Tem que ter cautela, até porque o desastre foi muito grande. As consequências estão todas por aí e o País vai demorar para ter uma recuperação plena. A baixa inflação é o sinalizador positivo do ambiente atual e o emprego formal melhora pontualmente. A redução das taxas de juros e o aumento da oferta de crédito são quase imperceptíveis para os consumidores e as homeopáticas correções salariais vão determinar pequena variação real da massa salarial.
Mas alguns sinais vitais começam a mostrar perspectivas mais animadoras à frente, puxadas pela tendência de recuperação da confiança do consumidor e de setores empresariais, além do aumento do Investimento Direto Externo (IDE), sinalizando uma visão mais positiva também de fora do país. Em especial, pelo sentimento coletivo - ou quase coletivo -, de que parou de piorar e, em algumas áreas, já se nota movimento de retomada com melhorias de desempenho de diversos setores do varejo, do mercado imobiliário e de serviços.
Diferente do que foi planejado pelas autoridades, o consumo está puxando a retomada, favorecido também pelas ações envolvendo FGTS e, agora, PIS-PASEP, e não pelo investimento, como foi previsto.
Há um clima mais favorável no setor empresarial com a evolução positiva da aprovação da Modernização Trabalhista, menos do que uma reforma, mas na direção correta e com avanços importantes. Mas é uma pálida, ainda que fundamental movimentação no caminho certo.
Não se pode transigir com a necessária reforma previdenciária, especialmente no setor público. O básico desse tema seria a equiparação plena entre a previdência dos setores privado e público que, por si só, resolveria em grande parte o problema existente.
É preciso conquistar a confiança e ela só virá com resultados tangíveis e com uma visão planejada de futuro. Nossa maior carência, neste momento. Uma visão clara, inspiradora e factível de futuro que possa alinhar as expectativas de toda a sociedade.
Pois, se tem algo para o qual a recente e dramática crise serviu, foi para mostrar que as questões do País não podem e não devem ser delegadas apenas ao governo, por mais que ele possa representar a realidade e a sociedade com todas as suas particularidades.
No processo de curto prazo para viabilizar essa retomada não podemos perder de vista que não se pode delegar o indelegável e que cabe ao setor empresarial estruturar-se e manter-se atento às questões que dizem respeito ao País em sua componente mais estratégica.
De volta para o futuro significa retomar projetos, sonhos, visões e oportunidades sem se deixar envolver pelos messianismos de soluções mágicas ao sabor do acaso no curto prazo. Quem tem um mínimo de bom senso e responsabilidade com a visão mais ampla de cenários deve refletir e agir para que esse recomeço aconteça num outro contexto e realidade.
Há muito mais a fazer do que se colocar na corrente dos inebriados pelos primeiros sinais positivos. E que merecem ser aplaudidos. Mais importante agora é ir fundo para discutir, buscar caminhos e, principalmente, agir para estruturar um projeto de futuro. Pois, se no campo político, oprimido pela transitoriedade institucional, pouco ou nada é possível pensar em termos de longo prazo, no setor privado é obrigação debruçar-se sobre um projeto estratégico e de futuro para o país. Ou começaremos a lamentar a próxima crise que virá.
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