanto o trabalhador que recebe pelo INSS, a grande maioria que não tem bancada dedicada na Câmara, continua chamado a fazer o sacrifício. E, mesmo depois de tantas concessões, ainda assim os deputados, inclusive os da base aliada, relutam em dar seu apoio. O relator da reforma, deputado Arthur Maia (PPS-BA), desabafou em uma entrevista, afirmando que seus colegas estão “se lixando para o país” e só querem saber da eleição de outubro. Os próprios líderes partidários, diz o relator, já fogem do tema alegando que, como haverá troca de liderança neste ano, seria melhor deixar para comentar o assunto com seus sucessores.
Apesar de ser a Câmara a empacar a aprovação da reforma da Previdência, Rodrigo Maia quer jogar a culpa de um eventual fracasso nas costas de Michel Temer alegando que o presidente queimou seu capital político tentando escapar das denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República. De fato, o “furacão Joesley” mudou completamente o foco em Brasília, em um momento no qual o governo parecia capaz de aprovar com facilidade mesmo reformas vistas como impopulares. Mas isso não é argumento suficiente para isentar o Legislativo da maior parte da culpa caso a reforma não seja votada ou naufrague no plenário da Câmara. O que Rodrigo Maia deseja é não ficar com o rótulo de mau articulador, neste momento em que o presidente da Câmara ainda flerta com uma candidatura ao Planalto em outubro.
Que deputados em geral, e o presidente da Câmara em particular, estejam mais preocupados com suas pretensões eleitorais que com as reais necessidades do país é muito mau sinal. A situação da Previdência, que hoje já é a maior rubrica do orçamento federal, é catastrófica, com déficits bilionários em sequência. A reforma, ainda que já tenha ficado longe da ideal após tantas alterações, pode atenuar o estrago e abrir espaço para novas mudanças no futuro, especialmente aquelas que desafiem as pressões corporativistas de setores do funcionalismo público. Os deputados precisam estar conscientes de sua responsabilidade neste momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário