Quando um grupo de multimilionários lançou o Renova Brasil, no mês passado, a reação entre os melhores analistas foi cética.
De fato, há bons motivos para desconfiar do porvir eleitoral de um "fundo cívico para a renovação política" porque as condições atuais privilegiam o velho em detrimento do novo: o fundo partidário, o tempo de televisão, o uso da máquina pública, o instituto do foro privilegiado e a força das dinastias movidas a patronagem familiar.
Renovar a política demandará mais do que a oferta de bolsas, treinamento e assessoria que o Renova Brasil promete aos pré-candidatos comprometidos com a pauta mínima de quem paga a conta.
Seria um equívoco, no entanto, descartar o Renova Brasil de antemão. Os dois motivos imediatos são óbvios.
Nenhum outro grupo possui as mesmas condições para testar o uso de inteligência artificial aplicada às redes sociais, metodologia que permitiu ao En Marche de Emmanuel Macron rebater a estratégia online de Marine Le Pen. E nenhuma outra confederação de interesses tem na manga uma possível candidatura de Luciano Huck, que consegue ao mesmo tempo ser jovem, livre de denúncias de corrupção, credor da confiança do mercado e capaz de gerar mídia espontânea e uma coalizão no centro do espectro ideológico.
O terceiro motivo é menos conhecido. Renova Brasil, ao oferecer proteção e projeção a uma nova geração de políticos brasileiros, pode causar uma fissura no fisiologismo tradicional que até hoje sustenta o presidencialismo de coalizão da Nova República: o conluio entre Executivo e Legislativo para lotear o Estado e vender leis em troca de financiamento de campanha, muitas vezes com a anuência do Judiciário e das instituições de controle.
Como? A referência aqui não é Macron, mas Mauricio Macri. Uma década antes de chegar à Casa Rosada, Macri entendeu ser impossível governar a Argentina sem uma azeitada rede de clientelismo. Trabalhou com afinco para construí-la, oferecendo ao conjunto de jovens pré-candidatos um clube de facilidades que ninguém no peronismo oferecia.
No processo, além de captar sangue novo, atraiu uma clientela poderosa de raposas velhas que já estavam sedentas por uma alternativa ao kirchnerismo desgastado. Macri montou uma máquina paralela e, quando pôs o time em campo, bateu de frente contra quem comandava o antigo esquema.
Se é isso que o Renova Brasil fará é impossível prever. Mas a demanda social por renovação existe e, depois da Lava Jato, os velhos esquemas clientelistas de PT, DEM, PMDB e PSDB têm pernas bambas. O jogo da renovação começa em 2018 e não tem data para acabar.
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