Em meio a uma crise sem precedentes e com o desafio de restabelecer o equilíbrio das contas públicas, os agentes do governo federal recorreram, pela primeira vez, ao método mais básico e elementar conhecido: limitar os gastos, uma medida simples, óbvia e muito salutar para a boa gestão das finanças pessoais, empresariais e públicas.
O limite impõe o exercício da escolha. Como não há recursos suficientes para investir em todas as áreas e setores da economia, é preciso priorizar, escolher o que será feito primeiro e o que fica para depois.
Para investir em educação, será preciso reduzir ou adiar investimentos em infraestrutura, por exemplo. Para investir em saúde, talvez seja preciso cortar gastos na segurança, outro setor também carente de investimento. A cada escolha uma renúncia será feita.
Sem um limite, é muito fácil gastar mais do que podemos, afinal, tudo é importante. Sem limite, não haverá responsabilidade na gestão dos recursos públicos. Um benefício de curto prazo para alguns pode representar um problema no médio prazo para todos.
Um dos grandes benefícios dessa medida é a transparência com que as decisões serão tomadas e tornadas públicas, de conhecimento de toda a população. Os partidos e os deputados terão de revelar os setores que consideram prioritários para receber os investimentos.
Assim, saberemos como pensam e agem os deputados e os senadores eleitos pelo povo e que interesses representam.
Será que a solução adotada pelo governo pode ser replicada por nós, cidadãos? Com certeza.
José não consegue interromper um círculo vicioso no qual se deixou enredar. Ele não encontra uma saída e, sem mudar seu padrão de comportamento de consumo, agrava mês a mês sua já complicada situação financeira.
Como tardou em enfrentar e corrigir o problema, encontra-se agora em um beco sem saída. Com dinheiro finito, limitado ao salário já parcialmente comprometido com empréstimos consignados, não consegue pagar por tudo o que a família precisa e deseja.
Pedir empréstimo? Impossível, está sem crédito na praça. Os atrasos, antes tolerados pelos credores, se transformaram em inadimplência, falta de pagamento. Assim, suas linhas de crédito foram cortadas.
José tem uma única saída: limitar os gastos, como fez o governo, e cortar, reduzir despesas. Vai fazer o que nunca foi feito antes, listar as prioridades, avaliar a importância e urgência de cada uma, e escolher.
Escolher significa abrir mão de alguma coisa em detrimento de outra. No processo de escolha, uma coisa será definida como mais importante ou urgente do que outra. Equivale a dizer que o projeto que foi adiado ou excluído é menos importante e pode esperar.
Escolher não será uma tarefa simples. A cada escolha prestes a ser feita pense no que está sendo rejeitado e em alternativas para atenuar esse corte.
Decidir pela compra e manutenção de um carro pode significar deixar de investir na educação do filho que não foi matriculado em uma escola particular de qualidade. Será que vale a pena? A despesa exagerada com o celular equivale ao custo de plano de saúde com melhor cobertura para a família. Qual o significado e impacto de cada projeto?
Como a decisão afeta a família inteira, é importante que todos sejam envolvidos no processo de
escolha. Um aprendizado muito valioso para as crianças e os adolescentes que talvez só valorizem o mecanismo mais tarde, quando forem responsáveis pela gestão de seu próprio orçamento.
Certamente se lembrarão das lições aprendidas com os pais. Educação financeira começa em casa. E o bom exemplo, apesar dos sacrifícios, é a melhor lição.
Quando a crise for superada, mantenha a sábia decisão de limitar os gastos e inicie a formação de uma reserva financeira, necessária para atravessar novos períodos de instabilidade e incerteza.
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