Três tipos de reações do público podem ser percebidas cada vez que o presidente Michel Temer participa de alguma cerimônia em local aberto, como ocorreu na inauguração dos Jogos Olímpicos do Rio, quando ele ainda era interino, e como voltou a ocorrer no desfile da Independência, em Brasília, e na abertura dos Jogos Paraolímpicos, no Rio, ambos na última quinta-feira. A primeira e mais contundente dessas reações é a vaia, manifestada por parte das pessoas inconformadas com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e convencidas de que o atual governo é ilegítimo. Os aplausos e os gritos de apoio ao atual chefe da nação aparecem como resposta ao apupo, protagonizados predominantemente por integrantes do governo e por pessoas que rejeitam o Partido dos Trabalhadores. Mas parte expressiva do público, tanto nas raras aparições do presidente quanto na assistência desses episódios pela mídia, permanece em silêncio, observando o embate político-ideológico pelo poder.
Os silenciosos, que provavelmente são a maioria, aguardam as consequências da troca de governo para se manifestar. Os brasileiros inconformados com a corrupção e com a crise econômica acompanham com ansiedade e interesse a movimentação dos políticos, esperando por medidas que permitam a retomada das atividades econômicas e estanquem a onda de desemprego. Mais: exigem também que políticos, empresários, servidores públicos e outras pessoas comprovadamente envolvidas em malfeitorias sejam exemplarmente punidos, tanto no âmbito da Operação Lava-Jato quanto de outras investigações em andamento.
A maioria até pode estar quieta, mas não está conformada com o país degradado pela última administração e ainda não consertado pela atual. Pelo contrário, os brasileiros mais conscientes estão preocupados com a manutenção de práticas políticas reconhecidamente perniciosas, tais como o apadrinhamento político, a troca de cargos públicos por apoio e o descontrole de gastos. Também estão apreensivos com a violência de algumas manifestações, que deturpam o verdadeiro sentido de uma democracia que deve, sim, ter espaço para vaias e aplausos, mas sem ignorar a eloquência dos silenciosos.
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